Gordura trans: a substância produzida para engordar você

Substância fabricada pela indústria para dar sabor, durabilidade e reduzir os custos da produção torna-se a mais nova “inimiga” da alimentação: estudos mostram que ingestão deste tipo de gordura pode ser o gatilho para diversas doenças

Felipe Homsi

Os estudos sobre alimentação saudável e o impacto dos produtos industrializados são muito dinâmicos na seleção de seus “inimigos”. Queridinhos das dietas saudáveis de hoje já foram os inimigos de ontem e vice-versa. O fato é que o aprofundamento da Medicina na avaliação dos impactos das substancias químicas usadas pela indústria de alimentos vem gerando descobertas, no mínimo, assustadoras.

A mais nova “bomba” são as chamadas gorduras trans. O produto foi adicionado a diversos alimentos para dar sabor, durabilidade e reduzir os custos da produção. Este cenário tem tudo a ver com o consumo de gorduras trans. “Do ponto de vista nutricional, a gordura trans é muito prejudicial. Ela desencadeia várias alterações metabólicas perversas e silenciosas à saúde”, destaca o médico nutrologista Fernando Pequeno. Ele explica que a substância foi criada pela indústria para substituir as gorduras animais, como a “banha” e “manteiga de leite”.

Para o nutrólogo Fernando Pequeno, gorduras trans devem ser banidas por completo da alimentação

“A Ciência só percebeu o malefício destas gorduras após décadas de consumo”, destaca o nutrólogo. O problema é tão grave que a cidade de Nova York restringiu o uso de gordura trans em julho de 2007 e percebeu uma redução no risco de hospitalizações e indicou uma melhoria do cenário no caso das doenças cardiovasculares.

A mídia, os profissionais de saúde, agentes governamentais que regulam o setor até procuram fazer o seu papel, mas a população parece estar longe da conscientização sobre o assunto. Para se ter uma ideia, 35% das crianças anapolinas correm o risco de se tornarem adultos obesos, conforme já veiculado em A Voz de Anápolis. E mais de 20% dos adolescentes estão acima do peso.

Demora

“Todos os especialistas concordam: a gordura trans faz muito mal à sua saúde”, evidenciou Pequeno. E um dos fatores que disseminou o uso do produto e os riscos associados a ele foi que muitos acreditavam que as gorduras trans poderiam substituir a gordura animal e não causariam os malefícios da sua antecessora.

“Na prática, porém, as gorduras trans são piores que a gordura animal, mesmo não tendo colesterol na sua composição e a ciência, os médicos demoraram um pouco a perceberem isso. Alimentos aparentemente inocentes escondem uma realidade chocante e a população pagou caro por isso. Nós todos ficamos mais doentes com a gordura trans”.

Assim que ingerida, a “trans” já prejudica o fígado, que é estimulado a produzir o chamado colesterol ruim (LDL-colesterol) e menos colesterol bom (HDL). Em um período curto, a situação leva a um quadro de “colesterol alto” e posteriormente vários “ataques do coração” poderão ser desencadeados. No fígado, o aumento dos depósitos de gordura desenvolve a chamada Esteatose Hepática, que acomete mesmo as pessoas magras e crianças.

Doenças

Mas o caminho não se resume ao coração e fígado. Ao percorrer as artérias do corpo humano, com seus emaranhados, levando sangue para todo o corpo e irrigando os tecidos, ocorre a produção hormônios inflamatórios (citocinas). Com isto, há a elevação do risco de inflamações, promovendo doenças metabólicas como diabetes e enfermidades coronarianas.

“Ainda nas artérias, aumenta a reatividade e a contratilidade, induzindo hipertensão arterial. Aumenta também a susceptibilidade a acúmulo de colesterol nas coronárias, vasos sanguíneos que irrigam o coração e o mantém vivo, num processo chamado aterosclerose. A aterosclerose é o caminho que leva ao ataque do coração e ao derrame cerebral”, acrescenta.

Envelhecimento e saúde

Comer os saborosos chips, amendoins, batatas de saquinho, molhos e demais delícias é muito bom, mas lhe deixa mais velho. Isso mesmo. Pelo aumento da produção de radicais livres decorrentes do seu consumo, as gorduras trans fazem aparecer doenças que normalmente apareceriam na velhice.

Em áreas-chave como o intestino, estas gorduras modificam a “microbiota intestinal”, bactérias benéficas para o funcionamento do sistema gastrointestinal. No lugar das heroínas, entram as bactérias vilãs e maléficas. Este processo aumenta a permeabilidade do intestino e faz com que diversas toxinas invadam o sangue, aumentando as chances de inflamação crônicas em outros locais do corpo.

O risco de obesidade é elevado às alturas, pelo aumento na liberação de hormônios pelo tecido adiposo. “É o único nutriente que evidentemente engorda mais que qualquer outro, mesmo sem aumentar a quantidade de calorias”, evidenciou o nutrólogo Fernando Pequeno.

Peso

E é claro que para quem quer emagrecer as gorduras trans estão longe de serem as amiguinhas da balança. “Para piorar tudo, a longo prazo, após anos e anos de exposição, as gorduras trans alteram os mecanismos de controle do peso encontrados no hipotálamo – o centro do cérebro”, explica.

“Quando isso ocorre, seu corpo passa a trabalhar para que você engorde. Ele acha que o seu peso deve ficar acima do que está atualmente. Comandos cerebrais direcionados para o corpo vão fazendo a vontade de comer aumentar e a capacidade de queimar gordura diminuir. À partir deste ponto, engordar fica mais fácil e emagrecer fica mais difícil”.

Crianças acabam ficando mais vulneráveis aos efeitos negativos da trans. “Mas é evidente que todos nós devemos evitá-la, se possível bani-la da alimentação”. Conforme elucidou o profissional da saúde, é ideal retirar completamente estas substâncias da alimentação, substituindo os industrializados por “versões” feitas em casa.

“Fazer uma lasanha caseira no lugar de comprar uma congelada, com ingredientes caseiros, te garante que não será adicionada gordura trans. Quando você delega a fabricação da sua comida para uma indústria, aumentam as chances de haver gordura trans adicionada. Não é fácil, mas é possível modificar os hábitos e sua saúde irá te agradecer”, orienta.

Para quem não tem tempo de produzir em casa os alimentos, algumas dicas podem ajudar a diminuir o consumo das gorduras trans: Verifique a lista de ingredientes da embalagem e verifique se o alimento industrializado possui gordura vegetal hidrogenada ou parcialmente hidrogenada. Em caso positivo, “certamente há gordura trans neste produto”.

 

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