Alex Martins: “Precisamos encontrar formas para promover acolhimento aos alunos que estão fora da rede”

Felipe Homsi e Paulo Roberto Belém

Ex-diretor do CMTT em Anápolis de 2013 a 2016, nas gestões Gomide e João Gomes, Alex Martins foi candidato pelo PTB à Câmara de Anápolis. Com a vitória de Roberto Naves, do mesmo partido, foi convidado para assumir a Educação na cidade. Entre os principais desafios que ele mesmo elenca está suprir a demanda de quase 4,5 mil crianças que não encontram vaga na rede municipal e a necessidade de reformar várias unidades. “Os municípios vão ter que ser criativos para criar novas alternativas para aquelas crianças não assistidas”, destaca.

A Voz de Anápolis – Sua história política esteve mais ligada ao Trânsito, mas você tem uma ligação com a UEG e com Educação. Neste ponto o convite para a Secretaria veio a calhar?

Alex Martins – Todos temos nossos papeis. Quando eu fui convidado para ir para a Companhia de Trânsito, havia tido uma experiência antecedente de 5 anos como examinador de trânsito pela Universidade Estadual de Goiás. Eu tive uma experiência de cinco anos na universidade. E isso nos fortaleceu naquele momento de vir fazer um trabalho de trânsito na companhia e foi um trabalho enriquecedor, porque eu fiquei um tempo considerável. E, aliado a isso, existia uma preocupação da gestão em fazer um processo educacional, entendendo que tínhamos que trazer, além da formação para obtenção da CNH, uma formação também. Sabendo que trânsito não é são somente a pessoa que dirige. São tantos cenários, que é necessário fazer um trabalho educativo. Quando adotamos o Amiguinho do Trânsito, conseguimos reduzir neste período mais de 30% do número de mortes no trânsito. Por quê? É porque nós conseguimos colocar uma criança cobrando do pai.

AVA – E isto você está trazendo para a Educação?

AM – Isto sempre vai ser um processo educacional. Na Educação são, em números redondos – 35 mil crianças atendidas. O resultado do processo educacional depende da associação de valores. O trabalho em sala de aula envolve o conhecimento, a dedicação e o amor que estes profissionais têm. Mas o que faz o processo educacional dar certo é o envolvimento da família. Se nós conseguimos atingir as famílias, temos uma resposta significativa.

AVA – Seria uma inversão?

AM – Na verdade, quem educa é a família. A escola vem com um papel de agregar valor neste processo, para ele ser perene, contínuo. Tentamos resgatar estes valores, da cidadania, comportamento, respeito à pátria.

AVA – A proposta dos “vouchers”, mencionada na última semana, não é uma espécie de terceirização da Educação? Foi um assunto que não passou pelas propostas de campanha, por exemplo.

AM – Isso não é terceirizar. Esta é a forma de encontrar o melhor acolhimento. Realizamos esta semana uma reunião com 10 secretários de Educação das maiores cidades do Estado, tentando buscar alternativas para fazer o melhor acolhimento. Temos muitas crianças que não estão sendo assistidas e os municípios tem de criar práticas, não precisam mudar nada, mas criar alternativas eficazes e soluções palpáveis, customizando práticas de sucesso. Esta foi uma proposta lançada – nem pode ser considerada uma proposta lançada – mas sim discussões que vão sendo feitas. Existem vários modelos. Independentemente de partidos, de gestões, existem vários modelos, em uma tentativa de trazer este acolhimento. Primeiro: é um acolhimento melhor, é um acolhimento em que ele pode ter a oportunidade inclusive de ter uma alimentação que lá fora ela não teria.

AVA – E quando isso será levado ao debate público?

AM – Isso está sendo discutido entre todos os municípios. Para se ter uma ideia, existe uma rede no Estado que está discutindo soluções. Estão sendo apresentadas soluções. Não tem nada sendo definido.

AVA – O valor que foi mencionado pelo vice-prefeito como um valor médio do voucher de R$ 400 por aluno inclui o que? Inclui custo de professores, por exemplo?

AM – Todos os valores ainda vão ser colhidos. A própria Secretaria Estadual de Educação tem outro valor que é superior a isto. Então, estes valores estão sendo trabalhados porque é preciso fazer um relacionamento direto com tudo aquilo que depende para a aprendizagem. Estamos falando de transporte, material humano, material didático, localização, condições prediais. Então todos estes valores não são fechados. Eles também estão sendo trabalhados para se chegar a isto.

AVA – Qual o custo médio do aluno hoje para a secretaria? Foi falado, por exemplo, num custo de R$ 2 mil por aluno.

AM – Este é um valor da Secretaria Estadual de Educação. Ela fez um levantamento nos 10 municípios em relação a 2016. Foi feito uma pesquisa e conseguiu apresentar este valor, que é um valor caro.

AVA – O sistema de voucher que é trabalhado como alternativa como você disse, ele não enfraqueceria o sistema público como é usado hoje?

AM – De forma alguma. Porque nós estamos falando em permanecer a estrutura como está, mas criar mecanismos para aquelas crianças que ainda não foram assistidas. O que está enfraquecido hoje é o pai da criança que não sabe onde colocar a criança para estudar porque não tem lugar. É a impossibilidade de procurar um emprego e aumentar a renda da família porque não tem onde deixar os filhos. Ou seja: estamos preocupados com a criança, mas ao fazer isto criamos uma alternativa para que seus responsáveis criem formas de renda.

Existe um limite prudencial de contratação de funcionários, isso tem que ser respeitado. A Lei de Responsabilidade Fiscal cobra um limite de gastos. Os municípios vão ter que ser criativos para criar novas alternativas para aquelas crianças não assistidas. A Secretaria Municipal de Educação mostrou que o déficit de Anápolis é em torno de 4,5 mil crianças, que não foram assistidas. As prefeituras estão precisando criar várias condições para criar este acolhimento.

AVA – Por que os Kits Escolares não estão sendo disponibilizados?

AM – Temos que avaliar isso. No ano passado, não se entregou o kit escolar. Então, a própria gestão, no ano passado, fez a opção de não entregar o kit escolar. O que as secretarias fizeram no início de 2017? Nós demos sequência a tudo o que foi programado de uma gestão anterior. E isto aconteceu com todos os processos. Diante de uma dificuldade financeira – não que esta demanda não seja importante – mas diante de muitas demandas que têm que acontecer, nós optamos por seguir um planejamento da gestão passada, de manter tudo aquilo que foi programado. Nós teremos 2017 para planejar isso.

AVA – Não importa a maneira, então, mas importa a criança ser acolhida?

AM – Acho que o que importa é o acolhimento. É darmos condições para que esta pessoa seja assistida, trabalhe suas potencialidades, forme seu caráter através de uma formação contínua. Não estou retirando a responsabilidade dos nossos profissionais, mas nós precisamos trazer parceiros. Hoje, as conveniadas têm um papel importantíssimo para a comunidade.

AVA – Elas têm a mesma qualidade que os CMEIs?

AM – Tem. É lógico. Por mais que exista um convênio firmado, existe uma padronização das assessorias para não se fugir de um plano, de não se fugir daquilo que foi programado para todos. O que um come o outro está comendo. Não existe frustração. Existe a alegria dos pais em dizer: ‘meu filho foi acolhido’. Pega uma fila de espera e você vai sentir. Eu tenho uma filha de quatro anos. Ela poderia estar estudando na rede, seria uma das maiores alegrias que eu poderia ter. Só que eu tenho condições de pagar uma escola particular. Só que, se eu faço isso, eu estou tirando de quem não tem. Eu queria que minha criança estivesse na rede, para mostrar que eu acredito na rede e para mostrar que eu acredito nos profissionais, que ela estivesse comendo a mesma coisa que as outras estão comendo. Mas eu não posso proporcionar isto para ela, porque hoje eu tenho condições de pagar uma escola para ela.

AVA –2017 é um ano de quê?

AM – Planejar. Planejar para não errar. Construir situações sólidas para que os outros anos sejam vindouros. A educação tem uma função preventiva fantástica. Quando se fala em educação, se fala em diminuição da violência, diminuição dos gastos em saúde, cidadania, menos mortes no trânsito. É demorado? Claro que é demorado, é formação.

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