Jakson Charles: “A gestão precisa de um político nas secretarias para mostrar o caminho: tenho feito este papel”

Paulo Roberto Belém e Henrique Morgantini

Natural de Angical – Bahia, Jakson Charles atua tanto empresarial quanto politicamente na região da Vila Formosa. Foi diretor de Turismo em Anápolis até 2012, quando se tornou vereador. No Legislativo atuou como secretário da Mesa Diretora no biênio 2015-2016 e presidiu a Comissão de Agricultura, Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico, além de ter participado como membro titular ou suplente em diversas outras comissões da Câmara Municipal. Reeleito no ano passado pelo PSB, partido que apoiou a reeleição frustrada de João Gomes, recebeu com surpresa o convite para assumir uma estratégica missão: se tornar o líder do prefeito Roberto Naves no parlamento anapolino. Na entrevista, ele falou desse novo desafio, mas ressalta: não irá perder sua “essência de falador e de independência”.

A Voz de Anápolis – Como você avalia o período de representação do prefeito no legislativo pré-início das sessões plenárias?

Jakson Charles – Com muita naturalidade. As coisas, até então, formalmente, não aconteceram. Não houve nada de diferente, analisando estes quatro anos de experiência que tenho na Câmara.

AVA – Quais os desafios do Legislativo para 2017?

JC – Nós tivemos um momento sério e pesado na última eleição por conta do descrédito da Política e do Legislativo em cadeia nacional e municipal. Nós que fomos para as ruas sentimos o impacto disso perante a sociedade. Então o maior desafio é resgatar essa credibilidade e a confiança da população.

AVA – E para essa primeira semana de sessões plenárias, qual a expectativa (o ano legislativo começa no dia 6 de fevereiro)?

JC – Além de caminhar nessa proposta de resgate da credibilidade, é a de dar a resposta àqueles que nos escolheram na cobrança e fiscalização do Poder Executivo. A expectativa é muito boa.

AVA – O partido do prefeito, o PTB, tem dois vereadores eleitos: Jean Carlos e Leandro Ribeiro. Por que a escolha de um líder do PSB?

JC – Olhando a história da Câmara Municipal, observa-se que quase todos os líderes de prefeitos eram de partidos adversos. Na legislatura anterior, o líder Paulo de Lima era do PDT. Na gestão Gomide, Valdair era do PTB e em outra ocasião foi Wederson Lopes do PSC. A minha escolha, acredito, ter sido feita pelas primícias: conhecimento, experiência, considerando, ainda, que grande maioria dos vereadores são novatos. Nessa linha, eu penso que tendo mais um partido de uma outra sigla partidária nessa proposta, o prefeito entende que a sua base fica mais forte.

AVA – Costuma-se dizer nos bastidores políticos que o prefeito escolhe aquele líder mais polêmico, que tem mais disposição à oratória, que fica mais à vontade para tecer comentários, justamente para que ele não use essas capacidades contra o governo. Você acredita que também pesou esse perfil do Jakson Charles como alguém que fala muito?

JC – Vejo por outro lado. Se você tem um líder que tem facilidade para se comunicar e força de convencimento em determinadas matérias, mesmo nos debates contrários, ele também terá facilidade para convencer nos debates favoráveis ao Poder Executivo. O ponto colocado nesta pergunta, tende a servir para os dois lados, tanto para a oposição quanto para a situação.

AVA – Falando em oposição e situação. Nas últimas legislaturas o cenário situação se sobressaiu. Como vai ser nessa legislatura específica?

JC – Anápolis passa pelo momento de uma necessidade de um bom relacionamento político e saudável entre as esferas legislativa, executiva e judiciária. A Câmara Municipal tem, hoje, grandes nomes capazes de fazerem isso pela cidade. Acredito na oposição republicana e inteligente de forma a valorizar e preocupar-se com o crescimento da nossa cidade. Eu não vejo a possibilidade, dado a qualidade das pessoas que lá estão, mesmo aqueles que teoricamente são considerados oposição, a exemplo do nosso digníssimo ex-prefeito e atual vereador Antônio Gomide. Então eu vejo que será uma oposição inteligente e quem vai ganhar com isso é a cidade de Anápolis.

AVA – Você chegou a citar em entrevistas que na Câmara dos 23 vereadores, 22 estariam integrando a base. Você acredita que funcionará assim, o PT, por exemplo, está na base do prefeito?

JC – Não disse isso. Eu disse que dos vereadores eleitos, apenas, o que declarou verdadeiramente a sua oposição foi o ex-prefeito Antônio Roberto Gomide. Os demais membros do PT não se manifestaram ao ponto de dizer “nós seremos oposição”. O que vejo neles é o sentimento de celebrar não aquela oposição por oposição. O que eu observo neles é o interesse de estar contribuindo com a administração. Então, quando eu disse isso, eu disse porque o ex-prefeito Gomide já se posicionou e os demais não se posicionaram nesse sentido. No mais, o PT é um partido que vem de uma disputa de uma eleição e naturalmente pode vir a ser oposição.

AVA – Interessante você citar os resquícios da última eleição porque você também fez parte do processo eleitoral nesse outro lado que perdeu a eleição. O PSB apoiou o ex-prefeito João Gomes. Você se sente à vontade em promover essa mudança, de migrar para o nicho político do prefeito Roberto?

JC – Me sinto totalmente à vontade. Porque o meu papel de defensor da proposta do ex-prefeito João Gomes e o meu apoio a ele foram pautados por princípios básicos que eu tenho na minha vida: reconhecimento, lealdade e gratidão. Tenho muito orgulho de ter participado destas duas últimas gestões podendo contribuir de forma positiva para a administração e nunca abandonei o barco. Durante a campanha, eu me posicionei da seguinte forma: até o final das eleições, eu honrarei o meu compromisso. Mas eu dizia também que após as eleições, nós caminharíamos no rumo que nós considerássemos mais viável para a nossa sobrevivência, crescimento político e para aquilo que nós entendêssemos que fosse o melhor para a cidade.

AVA – Essa “sobrevivência política” não pode ser difícil de ser explicar para o seu eleitor no cenário em que: Se tem governo, Jakson Charles está a favor?

JC – Existe uma coisa chamada coligação partidária. Ela finda ao final das eleições. O PSB é Partido Socialista Brasileiro e o PT é o Partido dos Trabalhadores. A não ser que mude a legislação ao ponto em que as coligações deixem de ocorrer por ocasião das eleições. Vejo, inclusive, algo salutar. Acho interessante. Observo que a maioria das coligações, não só as do PSB, às vezes, o partido para se viabilizar politicamente em época de eleição, ele compõe com partidos totalmente contrários às suas ideologias e isso é culpa do sistema político brasileiro que eu sou contra e acredito que deve mudar.

AVA – Essa avaliação é partidária. E a pessoal, do político Jakson Charles com os seus eleitores? Eles entendem essa sobrevivência política?

JC – Sem problemas. O que é sobrevivência política? É você ter a condição de ter um representante no legislativo ou no executivo. Embora o vereador Jaskon esteja no PSB, embora ele tenha se coligado com partido a, b ou c, o vereado Jakson tem no seu sentimento a independência política. O cidadão, se achar bem, vira político pelas suas convicções pessoais, não pelas partidárias.

AVA – Essa independência às vezes destoa daquilo que é considerado como base. Agora como líder do prefeito Roberto, a Câmara não vai sentir saudade de um vereador estilo Jakson Charles?

JC – Continuará da mesma forma. Aquilo que for bom para o município e aquilo que merecer a defesa do líder no sentido de estar fazendo uma injustiça para a administração, o estarei presente para fazer a defesa. Aquilo que for errado, não pactuarei. A única conversa que tive com o prefeito antes de aceitar esse papel estabeleceu estes termos. Então não haverá mudança de comportamento da minha parte. Tenho, inclusive, cobrado dos secretários atuais alguns comportamentos para melhorar o trabalho feito, embora o tempo esteja curto.

AVA – Que tipo de cobrança?

JC – Cobrança de estratégias. Às vezes por inexperiência, por não saber o que vai acontecer, por mais que o cidadão tenha o conhecimento de uma determinada área, seja no poder público ou privado, no poder público existem situações que divergem do setor privado. Então, precisa de um político já vivido para dar o canal, o caminho: “olha, aqui não é o caminho certo, ali é o caminho errado”. É nesse sentido.

AVA – Você tem feito esse papel?

JC – Tenho feito esse papel

AVA – Em relação às mudanças do prefeito Roberto Naves a serem implementadas há a promessa de mudança. Esse foi o tom da campanha. O que você pode destacar como grandes bandeiras? O que foi feito neste primeiro mês?

JC – Eu vejo o governo Roberto Naves como o governo da gestão. Uma das mudanças de características do prefeito é uma coisa que eu ainda não vi nas últimas administrações, principalmente nas que eu participei: a participação do líder em todas as ações, reuniões e em todas as decisões que serão feiras pelo executivo. O prefeito faz questão da minha presença para que eu possa, inclusive, opinar, estar ciente se aquela mudança será boa ou ruim. Isso eu não vi nas administrações passadas e já caracteriza uma mudança de comportamento. Eu vejo que esta administração não será de grandes obras. O que a população pode esperar é um governo de gestão. Vejo uma preocupação maior nesse sentido.

AVA – Houve diminuição em relação ao número de comissionados?

JC – Houve, sim, da seguinte forma: quando saiu, o ex-prefeito João Gomes fez uma exoneração quase que total, ficaram só alguns que não poderiam ser desligados naquele momento. O prefeito, gradativamente, tem retornado dentro daquilo que é realmente necessário. A proposta que ainda não chegou a ser concluída é de fazer uma redução na casa dos 30% em relação ao número de comissionados. A ideia é de que fique entre 800 e 900 cargos em comissão.

AVA – Um assunto que chamou a atenção, neste primeiro mês, foi em relação a algumas nomeações. Nomeações de parentes, inclusive. Houve um caso específico do irmão de Valeriano Abreu. Qual a sua opinião sobre a nomeação de parentes dentro da estrutura da administração municipal?

JC – É a que eu sempre tive e não vou mudar. Enquanto líder do prefeito, jamais partirá de mim uma ofensa pessoal, uma desmoralização direta ao ex-prefeito João Gomes e nem ao ex-prefeito Antônio Gomide. Primeiro que não faz parte da minha índole, segundo porque são meus amigos pessoais. Então eu não sou a favor desse tipo de política de desmoralização.

AVA – Qual política de desmoralização?

JC – De que aquilo que está dentro da lei, se pode ser feito, se pode ser nomeado ou não, quem vai decidir é a justiça.

AVA – Mas a Justiça tem a definição do que é isto. Essa prática, segundo o STF, se chama Nepotismo.

JC – Sim. É o que estou dizendo. A lei tem que ser cumprida. Eu não quero tecer minha opinião porque eu não sei quais as composições que o prefeito fez que resultaram nas nomeações.

AVA – Mas a pergunta é técnica, não política. O fato está no Diário Oficial assim como está na Lei.

JC – Vou dar um exemplo pessoal. Eu tenho um filho que está na prefeitura e que foi colocado na gestão anterior. Qual o erro disso? Não fui eu quem nomeei. É um rapaz que presta o seu serviço com competência, não falta serviço e é um homem sério. Qual o problema? Eu não vejo dessa forma. Agora, foi considerado nepotismo? A justiça exige uma tomada de decisão? Então deve ser tomada. O líder do prefeito não vai estar ali para defender as coisas erradas do governo. Ele vai estar ali para que não aconteça injustiças ao governo.

AVA – Um mês de gestão. Qual o ponto positivo e o negativo desse período Roberto Naves? É possível elencar?

JC – Como positivo, eu diria a humildade em estar conversando com todos os setores ao ponto de rever pensamentos após estas conversas. Outro ponto positivo é o desejo de se fazer uma boa gestão, de enxugar a máquina pública sem importar com as perdas políticas que isso possam acarretar. Vou dar um exemplo: o prefeito não titubeou em rever o repasse aos times anapolinos. É uma perda política? É! Em outra conversa, agora, com servidores da educação, ele disse não ser possível conceder o ajuste em janeiro e fez acordo para fazer o repasse em data posterior. É outra perda política? É! De agora em diante é aguardar e torcer para que tudo dê certo.

AVA – E o negativo?

JC – Eu acho que o ponto negativo nós vamos observar no decorrer do mandato. Porque é muito cedo, ainda, você apontar um ponto negativo.

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