Enquete: Qual é a prioridade número um dos anapolinos?

A comunidade foi ouvida sobre o que mudaria de imediato na cidade, se esse poder estivesse em suas mãos: moradores da cidade falaram sobre problemas e desafios de um município que carrega deficiências estruturais antigas e novas que ainda aguardam para ser resolvidas

Felipe Homsi

Observar na sociedade o universo de opiniões sobre o mundo, o cotidiano e as mínimas coisas que interferem na rotina dos cidadãos é algo que pode revelar desejos, frustrações, alegrias e até mesmo visões de futuro. Há quem sonhe com um mundo melhor. Outros, desejam que a sua cidade seja apenas limpa, saudável, segura e que cada um possa ter os direitos garantidos.

Em Anápolis, o cenário particular que se revela é o de um município onde velhos problemas convivem com pessoas velhas que há anos fazem as mesmas reclamações. De maneira a não dar tanta ênfase à idade destes cidadãos, eles geralmente são chamados de idosos ou até terceira idade, amenizando o passar dos anos.

Mas a experiência de já ter visto tanto a insegurança, falta de saneamento básico, saúde precária e demais problemas que afligem a cidade deixou este grupo com o aspecto de velhos, já cansados e abatidos por verem a cidade com questões má resolvidas ao longo das décadas.

E por serem experientes, muitos ensinam sobre a história dos problemas locais. Um outro grupo, os jovens, transformadores da sociedade e futuro da nação, como é dito popularmente, em alguns casos parecem tão cansados dos problemas locais quantos seus pais e avós.

Uma enquete não é suficiente para entender a complexidade daquilo que pensam os anapolinos e demais pessoas que se beneficiam ou de certa maneira possuem uma relação com a cidade e seus moradores. Mas é possível saber que os desafios de Anápolis, de acordo com a visão da própria população, continuam passando por antigos problemas, como precariedades dos hospitais públicos, falhas no atendimento à população, obras atrasadas; e passeiam por novos ingredientes, ou melhor, chegam a pontos que antes não eram tão abordados pelos cidadãos.

Os anapolinos de hoje querem um trânsito em que os motoristas sejam mais educados, desejam um poder público mais preocupado com a cultura, desejam a todo custo resolver problemas culturais básicos, como a falta de um teatro adequado. E sinalizam que não estão dispostos a suportar tantos problemas por tanto tempo mais. É impressionante a quantidade de adolescentes ouvidos para esta enquete que mostraram serem conhecedores do panorama político do Brasil e, consequentemente, da cidade.

E se a comunidade fosse apenas uma observadora passiva da realidade, sem participar do processo de desenvolvimento social, com certeza a opinião dos cidadãos não teria crédito. Afinal, de que serve a teoria sem ser vivida? Acontece que, das 25 pessoas ouvidas, todas demonstraram que reclamam porque já sofreram, ou sofrem, com a dura realidade da falta de leitos em hospitais, do assalto à mão armada, a promessa política não cumprida e até mesmo a falta de acesso ao conhecimento.

A comunidade respondeu à seguinte pergunta: Se você pudesse resolver de imediato algum problema de Anápolis e/ou mudar alguma coisa na cidade, o que seria?

Amilton Filho, presidente da Câmara Municipal

“Eu acho que melhoraria Segurança Pública. As pessoas estão com muito medo de andar à noite na rua, são muitos homicídios ocorrendo. A Polícia Militar tem um efetivo muito aquém das necessidades. A Polícia Civil precisa de uma estrutura melhor. A Saúde Pública precisa avançar, como no tratamento para câncer, nas cirurgias eletivas. Devem ser criados leitos de UTI. Muita gente morre por falta de leitos de UTI, muitas pessoas ficam aguardando nos corredores dos hospitais.

Dom João Wilk, bispo diocesano de Anápolis

“É impossível resolver com uma só ação e de imediato os problemas de uma cidade tão complexa como é Anápolis, em rápido e constante crescimento. Uma das prioridades que vejo é investir nas amplas campanhas educativas para o resgate da dignidade, do respeito mútuo, do zelo pela propriedade própria e alheia, pelo adequado tratamento do lixo, pelo respeito no trânsito, pelo altruísmo”

Marcelo Jose Moreira –  Professor e Diretor Acadêmico do CCSEH da UEG

Penso que o problema imediato com necessidade de intervenção é o da segurança. Segurança em sentido lato. À primeira vista a insegurança pessoal e patrimonial nos aparece como um problema extremo e o “poder” público não aponta sinais de contenção de seu avanço. A maioria dos trabalhadores formais de Anápolis (cerca de 40%) recebem o salário mínimo para a sua reprodução – condições mínimas para alimentação, vestuário, educação, saúde, lazer. Assim, a violência urbana  – dada a concentração da população  e  dos  serviços  prestados  a  ela  ali  se  concentrarem,  no  meu  entender,  é o  principal problema a ser resolvido, ainda  que seja reflexo da opção do  modelo de (des)envolvimento  que uma determinada parcela da população anapolina adotou para colocar  em prática  (ou seja, a violência –  a falta de segurança –  não são o problema em si,  mas  o resultado da opção pelo  modelo de reprodução social levado a cabo por parcela da sociedade anapolina).

Anástacios Apostolos Dagios, presidente da ACIA

“Acredito que falta a criação de um ambiente de negócios para os empreendedores da cidade. Menos burocracia, mais crédito e mais incentivos para os empresários que estão instalados no município. Estamos com um ambiente de negócios praticamente parado na cidade. Facilitar a vida de quem quer empreender, de quem quer gerar emprego, de quem quer pagar imposto é essencial”

Regina Faria, presidente do SindiAnápolis

“Se eu tivesse o poder de mudar alguma coisa imediatamente em Anápolis, como arquiteta e urbanista, eu mudaria o Plano Diretor, o perímetro urbano e a expansão que foi aprovada de uma forma irresponsável na administração anterior. Isso acaba sendo a causa da falta de qualidade de vida da maioria da população. Não só da população que mora na periferia, mas o custo de toda a infraestrutura acaba sendo altíssimo para toda a população do município. Eu alteraria esta legislação que está em vigor e que com certeza vai comprometer o futuro de toda a população”

Pastor Leordino Lopes, presidente do Conselho de Pastores de Anápolis

Se eu pudesse mudar alguma coisa, seria aumentando a possibilidade de se transformar todas as escolas em escolas da Polícia Militar. A disciplina, o respeito e a ética seriam capazes de melhorar o ambiente familiar.

Delson Borges Tavares, motorista

“A iluminação pública da cidade está precária, precisa mudar. E a segurança também está muito falha. São as coisas mais falhas em Anápolis”

 

Danilo Rodrigues de Sousa – Vendedor de bicicletas

“Na cidade de Anápolis deveria ser mudada a forma de administração. A saída do antigo prefeito para o atual não resultou em muita coisa, porque a segurança da cidade, digamos, em termos, está ruim. A criminalidade na cidade de Anápolis resultou em 95 assassinatos. Assaltos acontecendo na cidade. Eu mesmo fui assaltado esses dias, tomaram meu celular. E as ruas também estão muito esburacadas, a limpeza da cidade – em alguns lugares está muito sujo. Parece que eles priorizam só as vias onde passa muita gente, que têm muito fluxo. Agora esses bairros mais pobres, eles estão deixando muito de lado. O ensino, também, rede pública, falam que teve uma melhoria, mas eu não vejo esta melhoria na rede de educação”

José Antônio, moveleiro

 “Eu acho que essas obras do viaduto, por ser uma obra no centro da cidade, traz muito transtorno para a gente. Isso não sou só eu (que penso), mas todo mundo com quem você conversa fala que o trânsito está muito complicado por causa destas obras do viaduto, que trazem muito transtorno para o trânsito”

Sara Priscila Dias dos Santos, frentista

 A saúde. Porque nós que somos mais fracos de condições, temos que levantar muito cedo para marcar uma consulta para três meses, cinco meses, para conseguir alguma coisa na saúde. A saúde está muito carente. Muita gente tem problema gravíssimo para resolver e está demorando. Eu tive um problema no estômago e demorou muito para diagnosticar o que eu tinha. Não só eu, mas um parente meu quase morreu de apendicite, os médicos não sabiam o que era, demorou muito e ele quase veio a óbito.

Anderson Marçal, recepcionista de hospital

Melhoraria a educação, segurança, empregabilidade.

 Cirenilde de Sousa Santos, vendedora

Eu acho que o trânsito está muito complicado, muito difícil, tem que ter mais sinalização. Aqui em horário de pico é triste. Se você vai para Goiânia, é muito complicado.

Rodrigo Pereira de Sousa, 17 anos, estudante do 2º ano

Eu acho que tinha que ter mais infraestrutura, mais agentes do “Detran”, mudar mais o trânsito de Anápolis, mais pavimentação. Tem buraco demais. Anápolis é para ser uma cidade mais evoluída. Não estão achando a pessoa certa para tocar o município.

Jamilton Caetano dos Santos Júnior, 22 anos, manipulador de remédios

Eu acho que o que tem que melhorar na cidade é segurança, infraestrutura da cidade está muito crítica. Tem muitos lugares que estão sendo deixados de lado. A parte maior que tem que mudar é a segurança. A limpeza, a organização da cidade, eu acho que esses pontos são os mais críticos.

Mayara Ramos, 21 anos, estudante de química

 Eu acho que, no nosso caso, seria a infraestrutura. Porque, desde que a nova gestão começou, ao invés de progredir, regrediu. A cidade está mais cheia de buracos, está com muitas obras paradas. Muitas obras começaram e não terminaram. A nova gestão está deixando a desejar muito neste quesito. Assaltos, assassinatos, está aumentando a cada ano e ninguém está fazendo nada sobre isso. Falta policiamento na cidade, em todos os pontos, em todos os bairros.

Andrielly Mayara Oliveira, 17 anos, estudante

 A segurança e a saúde. A violência da cidade, acontece muita coisa ruim. Tem muita gente que trabalha e os ladrões assaltam os trabalhadores, acho isso uma falta de respeito para com a população. E também o policiamento está muito fraco na cidade. Acho que deveria melhorar. Eles se preocupam mais com o entorno da Prefeitura, da Câmara do que com o que realmente precisa, que seria nos bairros. Eu acho que a segurança e a saúde. O prefeito deveria investir mais do que em outras coisas. Está investindo muito nisso aqui (apontando para o viaduto da Av. Brasil), acho muito desnecessário para a cidade. O dinheiro que está sendo investido em viaduto poderia ser investido em coisas melhores, ajudar os mais carentes.

 Ilda Mariano Borges, comerciante

A saúde. Porque tem muita gente morrendo nas filas, muita gente precisa de atendimento e não consegue. Tem muito bandido solto. Graças a Deus ainda não precisei da saúde municipal, mas tenho dó de quem precisa. O bandido entrou dentro da minha casa, no sol quente e roubou um videogame. 

Beatriz Sales Peixoto, 15 anos, estudante

“O que mais está faltando na cidade é investimento na cultura. Principalmente aqui no Teatro (Municipal) precisa de muitas reformas e muitos investimentos. Os governantes acabam se preocupando com outras coisas – não que as outras coisas não sejam importantes, mas o teatro também é importante, cultura também é importante para a população. Tem que mudar isso para agora”.

 Maria Paula Gôngora Panucci Mayo, 14 anos, estudante

“Eu acho que a falta de investimentos na educação, porque minha avó é professora de escola estadual. A condição das escolas, das salas de aula é muito precária. Mesmo que os alunos tentem cuidar e os professores também, não têm condição de dar uma boa qualidade de ensino. Porque as paredes estão todas cheias de infiltração, os quadros muito velhos, todas as cadeiras. Eu acho que falta investimento na educação para a gente ter uma sociedade melhor no futuro”.

 Janete Wirth, malabarista, argentina residente em Anápolis

Acho que os rios estão muito contaminados, nós estamos morando perto de um rio que está muito sujo, que tem água que está quase preta. Outra coisa: falaram para mim que estas obras que estão aqui faz muito tempo que estão fazendo elas. Eu sou viajante e vim aqui a Anápolis há vários meses e esta obra estava em andamento. Eu voltei (para Anápolis) e continua do mesmo jeito.

Alejandro Sebastian, malabarista argentino residente em Anápolis

Eu gosto muito da cidade, mas eu fico muito na rua, olho muito os semáforos. Acho que as pessoas têm que ficar mais tranquilas em seus carros, não dirigir com tanta velocidade. Eu trabalho junto aos carros e quando os semáforos fecham não fico na rua. Fico com medo, porque os carros andam muito rápido. Acho que tem que ficar mais tranquilos, porque na rua tem muitos cachorros, muita gente. Eu acho perigoso como dirigem os carros. Vão muito rápido, não respeitam às vezes se está fechado o semáforo vão do mesmo jeito. Eu acho que seria melhor para eles ficar mais tranquilos.

 Mateus de Amorim Lima, 22 anos, estagiário de Direito

Com certeza, eu faria o Direito ficar acessível às outras pessoas. Hoje em dia, não é todo mundo que tem esse acesso ao direito, seja do consumidor, constitucional. Parece que não tem nenhum plano na cidade que possa melhorar essa situação. Se tivesse, a cidade não estaria com tantos problemas e as pessoas não sabendo a quem recorrer. Ela não consegue alcançar toda a população. Porque não é todo mundo que tem esse acesso às leis.

Mateus Guilherme, 17 anos

Seria a questão das obras, tem muitas obras paradas na cidade. E na segurança, porque a cidade tem se tornado muito violenta ultimamente e a gente não vê tanto trabalho. Já fui assaltado três vezes e só foram me prestar atendimento cerca de duas horas depois. Só foram mandar uma viatura duas horas depois.

Amanda Cristina de Oliveira, 18 anos, estudante

A questão de educação, o ensino precário nas escolas de Anápolis e segurança pública. Porque a Segurança Pública de Anápolis está muito precária. Todo lugar em que você vai fica com medo de assalto, o caos.

Carlos David Martinez, malabarista, 22 anos

Para mim, seria que valorizassem as pessoas que trabalham como a gente, a arte da rua. Tem gente que valoriza, mas tem gente que tem medo de nós. Não somos pessoas más, gente ruim. Somos gente boa mostrando sua arte para seguir viajando.

 

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