Geração de empregos aumenta, mas esbarra em falta de qualificação

Com a crise, muitos trabalhadores deixam de se qualificar e trabalhadores reclamam que empresas exigem demais; fim de programas municipais de qualificação impactam em cenário ruim

Felipe Homsi

Anápolis terminou o semestre com saldo positivo de 139 novos postos de trabalho, dado referente a julho. No mesmo mês do ano passado, o saldo foi negativo em 396 postos. Os dados foram repassados pelo SINE local, citando como fonte de informação o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Apesar da melhoria no cenário, ainda não é o momento de se comemorar, já que o quadro está mais favorável apenas para quem possui qualificação.

Pessoas sem estudo ainda esbarram na falta de conhecimento, e de oportunidade, quando vão para as filas à procura de uma oportunidade. A unidade do SINE em Anápolis recebe, em média, 250 pessoas por dia, seja procurando emprego ou para informações sobre questões trabalhistas. De acordo com informações repassadas pela diretoria na cidade, em diversos setores a qualificação ainda é um entrave na busca por emprego.

Capacitação

O SINE reconhece que o desemprego vem caindo, juntamente com o crescimento do número de vagas, mas a falta de conhecimento técnico faz com que as empresas não contratem certos candidatos. Como a procura é alta, os menos qualificados ficam no final da fila de seleção. Mirna Maria Vieira foi diretora municipal de Trabalho, Emprego e Renda e vivenciou de perto a importância da qualificação para os trabalhadores.

Ela identifica que, de 2010 a 2016, um total de 25.782 pessoas foram qualificadas em Anápolis. Por meio de convênios com a Prefeitura, mais de 16 mil pessoas foram capacitadas. Mais de quatro mil trabalhadores se qualificaram nos centros de formação. O Pronatec formou mais de quatro mil pessoas. E o projeto Mulheres Mil formou 295 pessoas.

O lema da sua diretoria era, conforme explicou, “qualificar e empregar”. “Havia mais oferta de vagas de emprego do que pessoas para trabalhar”, conforme apresenta. E é por esse motivo que a qualificação se apresentava tão importante para os trabalhadores. Com a crise, o cenário mudou. Em 2015 e 2016, a oferta de vagas caiu, conforme pontuou. “Mesmo assim Anápolis se destacava perante os outros municípios”, acrescenta.

O conhecimento sempre foi muito bem-vindo e pessoas mais capacitadas tinham mais chances: “Pessoas que tinham uma qualificação melhor, que tinham uma condição melhor de estudos, tinha mais chances de ocupar as vagas que estavam sendo oferecidas”, relata. Ela enxerga que a atual gestão não possui o mesmo olha para a qualificação de trabalhadores. “Está existindo uma certa dificuldade de qualificação”, observa. Pessoas tem lhe relatado que não há o interesse da atual administração nas parcerias para capacitar quem procura uma vaga de trabalho.

De 14 a 80 anos

“Não estou vendo com otimismo, nem Anápolis, nem Brasil”, lamenta. E é claro que a falta de qualificação interfere nas chances de uma pessoa conseguir trabalho. “É a mola que move o país”, destaca. Em sua época como diretora, a maior parcela da população era atendida. “Os nossos cursos eram para “jovens” de 14 a 80 anos”, brinca Mirna Maria Vieira. Jovens e idosos tinham espaço para se preparar. “Se a pessoa sonha, se ela acredita e se ela tiver oportunidade, ela tem condições de chegar. Por que não?”, indaga.

Mirna Vieira, que já foi diretora de Trabalho, Emprego e Renda: programas de qualificação passam por dificuldades e dificultam conquista de vagas

Entre as opções para quem precisava se qualificar, estavam as parcerias com o Sistema S, o Programa Qualificar, o Cenfor, Sine, Pronatec e Instituto Federal de Educação. A própria Mirna, quando terminou sua missão na Diretoria de Trabalho, Emprego e Renda, se qualificou e montou um salão de beleza em sua casa.

 Muita qualificação

Leandro Barbosa da Silva está desempregado há dois anos. Já atuou como secretário, auxiliar administrativo, vendedor interno, montador e professor de informática. “Tenho um currículo bom, minha qualificação é boa, só que nem sempre é o que eles procuram. Às vezes procuram até pessoas menos capacitadas para pagar menos”, reclama. Ele possui ensino médio completo e cursos de informática, montagem, manutenção em eletrônica, vendas, portaria, hotelaria e supervisão.

Leandro Barbosa está desempregado há dois anos: Apesar da qualificação, ele esbarra na burocracia de muitas empresas

Para ele, a burocracia é alta na hora de buscar uma vaga. “Pessoas procuram trabalhar, nem que seja para sobreviver”, evidencia. Questionado sobre se não seria melhor focar em uma área só, ele pontua: “Se em várias áreas já está difícil, imagina uma área só”. E sua situação não é nada fácil. Ele tem dois filhos de um primeiro casamento e uma filha do segundo matrimônio. “A única coisa que dá cadeia é isso”, ironiza sobre as penalidades para quem não paga pensão. Sem emprego, ele partiu para os bicos, que é o que “está salvando”.

 Primeiro emprego

O sonho da primeira oportunidade de trabalho é vivido por muitos jovens que se aventuram pelo mercado em busca de emprego. Aos 16 anos, Iasmin Maria de Morais Pires busca sua chance desde os 14 anos. Ela, que está no segundo ano do segundo grau, quer ajudar a mãe, que está desempregada. “Eu sou louca para trabalhar, eu gosto muito, mas eu nunca consigo encontrar”. Iasmin se inscreveu no SINE à procura de emprego.

Iasmin Pires, de 16 anos, não consegue seu primeiro emprego: “Eu sou louca para trabalhar”

Ela acredita que existem barreiras nas empresas, mas “basta querer, porque existem muitas empresas em Anápolis e emprego não falta”. Iasmin quer atuar como atendente, recepcionista ou outra vaga similar.

Sem resposta

A Secretaria de Desenvolvimento Social, Trabalho, Emprego e Renda foi procurada, inúmeras vezes, para apresentar dados sobre os programas de qualificação da Prefeitura. A assessoria da Secretaria solicitou que a reportagem procurasse a chefia de gabinete da Secretaria, o que foi feito. Esta, por sua vez, orientou que a assessoria direta do prefeito Roberto Naves fosse procurada, o que também foi feito. Nenhum dos responsáveis quis comentar o cenário o desemprego e formação em Anápolis.

Anapolinos formados em programas de qualificação entre 2010 e 2016

25.782 pessoas, sendo

16 mil somente em programas municipais

04 mil se qualificaram nos centros de formação (Cenfor)

04 mil pelo Pronatec

295 se formação no “Mulheres Mil”

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