Escalada da violência ganha espaço na ausência de novas estratégias de combate

Número de mortes contabilizado chega a 95 nestes quase seis meses do ano: Grupo de Investigações de Homicídios diz que 90% das pessoas que são mortas em Anápolis tem envolvimento com o crime, mas garante que isto não acarreta em investigações seletivas

Paulo Roberto Belém

Se for considerada uma escala de tipo de crime cometido, aqueles que fazem com que toda uma população se sinta insegura, ao extremo, as mais pontuadas serão as que estão a relacionadas aos crimes contra a pessoa. A morte, definitivamente amedronta mais que qualquer assalto, furto ou outra situação. E é neste cenário, o dos homicídios, que Anápolis vem gerando uma tensão na população.

Nos últimos anos, Anápolis, além de ter registrado o aumento destas ocorrências, tem contabilizado médias parecidas quanto a este crime específico a cada ano: uma média de 190 assassinatos. E em menos de seis meses, de 2017, a conta chega a 95 mortes.

Calculando a média de homicídios por semana, no encerramento do 23º período completo de sete dias deste ano, estes 95 assassinatos representam que Anápolis registrou uma média de quatro homicídios (4,13, em estatística) em cada período destes. E estes assassinatos não tem seguido um padrão. Têm ocorrido em diferentes horários, regiões, por razões distintas, com diferentes dinâmicas e que, além de ter vitimado pessoas com envolvimento com o crime, por conta de passagens pela polícia, por exemplo, tem feito vítimas “cidadãos do bem”, aquelas consideradas inocentes.

 Casos

Deste montante, alguns casos chamaram a atenção em 2017. Logo no início de fevereiro, em um mesmo final de semana, quatro jovens foram mortos em dois casos distintos. No primeiro deles, o triplo homicídio de Leandro Vicente, Filipy Nunes e Rodrigo Ferreira, encontrados mortos em diferentes regiões da cidade. O segundo caso foi o que causou a morte do jovem Donato Gontijo na região do Jundiaí em um assalto. Ainda no mês de fevereiro, outro homicídio de grande repercussão: o assassinato da transexual Emanuelle Muniz no período do carnaval.

Em uma semana, quatro jovens foram mortos: três deles estavam juntos e foram mortos em diferentes locais; outro jovem foi morto em casa durante assalto

Mais adiante, em abril, mais dois casos que chamaram a atenção: a execução da jovem Rayane Araújo em plena manhã de uma segunda-feira no centro da cidade e outro, também no centro da cidade, do jovem Elvis Greener, morto com uma arma que se assimila a uma metralhadora por disparar grande sequência de tiros. O último caso de destaque neste cronograma foi o duplo homicídio ocorrido no último dia do mês de maio passado no qual os vigilantes Celso Roberto Tavares e Joel Pereira Dutra foram encontrados mortos no interior do Juizado da Infância e Juventude de Anápolis.

Emanuelle Muniz foi morta na madrugada em crime de homofobia: quatro suspeitos foram presos

 Resolução

Também no centro da cidade, Elvis Greener foi executado com arma de múltiplos disparos em frente a edifício

Sobre estes casos específicos mencionados, metade deles já tiveram suspeitos presos, inquéritos encerrados e enviados ao judiciário, correspondentes aos das mortes de Donato Gontijo, Emanuelle Muniz e da jovem Rayane Araújo. Já os demais casos, o delegado titular do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) de Anápolis, Renato Rodrigues, os destaca como mais complicados “O triplo homicídio e o caso do Elvis continuam sendo nossa prioridade porque estão com investigações mais adiantadas”, disse, complementando que o caso dos vigilantes, por conta da proximidade da ocorrência, ainda encontra-se em fase de reunião de provas.

Rayane Araújo foi morta à luz do dia no centro de Anápolis

Entretanto, esse percentual não representa a realidade dos crimes de homicídio deste ano que tiveram resolução em 2017. “O índice está em 15%”, cita Rodrigues. O delegado afirmou que o percentual pode aumentar à medida que a suspeita da atuação de grupos criminosos seja confirmada. “Alguns homicídios em Anápolis, pela forma em que estão ocorrendo, indiciam que estejam sendo praticados pelos mesmos grupos criminosos. Por isso, a prisão destes grupos pode representar a resolução de vários casos específicos em pacote”, observa o delegado.

Caso mais recente e que evidencia a audácia dos criminosos: vigilantes armados foram mortos dentro de Juizado da Infância e Juventude

 “Atuação de criminosos vem se aperfeiçoando”, avalia delegado

Segundo o titular da GIH, Renato Rodrigues, 90% das pessoas que são mortas em Anápolis tem envolvimento com o crime, entre passagens pela polícia e prisões, mas que isso não acarreta em investigações seletivas. “Temos que dar respostas para todas as famílias, apesar de algumas delas demonstrar certo conformismo”, diz.

Segundo Renato Rodrigues, titular da GIH, 90% das pessoas que são mortas em Anápolis tem envolvimento com o crime

Rodrigues relata alguns casos do tipo. “Familiares chegam aqui e me relatam que orientavam seus filhos, seus irmãos ‘para sair dessa vida’. A aceitação dessa perda nos parece que não é tão radical quanto em casos em que a vítima é morta sem motivação aparente”, explica.

O delegado complementa que em casos onde são mortas pessoas sem envolvimento com o crime, a exemplo da situação em que os vigilantes foram assassinados no local de trabalho, às vezes, aciona uma força tarefa para auxiliar nestas investigações. Em alguns casos, de acordo com o Rodrigues, estes crimes têm resolução mais fácil que os demais.

“Quando a pessoa não tem envolvimento com o crime, a linha de investigação é mais fácil porque, às vezes, logo no início das investigações surge uma notícia de ameaça, por exemplo, de que a família tem certo conhecimento”, detalha.

Métodos

Questionado se os métodos de investigação para solucionar e evitar novos homicídios são adequados de acordo com a realidade, quando há aumento de casos, por exemplo, Rodrigues reconhece que a atuação dos criminosos se aperfeiçoa, tornando-se mais dinâmica e que, por isso, a Polícia tem que aperfeiçoar o seu modo de investigação. “A gente realiza reuniões periódicas de avaliação destes métodos e, cada vez mais, todos nós, delegados, agentes e escrivães nos capacitamos para conseguir investigar melhor”, cita.

O delegado garante que sua equipe não fica parada no tempo e que, cada vez mais, tem buscado o auxílio de ferramentas tecnológicas que possam contribuir com as investigações, mesmo que dependam de autorização judicial. “Estamos buscando a inteligência para dar mais efetividade ao nosso trabalho e chegar aos autores com mais brevidade. Nossa intenção é que o avanço do número de cesse. Estamos trabalhando para isso”, finalizou, pedindo para que a população faça denúncias pelo 197.

Delegado regional critica política de encarceramento

O delegado regional de Anápolis, Fábio Vilela, reconhece que a questão dos homicídios em Anápolis é preocupante. Para ele, a população está sentindo a criminalidade cada vez mais perto em virtude destes crimes.

“Homicídios não estão encontrando barreiras e não se tratam de questão social”, aponta Vilela

“Os homicídios em Anápolis não estão encontrando barreiras e não se tratam de questão social”, disse. Segundo Vilela, os crimes estão mais ligados ao comportamento da vítima do que muito mais por questão econômica, o que é comprovado pelas estatísticas internas, a exemplo das vítimas com envolvimento com crimes citadas por Rodrigues.

Vilela cita que se houvesse, por quem de direito, a solução de adotar uma política mais rígida em relação a essas pessoas com envolvimento com crime, fazendo que estas fiquem presas, os homicídios reduzirão drasticamente. “É uma situação que pode acontecer, embora eu seja crítico porque acarreta em outros problemas, de cunho social, por exemplo”, citou o delegado regional.

 PM se isenta de reponsabilidade, mas diz que ajuda e faz sua parte

O comandante do 3º Comando Regional de Polícia Militar, coronel Giovani Valente, disse que os homicídios são de estrita responsabilidade da Polícia Civil, mas que a Polícia Militar tem atuado para tentar minimizá-los. “O trabalho dos nossos homens é mais voltado para algumas situações, a exemplo do atendimento de ocorrências da Lei Maria da Penha, que tem intenção de evitar crimes passionais, e da realização de operações de repressão em bairros, fiscalizando bares em busca de armas que são utilizadas neste tipo de crime”, explicou.

“Polícia Civil tem conseguido elucidar crimes, mesmo com o pouco efetivo que tem”, elogia coronel PM

Valente considera que este trabalho surte efeito e que auxilia o trabalho da Polícia Civil em Anápolis. “Agora, em crimes não ocasionais, fica difícil a atuação da Polícia Militar, pois são imprevisíveis”, afirmou o comandante que considera o trabalho da Polícia Civil eficiente. “A Polícia Civil tem conseguido elucidar uma boa quantidade de crimes, mesmo com o pouco efetivo que tem”, comparou.

 

Números da Violência

 2016 – 195 homicídios

2017 (até 08/06) – 95 homicídios

 Efetivo do GIH

3 delegados

5 escrivães

8 agentes responsáveis pelas investigações

 

 

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