23 cidades goianas estão sem polícia

Metade dos municípios de Goiás possui até dez policiais militares lotados. Desses, 23 não tem nenhum. Já 58,8% das cidades goianas possuem uma proporção de habitantes por PM acima da média estadual. O número de policiais no Estado não é dividido proporcionalmente ao tamanho das cidades. A Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) defende que outros fatores estratégicos como as estatísticas e as manchas criminais devem ser levados em conta, mas reconhece necessidade de aumento de investimento.

Esses dados foram levantados a partir da relação de distribuição do efetivo da Polícia Militar de Goiás (PM-GO) referente ao mês de junho, repassada pelo Centros de Apoio Operacional (CAO) Criminal do Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO) ao qual O POPULAR teve acesso com exclusividade e de levantamento feito pela equipe de reportagem durante os últimos dois meses.

Todas as cidades sem PM possuem menos de 10 mil habitantes. Em alguns casos, as prefeituras desses locais acabam retirando recursos do próprio caixa para ter policiamento em alguns dias das semanas, através do pagamento de hora extra para batalhões de cidades vizinhas. Caso de Edealina, no Sul do Estado, que só tem uma viatura fixa entre sexta e domingo.

O efetivo ativo de Goiás atualmente é de 13,7 mil. Isso representa um policial para cada 471 habitantes. No entanto, está incluído nesse número a parcela de policiais que não estão nas ruas e trabalham em serviço administrativo. Dos 247 municípios goianos, 58% estão com a proporção de moradores por PM acima dessa média estadual.

Entre as cidades com mais de 100 mil habitantes, Anápolis, a terceira mais populosa de Goiás, é a que mais foge da proporção média. São 1,3 mil pessoas por policial. Já Nerópolis, na região metropolitana de Goiânia, possui mais de 3 mil habitantes por PM, média mais alta entre todos os municípios. Em ambas, as prefeituras possuem convênio para pagar horas extras e melhorar o contingente.

Dos 13 municípios que tiveram furto ou roubo com explosão de caixas eletrônicos neste ano, nove tem mais de 471 habitantes por policial, a média do Estado. Oito deles possuem menos de 100 policiais e menos de 100 mil habitantes. Um deles foi Edealina, a cidade com nenhum policial militar.

A capital possui uma proporção alta de policiais, um para cada 265 habitantes. Outros 17 municípios estão em melhor situação.

Das 49 cidades goianas que compõem a região integrada de desenvolvimento do Distrito Federal, 23 apresentam uma proporção entre policial e habitantes melhor que a média estadual e outras 22, pior. Em um caso, não há nenhum policial lotado. Em 3, O POPULAR não conseguiu levantar o número.

Ponto de vista

O coordenador do CAO Criminal do MP-GO, promotor Luciano Miranda, relata que os municípios com poucos policiais ficam sem policiamento em momentos de ocorrência, quando precisam levar algum preso em flagrante para uma delegacia, por exemplo. “Existem casos de dois policiais para tomar conta da cidade inteira. Se esses dois policiais tiverem que levar alguém na delegacia, têm que viajar 100 a 200 km e, enquanto isso, a cidade fica sem nenhum PM”, conta.

A relação da distribuição do efetivo da PM-GO será utilizada para que promotores possam cobrar melhorias do Estado, segundo Miranda. “Esses dados alimentam as promotorias de Justiça para que eles invistam a ações civis públicas que entenderem cabíveis, buscar a preocupação de um termo de ajustamento de conduta”, diz.

O titular da SSP-GO, Irapuan Costa Júnior, aponta dois pontos para a existência de cidades sem PM fixo: o custo de construir unidade física para aquartelar esses policiais e a necessidade de maior efetivo no Estado. Uma nova turma de cerca de 2 mil soldados de terceira classe deve se formar entre novembro e dezembro deste ano. É previsto um novo concurso de 2,5 mil vagas ainda em 2018.

Em maio, representantes da Polícia Civil e Militar questionaram reportagem do POPULAR que mostrava que o efetivo policial de Ipameri era abaixo da média do Estado. A cidade havia sofrido uma noite de vários assaltos com uso de explosivos e reféns. Na época, o superintendente da Polícia Judiciária, André Cortêz, defendeu que a distribuição de efetivo policial não é feita a partir de uma “conta matemática simples” e sim com o cruzamento de informações estatísticas sobre a criminalidade.

Divergências

A ausência de policiais militares em algumas cidades é criticada por especialistas ouvidos pelo POPULAR, mas há quem defenda que uma cidade sem policial não está necessariamente desprotegida. “Às vezes é inviável colocar uma estrutura policial numa determinada cidade, então a base fica em uma para atender às vizinhas”, disse Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz. Ele frisa que é importante, nestes casos, que a PM faça um trabalho de prevenção nas cidades sem efetivos fixos.

Já para o conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Elisandro Lotin, não tem como uma cidade ficar protegida sem policial. “Como faz a prevenção nestas cidades?” Ele diz que estas cidades estão mais propensas a crimes como assaltos a banco. (O Popular)

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