Após 30 anos, Daia continua sendo o distrito mais promissor de Goiás

Conheça a história e a realidade do maior distrito industrial de Goiás que nasceu da audácia de lideranças de Anápolis em meados da década de 1970: área abriga o segundo maior pólo farmoquímico do Brasil e o maior complexo farmacêutico da América Latina

Paulo Roberto Belém

Muita gente não sabe, mas um dos personagens decisivos que lutaram pela idealização e consolidação do Distrito Agroindustrial de Anápolis – o Daia – ainda segue na ativa e, inclusive, trabalha todos os dias na sua tradicional loja de confecções localizada na Barão do Rio Branco. Aos 86 anos de idade, Sultan Falluh contou com raros detalhes a história deste que é o maior e mais importante distrito industrial de Goiás.

Seu Falluh lembra que tudo teve início quando foi nomeado prefeito de Anápolis, em 1973, o engenheiro civil Irapuan da Costa Júnior. Àquela época, ele lembra que a situação de Anápolis era a pior possível. “Ele reorganizou a cidade, primeiro, resolvendo os graves problemas de infraestrutura”, citou. Após ganhar créditos como prefeito, Falluh conta que se aproximava o momento de nomear o novo governador de Goiás e que Irapuan era um dos favoritos ao cargo.

“Ele firmou o compromisso que se caso fosse nomeado governador, iria resolver um dos problemas que nós, lideranças de Anápolis, mais batíamos em cima dele: o de que Anápolis para se desenvolver precisava, imediatamente, se tornar uma cidade industrial”, destacou.

Primeiros passos

Confirmada a nomeação de Irapuan da Costa Júnior como governador, Sultan Falluh foi convidado para ser diretor administrativo dos Distritos Industriais de Goiás. A posse aconteceu em 1975. “Mesmo temeroso, acabei aceitando a missão pelo bem da nossa cidade”, lembrou ele, que frisou contar à época com o apoio da Acia.

Nessa condição, Falluh recebeu carta branca do governador para viabilizar a implantação do Daia em Anápolis. “Fizemos o projeto, e fomos a Brasília buscar recursos do Governo Federal na época do ministro do Planejamento, Reis Veloso”, disse.

Mesmo tendo sido recebido de forma cordial pelo ministro, Falluh percebeu que precisaria de uma força política para conseguir os recursos para a construção do Daia. Foi aí que em novembro de 1975, o então presidente da república Ernesto Geisel, veio a Goiânia para uma inauguração e Falluh disse que quebrou, literalmente, o protocolo quando encontrou o presidente cara a cara. “Eu disse: senhor presidente, o governador de Goiás quer implantar o Distrito Industrial em Anápolis, mas nós não temos recursos. Precisamos da ajuda do Governo federal”. Um desabafo, segundo Falluh, que afirmou ter sido surpreendido com a resposta de Geisel. “Ele perguntou se eu tinha projeto e eu disse: tenho e já levei ao ministro Reis Veloso. Logo em seguida, o presidente me disse: volta lá!”.

Inauguração

“O que vocês estão querendo”. Essa foi a indagação na saudação inicial do ministro Reis Veloso na nova visita de Sultan Falluh à Brasília. “Precisamos de recursos para implantar o Daia – rede de água, esgoto, energia elétrica, asfalto, enfim”, respondeu Falluh ao ministro. Logo em seguida, Veloso disse que o presidente havia se sensibilizado com o pedido, mas que o projeto apresentado estava muito faraônico, contou Falluh. “Levei um novo projeto, mais enxuto, ao ministro, ele gostou e nos foi liberado 83 milhões de cruzados para tirar o Daia do papel”, lembrou.

Após a liberação dos recursos, foi feita a desapropriação de 41 propriedades da área pretendida. O outro passo foi construir a infraestrutura do distrito e assim foi feito e o Distrito Agroindustrial de Anápolis foi inaugurado em 8 de setembro de 1976. Mas em seguida, um novo desafio, conta Falluh. “Para não passar pela Assembleia a efeito de doação, recebi carta branca do governador para vender a 1 cruzeiro o metro quadrado das terras do Daia e assim eu me lembro da primeira empresa que chegou ao distrito: a Cemina, que recentemente foi desativada”, lamentou.

Sonho no passado, Daia se tornou gigante do presente

Atualmente, o Distrito Agroindustrial de Anápolis tem 168 empresas instaladas. Destaque para o pólo farmoquímico – o segundo maior do Brasil – com 20 grandes laboratórios em funcionamento que trouxeram, em cadeia, empresas que suprem o setor, a exemplo daquelas que fabricam embalagens. Além do pólo farmoquímico, o Daia abriga montadora de veículos, indústrias alimentícias, têxteis, de adubos, de materiais para construção, entre outras. Além de possuir um Porto Seco. O Daia também se tornou o marco zero da Ferrovia Norte Sul e sede da Plataforma Logística Multimodal que o Governo tenta consolidar há alguns anos.

O distrito é gerido pela Codego – Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás – antiga Goiasindustrial. O gerente do Daia, Cristiano Elias Dutra, é quem está à frente do dia a dia do distrito. É dele que vem os comandos administrativos e de manutenção do Daia.

“É uma pequena cidade. Administramos problemas da iluminação, da água, esgoto, manutenção das vias secundárias, entre outros, mas o problema do Daia hoje e que todo mundo sabe, é a falta de áreas para instalação de novas empresas”, citou, neste que é o maior distrito do estado de Goiás.

O Daia, inclusive, possui uma estação de captação, tratamento de água e subestação de energia elétrica exclusivas e que atendem as demandas a contento, afirma o gerente. “No caso da água, o excedente produzido atende 43 bairros da região de Anápolis. Em relação à energia, passamos por dificuldades no segundo semestre de 2015, mas a situação foi normalizada”, assegurou. Sobre as expectativas para o Daia em 2017, Cristiano disse que são as melhores possíveis. “Entendo que o Daia ainda é a locomotiva de Anápolis e de Goiás e assim que continuará sendo”, disse.

Empregabilidade

Se o Daia pode ser considerado como uma pequena cidade, nela, existem seus moradores. Neste caso, 20 mil trabalhadores estão diretamente empregados no Daia, povoando-o diariamente. Já de forma rotativa, 60 mil pessoas estão ligadas indiretamente ao distrito. Agora, se considerarmos cada empresa instalada no Daia como um bairro, só no Laboratório Teuto, 3.500 são os moradores. A empresa foi fundada em 1947 em São Paulo e transferida para Anápolis no ano de 1992 e hoje é o maior complexo farmacêutico da América Latina.

Segundo a sua assessoria de imprensa, só nos últimos dois anos, o laboratório investiu mais de R$ 200 milhões na sua estrutura em Anápolis, aumentando a sua capacidade e oferta de produtos no mercado que tem os genéricos como carro chefe. O gerente do Daia destaca a participação do pólo farmoquímico que, segundo ele, foi primordial para o desenvolvimento do distrito. Ele também mencionou a participação das empresas genuínas de Anápolis que também fazem do Daia a área industrial mais promissora de Goiás. “São dezenas de empresas da cidade que também foram acolhidas pelo Daia. Independente de aqui ter grandes empresas de fora, quem faz o dia a dia do Distrito Agroindustrial de Anápolis, de fato, são os anapolinos”, finalizou Cristiano.

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