“Anápolis é decisiva e terá espaço na chapa do PMDB para 2018”

Henrique Morgantini

Texto e Fotos

 

O deputado federal Daniel Vilela venceu, há muito, o estigma de filho de um político famoso. A natural desconfiança inicial de que o deputado ocupou um espaço por questões de parentesco deu lugar à imagem de um político moderno, articulado e que vem, em Brasília, abrindo espaços importantes na cena política nacional e, especialmente, dentro do PMDB. A prova maior disto, até agora, foi a ascensão dele à condição de presidente estadual da legenda em Goiás, deixando para trás o ceticismo de quem acreditava que o partido ficaria nas mãos dos velhos caciques. Mas Vilela quer mais: seu objetivo é consolidar este processo de renovação das gerações do PMDB ao lançar um novo nome para o Governo de Goiás em 2018. E, para isto, ele sentencia de que um nome de Anápolis é fundamental para compor o que chama de “arco de alianças”. “A população já enxergou os desgastes do atual governo e quer um novo projeto político e administrativo para o Estado”, aposta.

 

 

A Voz de Anápolis – Como está o clima interno na Câmara Federal diante desta instabilidade política envolvendo, principalmente, a Presidência da República e com um possível pedido de novo impeachment?

Daniel Vilela – Nós estamos sendo surpreendidos todos os dias com novidades. Nós, em 100 dias, tivemos a mudança do presidente da República e do presidente da Câmara. Hoje, o sentimento é de algo totalmente imprevisível quanto ao futuro político do País. Se a gente imaginava que com o impeachment de Dilma o país entraria num outro momento de tranquilidade política e recuperação econômica, não é bem isso que está se consolidando. A economia não reage como todos imaginaram que reagiria e, politicamente, como fato principal vem a Lavajato que traz um futuro imprevisível. Acho que por via de um impeachment não haverá mudanças aqui no Congresso, mas existe a possiblidade real de o TSE pode julgar improcedente as contas de campanha do presidente Temer. Então, é um momento imprevisível, não dá para se fazer um exercício de futurologia.

 

AVA – O que este Governo Temer pode oferecer a Goiás? Este novo cenário político, com novas forças no comando, pode gerar algum protagonismo para o Estado?

DV – Eu acho que politicamente reforça o PMDB estadual em Goiás pelas relações que temos há muito tempo com o presidente Temer. Na ordem administrativa os Estados em geral passam por dificuldades. Principalmente aqueles que não fizeram um planejamento adequado, que não agiram com responsabilidade. Estes estão sofrendo um problema fiscal grave. O presidente está tentando criar alternativas para colaborar com os Estados no sentido coletivo. E assim Goiás está sendo beneficiado. Politicamente, o PMDB de Goiás se fortaleceu: nós temos tido prestígio junto ao presidente. Ele tem feito com que a gente tenha as portas abertas do Governo Federal para que nós possamos resolver os problemas de Goiás, dos goianos, dos municípios. Temos otimismo neste sentido. O problema é que nós queríamos que este fosse um governo que já tivesse voando em uma situação confortável, com apoio político e não tendo a instabilidade trazida pela Lavajato. Queríamos ter um governo com uma reação econômica mais pujante. Porque, sem dúvida alguma, se isto acontecesse, seria – sem dúvida alguma – uma grande ajuda para Goiás pela própria relação que nós temos com ele.

 

AVA – No período pré-eleitoral deste ano houve o impeachment da presidente Dilma, que gerou um trauma ao país, às instituições, aos partidos, mas em especial a duas legendas: o PT e o PMDB, dois aliados antigos. As feridas deste episódio já foram cicatrizadas com as alianças municipais realizadas pelo Brasil?

DV – Eu acho que em nível nacional ainda existe muita mágoa por este processo. Acho que uma parte do PMDB pode ter agido de forma equivocada como ter sido um parceiro de tantos anos, é preciso reconhecer isto. Mas existe outra parte do PMDB que entendeu que havia uma circunstância nacional que naquele momento demandava uma mudança, imaginando que seria a melhor alternativa ao País naquele momento. E é lógico que isso trouxe trauma. Mas em âmbito regional, local, creio que existe ainda uma boa relação. Eu converso com alguns parlamentares e vejo que existe esta boa relação, de confiança e de projetos futuros. É o caso de Goiás, inclusive.

 

AVA – O trauma passou, então?

DV – Não posso dizer que o trauma está superado porque eu não converso ou convivo com todos os integrantes do PT de Goiás, mas tenho uma excepcional relação com o deputado Rubens Otoni, tenho uma excelente relação com o [ex-]prefeito Antônio Gomide, com prefeito João Gomes, com os deputados estaduais do PT. Então temos feito uma série de tratativas com estas lideranças no sentido de ressaltar esta união com vistas ao futuro de Goiás. Para que possamos fazer um projeto de mudanças para o futuro de Goiás. Os quadros do PT de Goiás são valorosos. São pessoas reconhecidamente competentes. Tivemos o Antônio Gomide como prefeito mais bem votado do Brasil quando se candidatou à reeleição. São estes quadros que precisam sempre ser enaltecidos. Todo partido tem gente boa e gente ruim. Eu, particularmente, tenho direcionado as conversações com estes integrantes do PT neste sentido: de reconhecer a competência deles e a importâncias de estarmos juntos para desenvolver um projeto para Goiás.

 

AVA – Qual o projeto principal do PMDB para Goiás e quais os caminhos para isto?

DV – A missão do PMDB é apresentar um projeto alternativo a este modelo que Goiás já demonstra estar saturado, tanto no sentido administrativo quanto político. No âmbito administrativo, estamos percebendo um governo falido, que não consegue sair de suas amarras políticas e seus conchavos. Isto faz com que tenhamos um governo omisso em áreas que precisam ser mais ativas, um governo que não tem mais preocupação com o Estado. Temos um governador que sequer para em Goiás, prefere pegar um avião e ficar viajando pelo Brasil e pelo exterior, com total displicência com a sua responsabilidade de gestor, que prefere ficar terceirizando sua prerrogativa de governador a seus auxiliares. Então nós entendemos que a população já enxergou isto. Agora, entre enxergar e nos escolher, é um caminho muito longo. Precisamos estar aptos e preparados para apresentar um projeto responsável, ousado, moderno em relação a gestão pública em nosso Estado. Um projeto que vá, de fato, estabelecer um novo momento de diferenciação e modernidade em Goiás. E é nisto que o PMDB está trabalhando e é para isto que vamos tentar aglutinar o máximo de forças possíveis porque a gente não faz política sozinho. É preciso criar o maior arco de alianças possível e o PMDB vai atuar neste sentido, numa linha programática que possa atender as necessidades do mundo moderno e do que os goianos precisam e merecem.

 

AVA – Dentro deste cenário de renovação e modernidade, é possível dizer que o deputado Daniel Vilela é o nome ideal para este projeto, ou tem ao menos a disposição de ser este agente de transformação?

DV – O PMDB terá candidato próprio. Isto está decidido. Entendemos que nós somos protagonistas deste debate na política goiana. Tivemos candidatos em todos os pleitos, temos o maior número de prefeitos de oposição, a maior bancada estadual, federal. Tanto que nós temos convicção de que precisamos participar do processo e sabemos que há dentro do partido nomes que podem representar muito bem este projeto. É lógico que me coloco entre eles: seria hipócrita da minha parte dizer que eu não tenho este interesse e toda aquela conversa de político mesmo. Eu estou bastante realizado com o meu trabalho de deputado federal, acho que tenho sido bastante produtivo para Goiás e para o Brasil e vou continuar focado nisso até 2018, quando será o momento do partido se reunir para poder definir o nome do candidato.

 

AVA – Existem outros nomes, além do seu, dentro do PMDB?

DV – Temos diversos nomes com características diferentes, como o prefeito Maguito Vilela, que sai de uma administração positiva em Aparecida, o prefeito Iris Rezende, que tem um perfil de segurança. Temos prefeitos, como Adib Elias, de Catalão, que é uma das figuras mais importantes do partido. Temos os deputados… mas a questão do nome não prioritário. Temos de definir o projeto e só depois ver qual das opções tem mais aderência a este projeto.

 

AVA – As alianças estabelecidas em 2016 em âmbito municipal podem servir de base para serem ampliadas e repetidas em 2018 e criar este chamado “arco de apoio”?

DV – Claro. Eu tenho sempre dito internamente no PMDB que as alianças que fizemos nas eleições estaduais não foram suficientes para nos dar a vitória. Nós tínhamos o melhor candidato – não tenho dúvida de que o Iris era a melhor opção nas duas eleições – só que nós pecamos em relação às alianças. Só que agora precisamos construir um arco mais amplo, inclusive trazendo para este projeto partidos que hoje estão na base do Governo, mas que estão percebendo esta saturação, percebendo o fim deste ciclo, e que querem também participar de um novo projeto, de um novo ciclo político de Goiás. Eu tenho feito conversas como presidente estadual do PMDB com várias lideranças e partidos como PTB, PSD, PR, PP, PTN e vários outros com quem temos costurado este diálogo. Além daqueles com quem já temos uma relação muito próxima, como o Solidariedade, do deputado Lucas Virgílio que tem se mostrado um parceiro muito leal para 2018. Então, este é um fator que o partido precisa trabalhar e não pode errar: criar um arco de alianças.

 

AVA – A sua ascensão à condição de presidente estadual do PMDB foi em parte uma surpresa, mas definitivamente um sinal de mudanças. Foi uma ruptura com uma geração histórica do PMDB. Uma candidatura de alguém nesta nova geração – sendo você ou alguém nesta linha – representaria a consolidação desta renovação?

DV – Eu acho que este foi um processo natural. O partido demonstrou nesta eleição do diretório estadual um desejo de promover uma renovação e isto, naturalmente, vai ser reapresentado nas próximas eleições. Eu não digo que houve uma ruptura porque o partido é feito de jovens, de pessoas experientes e os quase 75% dos votos que tivemos no partido foram dados por pessoas mais velhas, com mais experiência na política e no PMDB. Então não vejo como uma ruptura, mas como um desejo de buscar novas lideranças. E é natural que isto também aconteça. Não aconteceu agora em Goiânia porque a gente imaginava que o melhor candidato era o prefeito Iris. Já para 2018, o partido está se preparando para apresentar um projeto com nomes alternativos e acredito que o mais importante é fazermos esta união das boas experiências do partido junto com as jovens lideranças que também querem dar a sua contribuição. Sempre ressaltando o passado de sucesso que o PMDB tem.

 

AVA – Ao longo dos anos, vem se intensificando o discurso sobre a importância da cidade de Anápolis nas eleições estaduais, tanto na representação política quanto no número de votos…

DV – (interrompendo) Anápolis é decisiva…

 

AVA – Pois é, eu queria que o deputado discorresse sobre isto: como enxerga a cidade na montagem deste projeto do PMDB.

DV – Eu disse anteriormente que uma das correções que o partido precisa fazer é ampliar seu arco de alianças partidárias. Outro ponto também fundamental é fortalecer a força do partido em alguns municípios que são significativos, emblemáticos e que tem representatividade eleitoral no Estado e que o PMDB vem perdendo força. E Anápolis talvez seja o local mais emblemático ao lado do Entorno de Brasília. Anápolis, após a nossa ascensão à presidência, vem recebendo nossa atenção. Eu venho conversando com diversas pessoas de lá, com vários companheiros experientes para tentar encontrar uma forma do partido reagir e voltar a ser o partido forte e querido dos anapolinos. Não tivemos tempo de construir uma boa candidatura nesta eleição, mas tivemos a participação do Eli Rosa, que é um companheiro exemplar, competente, um empresário que não depende da política para sobreviver e, ao lado dele, temos nomes como o Nelson, o Ricardo Nabem… e também compreendemos que a aliança com o PT era o melhor caminho porque percebemos – assim como a população de Anápolis já havia demonstrado isto nas urnas – que era um projeto de sucesso, um projeto que revolucionou a cidade, um projeto que foi muito bem avaliado pela população, um projeto que virou referência para Goiás e para o Brasil. Foi este projeto que estabeleceu quase da noite para o dia uma liderança consolidada para Goiás que é o ex-prefeito Antônio Gomide. Então entendemos que se havia um projeto que deu certo, que estava dando certo com o prefeito João Gomes, não havia porque o PMDB ir contra este projeto, que na nossa opinião estava dando certo. Infelizmente, este não foi o pensamento de uma parte da população, vamos dizer assim, porque tivemos uma quantidade muito grande de abstenção, brancos e nulos, mas houve uma parte que optou por outro caminho. Mas eu sempre digo ao Antônio Gomide, ao Rubens Otoni, que o PMDB quer recuperar o seu prestígio na cidade e nada melhor para isto que construir um projeto junto com eles, que são as pessoas mais indicadas para a gente caminhar e recuperar a força do PMDB.

 

AVA – Quais os próximos passos do PMDB neste momento pós-eleitoral e rumo a esta reconstrução?

DV – Eu conversei muito rapidamente com o Eli Rosa. Nós fizemos uma vereadora que é a Elinner. Acho que é preciso aguardar o início do ano, a formatação do novo governo municipal e ver como será esta relação do PT e do PMDB com o Roberto Naves e, a partir daí, podermos construir o projeto no PMDB. Mas nós estabelecemos como prioridade na cidade de Anápolis em buscar mais pessoas que queiram contribuir e participar do projeto político dentro do PMDB a partir da cidade.

 

AVA – Dentro desta ideia da importância de Anápolis, então, é possível imaginar que a cidade vai ter um espaço na chapa majoritária do PMDB?

DV – Acredito que sim. Acho que é natural e vamos construir neste sentido. E neste sentido, vamos ter duas particularidades: a força do PT e a força de Anápolis. Então isto – sem dúvida alguma – será um contexto que precisará ser bem avaliado. Com toda certeza, havendo a disposição para esta união, Anápolis será contemplada num espaço na chapa.

 

AVA – A eleição de Iris Rezende traz a aproximação de um projeto majoritário para 2018 que destoa um pouco de tudo que você tem abordado nesta entrevista, que é um possível apoio do PMDB a uma candidatura de Ronaldo Caiado. Como lidar com estes cenários conflitantes?

DV – Bom, um fato que é quase unanimidade dentro do partido é que nós teremos candidato próprio. O senador foi, inclusive, convidado a se filiar ao PMDB porque nós entendemos que qualquer viabilidade da candidatura dele depende da força e da estrutura do PMDB. Ele elegeu 10 prefeitos e já tem notícia de que cinco estão caminhando para o PSDB. Então o senador disse de forma enfática que não existe essa possibilidade de se filiar, que pretende continuar no DEM, e ele tem as razões dele. Então, eu creio que a possiblidade que existe é a do DEM apoiar a candidatura do PMDB em 2018, no sentido de reconhecer o projeto do PMDB, no sentido de estar unido para que Goiás possa ter um novo caminho administrativo e político, acho que esta é que tem de ser a decisão do DEM. Não podemos obrigar o apoio de um partido, mas podemos dialogar e esperar esta movimentação, mas agora se ele (Caiado) tiver esta intenção de ser candidato como já muito se aventou, ele terá de fazer o trabalho inverso ao PMDB de buscar um leque de alianças amplo. O PMDB está trabalhando muito e já está avançado na busca por este arco de alianças para 2018.

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