Documentos apontam desvios de verba na Saneago, servidores usados na montagem de comitês e cessão de avião a político

Por G1 Goiás

Documentos da Operação Decantação, que apura desvio de dinheiro na Saneamento de Goiás (Saneago), apontam que servidores da unidade eram usados para realizar a montagem de comitês políticos do PSDB, inclusive para a campanha do governador do estado, Marconi Perillo. Além disso, há a suspeita de que um avião particular foi cedido ao vice-governador, José Eliton, para compromissos políticos.

Perillo diz desconhecer a situação. Já Eliton afirmou que já utilizou aeronaves particulares, mas que realizou os pagamentos devidos, agindo sempre dentro da lei.

Além das irregularidades, a investigação aponta que parte do pagamento feito a empresas prestadoras de serviço era usado para doações de campanha. A operação Decantação foi deflagrada em 2016 pelo Ministério Público Federal (MPF). Segundo as investigações, houve fraudes em licitações e o dinheiro público foi usado para o pagamento de campanhas políticas.

Servidores da Saneago contaram em depoimento ao MPF que o órgão forneceu funcionários para a montagem do comitê político do PSDB na eleição para governador, em 2014. Nas declarações, constam que uma empresa terceirizada de ar condicionado da estatal prestou serviços à central partidária. Além disso, setores da companhia de saneamento fizeram avalições no prédio para identificar problemas na estrutura.

Desvios

De acordo com denúncia do MPF, a empresa Sanefer, uma das que presta serviço à Saneago, foi beneficiada com contratos que ultrapassam R$ 200 milhões nos últimos anos. A mesma companhia fez várias doações de dinheiro e até mesmo avião para campanhas eleitorais.

A Sanefer, que tem como um dos donos, Carlos Eduardo Pereira da Costa, era usada para o “pagamento das vantagens indevidas a agentes públicos”. Costa, que teve o pedido de prisão pedido pelo MPF, também é apontado como doador de altos valores para campanhas políticas de diversos candidatos nas eleições de 2006 a 2014.

A suspeita é que parte da verba paga pela Saneago à Sanefer era usada para o financiamento das candidaturas, impedindo o rastreamento da verdadeira origem dos valores.

Avião

Entre os documentos que constam nas investigações, estão conversas encontradas no celular de Carlos Eduardo, um dos donos da Sanefer. A suspeita é que ele disponibilizava um avião para que o vice-governador, José Eliton, cumprisse agenda política.

Segundo um relatório, é possível perceber que Carlos deixa à disposição seus dois pilotos. “Esta equipe de análise acredita que o contato para o qual Carlos disponibiliza suas aeronaves trata-se de José Eliton de Figuerêdo Júnior, vice-governador do estado de Goiás”, diz o documento.

Segundo os responsáveis pela análise, chegou-se a essa conclusão “pelo fato do celular utilizado para entrar em contato com Carlos estar cadastrado em nome da SSP [Secretaria de Segurança Pública], comandada por José Eliton [na época da investigação], e seu status estar ‘Núcleo de Agenda da Vice-Governadoria’”.

O que dizem os citados

Em nota, a assessoria de imprensa do Governador Marconi Perillo (PSDB) informou que tem “absoluto desconhecimento desses fatos” e, caso fosse consultado, “em hipótese alguma autorizaria a utilização de estrutura pública em campanha”.

A Saneago explicou que, desde o início da operação, a companhia tem colaborado com as investigações e que as novas denúncias não têm ligação com a atual direção da empresa. A nota diz ainda que, com a gestão atual, foram implantadas políticas de maior rigor e controle internos.

Em nota, a assessoria de imprensa do vice-governador José Eliton disse que “em viagens de interesse particular, o vice-governador utilizou, por algumas vezes, aeronaves de pessoas de sua relação ou contratadas por empresas de táxi aéreo, devidamente registradas, e com comprovantes de pagamentos efetuados, o que é absolutamente legal”.

A reportagem também entrou em contato com a assessoria de imprensa do PSDB por email e telefone e aguarda um posicionamento.

 O G1 não conseguiu contato com a empresa Sanefer e nem com o dono dela, Carlos Eduardo Pereira Costa.

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