Acessibilidade ainda é obstáculo a ser superado por pessoas com deficiência

Apesar das leis que garantem espaços acessíveis nas áreas urbanas, faltam políticas públicas e iniciativas que assegurem segurança a quem tem necessidades especiais

Felipe Homsi

Sempre que se fala que a lei é para todos, é preciso lembrar que a legislação precisa ser eficiente na prática, e não só no papel. Pessoas com deficiência em Anápolis têm a lei a seu favor, mas não observam seu cumprimento em todos os lugares. O Plano Diretor, que trouxe uma verdadeira evolução para o planejamento urbano na cidade, foi aprovado em 2016. A garantia de acessibilidade no transporte público, ciclovias, vias públicas, calçadas e até mesmo obrigações para empresas e o setor público estão incluídos no texto.

Não é bem assim que Marina Alves Garcia Monteiro, 37, se sente. Auxiliar administrativa, todos os dias ela usa o transporte coletivo para ir do trabalho para casa e vice-versa. Ela possui deficiência visual nos dois olhos. Ao aproximar o olho a 5 cm de um objeto, consegue ler o que está escrito. Mesmo assim, aparelhos celulares, eletroeletrônicos, placas e demais objetos precisam ser adaptados à sua realidade.

Ela detalha as principais dificuldades por quais passa ao se locomover: “a questão das travessias de ruas, ao meu ver. As pessoas não têm educação suficiente para isso. Você está na faixa, a pessoa faz de conta que não te viu. Você está com bengala e elas não respeitam. Muitas vezes eu preciso do auxílio de uma outra pessoa para atravessar, mesmo estando na faixa”, explica. Ao caminhar pelas ruas de Anápolis, a falta de confiança em motoristas é um fator que pesa para a acessibilidade.

Marina Alves teve dificuldades para atravessar de um lado a outro da Avenida Universitária, mas levou a situação com bom humor: dificuldade em saber quando os condutores vão parar na faixa

“Não confio. Tem gente que buzina e grita: ‘ô, moça, passa logo’”, evidenciou. Apesar de nunca ter sofrido um acidente, ela afirma que já perdeu ônibus porque o motorista não quis parar. Ela, que se considera bem informada e consegue se adaptar à falta de estrutura, acredita que o transporte coletivo na cidade não está preparado para atender às pessoas com deficiência.

Falta

Aliada a este cenário, está a falta de pisos tácteis, ausência de sinais sonoros, sinais em braile em empresas e órgãos públicos, semáforos em faixas de pedestres e demais obstáculos que fariam uma grande diferença na vida de quem tem na acessibilidade a esperança de mais qualidade de vida.

Nas empresas, faltam postos de trabalho específicos para pessoas com deficiências. Quando oferecem este tipo de vaga, muitas acabam privilegiando pessoas que não possuem deficiências severas e excluem uma parcela considerável dos que enviam currículos. Marina é formada em Ciências Políticas e cursa Pedagogia. Ela optou por não receber do governo o Benefício de Prestação Continuada a que tem direito pessoas com deficiência. Ela prefere trabalhar: “Eu não sou incapaz. Eu tenho uma limitação, o resto todo funciona, a minha cabeça, os meus ouvidos, as minhas pernas, graças a Deus, as minhas mãos”.

Ela defende que as políticas públicas para pessoas com deficiência sejam ampliadas. A reportagem de A Voz de Anápolis acompanhou a travessia de Marina Alves em uma rua movimentada da cidade. Vários carros não pararam antes da faixa para que ela pudesse atravessar. Foi preciso esperar um tempo considerável até que o primeiro grupo de motoristas decidisse parar para que ela passasse para o outro lado.

Obstáculos

Dandário Rodrigues Queiroz Filho, 40, é Presidente da Associação dos Deficientes de Anápolis. Ele é tetraplégico, condição que motivou sua luta para lutar por pessoas com deficiência na cidade. “O Município de Anápolis tem melhorado na acessibilidade. Trata-se de um problema global. As pessoas só se preocupam depois que a questão atinge elas ou sua família”, elucidou.

“A maior dificuldade é sem dúvida o acesso”, continuou Dandário Rodrigues. Conforme especificou, o município tem promovido melhorias em matéria de acessibilidade: “o Prefeito atual humanizou esse atendimento. Vejo que o Município deu um grande salto nessa gestão. Já os estabelecimentos particulares não têm respeitado as pessoas com deficiência. Medidas severas deverão ser tomadas nos próximos dias”.

Presidente da Associação dos Deficientes de Anápolis, Dandário Rodrigues sente na pele as dificuldades da falta de acessibilidade

Apesar do cenário de melhorias, ele ainda acredita que os obstáculos são grandes para quem sofre com a falta de acessibilidade. “A avaliação é de muita preocupação, pois o nosso povo tem sofrido com o básico”, ressalta ainda.

Dandário Rodrigues, presidente da ADA, reclama ainda da falta de conscientização da população: “minha maior dificuldade é a falta de humanidade e respeito. Entendo que a educação e desrespeito para com os deficientes é precária e a acessibilidade é por demais deficitária”.

Por meio do seu advogado, Lucas Amorim, a ADA informou que as ações contra empresas e instituições que desrespeitarem o direito de pessoas com deficiência serão severas. “Foi criada até uma comissão de fiscalização dentro da ADA. Serão propostas ações civis públicas obrigando os estabelecimentos a se adequarem e ações indenizatórias responsabilizando os estabelecimentos pelas práticas desrespeitosas. O dinheiro deverá ser revertido para programas de ajuda na associação”, informou ainda o advogado.

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