As mães das mães esquecidas

No domingo que foi marcado pela celebração do Dia das Mães, cuidadoras de abrigos de idosos abriram mão da companhia de suas famílias para se dedicar um pouco às mães que são internas e, muitas vezes, são esquecidas por seus familiares

Paulo Roberto Belém

O segundo domingo do mês de maio é sempre marcado pela celebração do Dia das Mães e, como de costume, a tradição pede que seja um dia de encontros e reencontros entre filhos e mães. Mas estes, em muitos casos, fogem do tradicional. Os tradicionais são aqueles em que a figura materna se faz presente, a exemplo de um filho que tem a sua mãe biológica viva. Mas no imenso cenário “mãe”, existem peculiaridades. Muitas delas, inclusive.

Tem gente que não tem a sua mãe biológica viva, mas enxerga em outra pessoa a figura materna. Este é somente um exemplo de tantos outros. Mas outra situação específica está bem perto dos anapolinos: são os abrigos de idosos. Nestes espaços, a figura materna também se faz presente e se transforma em mais de uma. São mães internas que esperam a visita de seus filhos, sejam eles biológicos ou de coração, mas que também veem em suas cuidadoras outra espécie de “mãe”.

No domingo, 14, muitas mães abriram mão de parte de seu tempo para a confraternização familiar para serem mães de dezenas de outras mães, mais experientes, que muitas vezes, são esquecidas em centros de cuidados para idosos.

A interna Dona Onofra abraça a “mamãe” Patrícia que, além dos dois filhos, considera cada um dos idosos como seus filhos

Foi assim o que aconteceu no Abrigo Monte Sinai, localizado bem no extremo da cidade no Setor Industrial Munir Calixto. Lá, a mamãe Patrícia Cristina Gomes que é quem está à frente da instituição. E este “apelido”, por assim dizer, não foi a reportagem que colocou, mas as próprias internas do local que a chamam desta maneira. Uma delas, Onofra Barbosa Neves se emociona pelo simples fato da chegada da data. “Ela é a nossa mãezona aqui”, disse ela em lágrimas.

Família

“São minha família”, afirma a “mamãe” do Abrigo Monte Sinai, Patrícia Gomes

A administradora do local, além de ter dois filhos biológicos em casa, confessa que considera os internos, também, como os seus filhos. “São minha família e não me vejo sem eles”, afirma. Patrícia trabalha no local há sete anos e relata que ao receber o convite à época pensou que não iria dar conta. “No momento em que olhei para eles, vi um amor que não sei explicar. Meu lado para o idoso sempre foi melhor que para a criança”, admite.

É isso também o que ocorre com outra mãezona, Cláudia Isaac, que é a administradora do Abrigo Professor Nicephoro Pereira da Silva, localizado no Jundiaí. Há quatro anos no local, ela também vê nos internos seus verdadeiros filhos. “O mais engraçado é que eu não pude ter filhos. Então, para mim, ter 63 filhos é o melhor presente que Deus me deu. Vim para o lugar certo na hora certa”, afirma.

“Têm mães que estão aqui e que os filhos não se importam, por isso é importante alguém vir conversar, abraçar”, sugere Claudia

Entre esses 63 está a dona Celuta Fernandes de 86 anos. Além de celebrar a data com as mamães do abrigo, ela diz que espera que um dos seus comemorem com ela o Dia das Mães. “Espero que me visitem, que passem o dia comigo”, afirma. Outra interna, Jolúcia Maciel de 84 anos compartilha desta mesma ideia. “Para mim todas as funcionárias que estão aqui têm esse cuidado maravilhoso, de mãe mesmo”, cita.

Dona Celuta Fernandes de 86 anos passou o dia das mães torcendo pela visita de familiares: “Espero que me visitem, que passem o dia comigo”

Programação

Nos dois abrigos visitados, foram programadas atividades para celebrar o Dia das Mães, mas, mais importante que as celebrações internas, são as visitas, afirma Cláudia Isaac. “Todos adoram quando as pessoas vêm, fazem visita e praticam a convivência, conversando, principalmente”, afirma.

Patrícia também chama a população para conhecer a realidade das mamães dos abrigos. “Têm mães que estão aqui e que alguns filhos não se importam, por isso é importante alguém vir conversar, abraçar, isso faz uma grande diferença na vida delas”. Ela faz o convite para que a população participe da campanha “Adote uma Mãe” justificando que não significa levar as internas para casa, mas sim ir ao abrigo e ficar na companhia delas, conversando e trazendo uma lembrança, se possível. “Um abraço, uma palavra amiga é bem melhor. Às vezes, o próprio visitante, que não tem mais a sua mãe, vem e recebe o abraço de uma idosa e se sente amado. Faz bem para ambos os lados”, considera.

A relação familiar é naturalmente estabelecida pelo convívio das cuidadoras e as internas

E uma das mamães que estão aguardando a visita da população no Abrigo Monte Sinai é a dona Maria Aparecida Bonfim de 77 anos. Ela não tem mais filhos e confessa que espera que a data seja boa, com visitas e lembrancinhas. “O que me agrada é qualquer coisa. Até um botão de rosas”, diz.

Saiba como visitar os idosos*

Abrigo Monte Sinai

Endereço: Rua 2 QD. 17 LT. 32 – Industrial Munir Calixto

Contato: Patrícia – 99304 – 2071

Abrigo dos Velhos Professor Nicephoro Pereira da Silva

Endereço: Avenida José Neto Paranhos n. 1026 – Jundiaí

Contato: Cláudia – 3327 – 0797

 *Visitas podem ser realizadas durante todo o ano, não somente em datas comemorativas

 

 

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