Emprego e renda são desafios para imigrantes que moram em Anápolis

Anápolis abriga estrangeiros de todos os continentes, e muitos reclamam da falta de oportunidades de trabalho e baixos salários oferecidos pelas empresas: idioma é o principal empecilho

Felipe Homsi

Integração entre as nações, acordos internacionais de cooperação e globalização, são expressões que indicam uma tendência à diminuição das fronteiras globais. Organizações e empresas pregam estes termos para mostrar que existe a possibilidade de desenvolvimento socioeconômico a partir do intercâmbio entre os povos. Mas será que a realidade das pessoas que saem de seus países em busca de uma vida melhor é tão bonita quanto se fala?

Em Anápolis, todos os continentes estão representados. É bem verdade que, ao longo do tempo, as atenções estiveram voltadas para os libaneses e sírios que saíram de suas terras para fundarem comércios, indústrias e demais negócios, que hoje representam um capítulo importante da história de Anápolis. Mas a cidade possui muita gente de diversos países que sonha com um futuro digno e escolheu a região anapolina, a Manchester Goiana, para realizarem seus projetos.

Só que nem tudo são sonhos quando o assunto é emprego e renda. Pessoas como Honório Alberto da Silva, 34, que veio de Guiné-Bissau (África Ocidental) para estudar, sofrem com a falta de boas oportunidades fora do seu país. Ele, que estuda Gestão Financeira, relata que sua situação não é faz mais favoráveis. Atualmente, mora com sua esposa, Domingas M’Bundé da Silva e o filho, Altché M’Bundé da Silva. Na sua visão, o povo brasileiro é acolhedor, mas falta oportunidade.

“A dificuldade minha (sic) que tenho enfrentado é de conseguir um emprego apesar de ter visto permanente. Com falta do emprego, eu a minha família sobrevivemos com ajuda dos nossos amigos de uma das igrejas onde passei como estagiário quando cursava Bacharel em Teologia”, relata. Ele concluiu em Anápolis o bacharelado em Teologia pelo Seminário Teológico Cristão Evangélico do Brasil – SETECEB.

Refugiado

Z.T. é um imigrante misterioso que vive em terras anapolinas. Sua identidade, bem como seus laços familiares ou até mesmo seu país de origem não serão revelados a pedido do entrevistado. Segundo ele, para “sua própria segurança”. Ele é o Oriente Médio e mora em Anápolis como refugiado. Os motivos pelos quais deixou seu local de nascimento também precisam ser preservados, de acordo com o imigrante.

Para ele, dadas as condições que o fizeram deixar em anonimato seu país, o Brasil e em especial Anápolis representam a paz pessoal. O Brasil, conforme destacou, é um “bom país” e para ele “hoje a vida é melhor”. “Nosso país tem muita perseguição”, relata sobre a nação onde nasceu.

As dificuldades que Z.T. passa em Anápolis também estão relacionadas com a renda. “O custo de vida aqui no Brasil está muito difícil. As pessoas trabalhando não conseguem coisas para casa”, explica. Para se manter, ele é ajudado por uma instituição que acolhe estrangeiros e também possui o apoio de igrejas. Seu aluguel e contas de casa são custeadas por estes apoiadores.

“Meu salário não é suficiente para todas as coisas”, relata. Sonhos? “Tenho muitos, mas Deus sabe todas as coisas antes de nós pedirmos. Deus é bom, ele sabe”, responde.

Ele ainda identifica que as duas culturas, a sua de origem e a brasileira, são muito diferentes, mas que “o Brasil é melhor para morar”. Sobre voltar para sua nação-mãe, diz saudoso: “Não sei no futuro. Só visitar. Acho que vou morar aqui sempre”, promete.

China

A presença chinesa no Brasil deixou de ser lenda ou previsão futurística para se tornar uma realidade. E em Anápolis não é diferente. O município já oferece escolas de chinês e várias oportunidades de intercambio e de trabalho para quem vem de fora. O contrário também é verdade. Vários brasileiros estão partindo do país em busca de novas oportunidades naquele país.

A chinesa Violet Zhang Mingmin estuda na Hebei University, localizada na província de Shaanxi, região norte da China. Por meio de uma parceria entre o instituto Confucius e a PUC – São Paulo e um segundo convênio entre esta instituição e a UniEvangélica, de Anápolis, ela pode começar a ministrar aulas de chinês para anapolinos. Sua principal dificuldade é a língua.

“Eu não falo português e quase ninguém pode falar inglês. Nós apenas usamos linguagem corporal”, relata. Ela acha as pessoas no Brasil muito educadas e relata que “os brasileiros são muito apaixonados”. Uma dica para quem quer morar em outro país: “A língua é a coisa mais importante. E também você deve cuidar de você mesmo”. Para ela, o que ela viu de mais bonito no Brasil foi uma cerimônia de casamento.

Discriminação limita empregos a haitianos, ressalta missionária

Vilma Ribeiro, que coordena um centro de atendimento a estrangeiros, relata que emprego e renda estão entre as principais dificuldades para os imigrantes

A vinda de haitianos para Anápolis é um capítulo à parte da história da imigração no município. Desde que o Haiti foi atingido por um abalo sísmico em 2010, foi fortalecido o Acordo Básico de Cooperação Técnica e Científica entre os dois governos, promovendo ações em diversas áreas. A ajuda ao país americano localizado junto ao mar caribenho tem sido intensificada deste então.

De acordo com Vilma Ribeiro da Cunha Brito, que coordena o Centro de Atendimento para imigrantes, vinculado à Associação Paz para as Nações, instituição com 32 haitianos cadastrados localmente, o grande desafio é “colocar eles em um trabalho”. “Eu acho que as empresas anapolinas estão perdendo muito em não empregar estas pessoas, usar esta mão de obra deles”, relata.

Conforme explicou, as empresas contratam no máximo duas pessoas do Haiti para trabalhar. “Eles enfrentam esta grande discriminação aqui”, pontua. Vilma, missionária evangélica, detalha que custeia com recursos próprios seu trabalho. Para ajudar os estrangeiros que passam pela instituição, ela vai oferecer um curso gratuito de português, a partir de 26 de janeiro. Todos os cadastrados têm atendimento jurídico e odontológico, além do encaminhamento médico, por meio de parcerias do Centro de Atendimento.

Relatos

Ezechiel Saint Vil, 29, está em Anápolis há três anos. Kettia Dorsainvil, 30, já mora na cidade há um ano. E Lunise Cesar, 39, veio do Haiti há dois anos. Três histórias de vida sofridas e que se cruzam em terras anapolinas. Ezechiel veio algum tempo depois do abalo sísmico de 2010 “para construir minha vida”.

Ele tem como principais dificuldades a língua. “Eu entendo mais que falo”, diz. No começo passou dificuldades, até que encontrou um trabalho como auxiliar de produção em uma indústria do Distrito Agroindustrial de Anápolis. Hoje mora com sua irmã, que também imigrou para cá e hoje também está empregada. Seu sonho? Ezechiel, que antes de vir para o Brasil estudava Engenharia Civil, quer voltar a estudar, para ter uma vida melhor.

Kettia Dorsainvil mora com o marido em Anápolis. Seus dois filhos ficaram no Haiti. Está há um ano na cidade e ainda não conseguiu emprego, o que relata em tom de tristeza. Mas não é somente a falta de perspectivas no Brasil que a atormenta. Viver longe dos filhos é o que mais angustia esta haitiana que veio para a cidade em busca de esperança. Seu futuro ainda é desconhecido: “Só Deus sabe”.

Lunise Cesar trabalha em uma indústria farmacêutica no DAIA. Outro haitiano é seu colega de trabalho naquele local. Ela enxerga falta de oportunidades para seu povo na cidade. “Brasil não estava assim, muitos haitianos estavam trabalhando”, relata. Ela atribui à crise econômica a falta de emprego para os estrangeiros. Chorando, ela fala sobre seu principal desejo: “Eu quero voltar. Eu não quero ficar mais sem os meus filhos”. Ela busca um acordo para que seja demitida da empresa onde trabalha e, com o acerto, possa voltar ao Haiti. “Se eu tenho dinheiro e não tenho os filhos, não serve nada. Eu prefiro meus filhos”, conclui.

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