Corte do serviço nutricional de Anápolis prejudica população e gera preocupação

Leites e demais fórmulas especiais já estão em falta desde o início do ano, conforme vem sendo noticiado pela Voz de Anápolis: pacientes que precisam de bolsa de ostomia reclamam de atraso da chegada dos produtos

Felipe Homsi

Pacientes que precisam de serviços nutricionais do município tiveram uma surpresa ao chegarem na Travessa Olímpo Barbosa de Melo n° 68 – Centro, ao lado da extinta Farmácia Popular. Naquele local funcionava a Unidade de Nutrição Especializada e Vigilância Alimentar, que agora se localiza na central de distribuição do município. De acordo com informações da Secretaria de Saúde, a alteração foi uma “questão de logística, para centralizar a dispensação”.

Faixa informa mudança de local para entrega dos insumos nutricionais

Mas a grande reclamação da população não tem sido a geografia da distribuição dos medicamentos e outros produtos de saúde, e sim a falta deles. Conforme A Voz de Anápolis já antecipava desde agosto, produtos como leites e outros alimentos especiais iriam faltar por 60 dias, o que realmente foi confirmado pela reportagem. Além desta nutrição, faltam bolsas de ostomia, geralmente utilizadas em pacientes para criar uma ligação externa com o sistema digestivo e para que alguns pacientes possam defecar e urinar.

Na central de distribuição, a informação é de que os produtos deverão chegar dentro de aproximadamente 15 dias. Os atrasos decorreram da demora natural do processo licitatório, conforme foi pontuado por pessoas ligadas à Secretaria de Saúde. Certo é que os pacientes não podem esperar por uma licitação que demora a acabar e muitos já têm que recorrer a recursos próprios para comprarem os produtos de que necessitam.

Sem leite

A pequena Beatriz Fontes Nogueira, de apenas três anos, possui um atraso motor que limita seus movimentos e provoca espasmos, estes controlados apenas com o uso de medicamentos. Enquanto fala com a reportagem, a mãe, Patrícia Caetano, se esforça para segurar a filha. A menina possui intolerância à lactose e alergia à proteína do leita. Há três meses, a família parou de receber o leite especial que conseguia pela Prefeitura. “O leite dela nós estamos comprando, porque não está tendo na secretaria”, lamenta.

A rotina da família já é desgastante e cara. Além dos R$ 500 com o leite, outros R$ 1 mil são gastos com Beatriz, com fraldas e outros produtos. O valor de R$ 1,5 mil pesa no orçamento familiar e a mãe não entende porque o direito de sua filha foi retirado. “Eu acho que é um direito dela como cidadã”, reclama. Ela ainda indaga por que se paga tantos impostos se o retorno não vem para o cidadão e questiona tantas obras em andamento em Anápolis, sem que a saúde tenha a devida atenção. “Tem que arrumar (as obras), mas tirar de um lugar para tampar o outro?”, ressalta.

A mãe da pequena Beatriz precisa gastar R$ 500 com os leites especiais para a filha por causa da falta de abastecimento na Prefeitura

“Mudanças”

Aos trinta anos, Patrícia Caetano precisou largar seu trabalho em um departamento financeiro para cuidar apenas da filha e dos afazeres de casa. As idas a Brasília, Goiânia e o tratamento na APAE de Anápolis garantem o tratamento adequado à menina, mas a falta do leite começa a ser um peso que a família não queria carregar. Para trazer alívio à situação, eles buscam no INSS que o cadastro de Beatriz, a “Bia”, seja feito, para que ela possa receber o benefício assistencial da Seguridade.

Ela menciona que seria interessante se voltasse a existir um serviço nutricional em casa. Beatriz não tem controle correto da mastigação e um nutricionista em casa seria ideal para auxiliar a mãe no preparo dos alimentos. A explicação que a Prefeitura dá para a família pela falta dos produtos? “Mudanças de fornecedor”, explica a mãe. Enquanto o leite não chega, a família lamenta ter que sofrer pelo “descaso” do Poder Público.

Vereador e nutricionista, Teles Jr. lamenta interrupção “de serviço que era diferenciado”

O vereador Teles Junior, que é nutricionista, cobrou em plenário uma maior atenção aos pacientes nutricionais do município. Conforme pontuou, a população o procurou para “reclamar” do serviço, que era “diferenciado” e comparados com os melhores do país. “Um lugar que atendia ostomia, um lugar que atendia nutrição enteral, nutrição oncológica (câncer), crianças com alergias – em um lugar com essa especificidade -, é um avanço e precisa ser elogiado e precisa ser conservado.

Ele abordou ainda o “rompimento e mudanças” com o antigo local e a mudança para a central de abastecimento da Secretaria de Saúde. Ele informou que irá verificar a informação de que o serviço de ostomia teria mudado para a Osego. Com relação à distribuição de produtos como leites especiais e outros produtos para uso de pacientes nutricionais, ele diz ter recebido informações de que “pessoas que não precisavam, por serem bem de situação, não estavam passando por assistência social e estavam recebendo essa assistência, essa dieta”. As mudanças, indica, seria para que somente quem precisa receba os produtos.

Demora

O vereador Teles Junior salientou que “o paciente não pode ser prejudicado com essas mudanças”. “Foi divulgado isso?”, questionou. Teles ainda evidenciou que muitos pacientes o procuraram em seu gabinete, por saberem que ele é nutricionista.

Com relação às licitações para comprar de produtos nutricionais, ele acredita que “está demorando demais”. Para ele, os pacientes de bolsas de ostomia passam por “constrangimento” pela falta deste item, essencial para alguns indivíduos defecarem e urinarem. Ele garante que irá fiscalizar o serviço de nutrição: “Se lá não estiver funcionando, aquilo que acontecia na cidade de Anápolis, nós vamos fazer um movimento popular para poder pedir o retorno”, promete.

Secretaria

Em nota enviada pela Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal, a Secretaria de Saúde falou sobre a falta de abastecimento e a mudança do local onde funcionava o serviço de nutrição. “A situação de desabastecimento observada decorreu de se cumprir o processo legal para aquisição dos insumos”, diz o texto. Conforme pontuado pela Pasta, o pregão 026/2017 contemplou os produtos faltantes e o valor para a compra do material já foi empenhado. Quando a nota foi enviada, no dia 5 de Outubro, o pedido dos produtos havia sido feito para a empresa responsável e esta tinha 10 dias para entregar o que foi solicitado.

Com relação à mudança de local do serviço de nutrição, foi explicado que a Central de Abastecimento Farmacêutico de Anápolis (CEFA) já concentra a dispensação de insumos de alto custo, como as insulinas.

 

 

 

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