Jalles Fontoura: “Não teve falta d’água em Anápolis: tivemos uma semana e agora, porque a chuva faltou”

Paulo Roberto Belém e Henrique Morgantini

O que a população anapolina tem chamado de falta de água, o presidente da Saneago, Jalles Fontoura de Siqueira, entende como readequações técnicas e questões burocráticas que levaram a problemas pontuais no abastecimento do produto na cidade. Ele explica que as obras de transposição do Rio Capivari serão responsáveis por solucionar eventuais problemas decorrentes da estiagem e garante que já em novembro este empreendimento estará pronto, com atraso de um mês. Ele garante que “vai sobrar” água em 2018. Fontoura assume também que está pronto o projeto de duplicação da Estação de Tratamento de Água de Anápolis, cujo processo licitatório deverá começar em breve. Quanto à municipalização dos serviços de tratamento e abastecimento de água e esgoto, Jalles Fontoura vê que este não será o caminho. Para ele, a Saneago tem forte aceitação da população e deverá continuar sendo a empresa responsável pelos serviços mesmo após o fim do contrato na cidade, em 2023.

A Voz de Anápolis – Qual é a arrecadação mensal da Saneago na cidade?

Jalles Fontoura de Siqueira – R$ 12.033.466,66, valor referente a setembro de 2017.

AVA – Esse valor é suficiente para cumprir a demanda das obras de que a cidade precisa para resolver o problema da água?

JFS – Claro que não. O investimento da água em Anápolis são dois níveis, o provisório e definitivo. O provisório é esse que está sendo feito agora. Estamos prevendo de terminar até o dia 10 de novembro a transposição do Capivari e os dois poços. São sete, oito poços, mas os dois são grandes, que vão ter uma folga de água interessante para Anápolis. Esse é um projeto, ao lado de um trabalho de redução de perdas, que era muito maior que em todas as outras cidades. A parte do Piancó, fazer aquele acordo com os produtores. Então, é o 2017. Esse projeto é o que está sendo executado para agora. O outro projeto é o estrutural, que é dobrar a estação de tratamento de Anápolis. Onde ela está, vai ser duplicada e uma nova rede, onde vai ser a captação do Capivari, 12 quilômetros abaixo daquela que está na BR-414, que vai fazer essa rede com uma nova adutora, investimento de R$ 103 milhões. Esse projeto da ETA já está pronto, o outro está sendo feito e é o que a gente quer licitar agora. Esse valor, em um total, somado os dois, de R$ 120 milhões, é o que nós estamos aplicando agora.

AVA – Essa ETA é mesma cujo projeto remonta ao ano de 2012? Ela deve ser iniciada em 2018?

JFS – A ideia é iniciar agora. Nós já temos o lançamento encaminhado para isso. Mas o mais importante é que o projeto de duplicação da ETA está pronto. Nós já temos condições de licitar agora. Agora isso não é água para 2018. Água para 2018 vai sobrar. É água para a demanda futura, para a expansão da cidade, para as AVTOs. Essa transposição do Capivari e as operações que estão sendo feitas irão garantir a água para 2017 e 2018. Agora, para depois de 2019, é que vai ser necessário (realizar outras obras), como a expansão da ETA

AVA – Nessa mesma época, em 2012, 2013, já havia sido aventada essa possibilidade de fazer a transposição, tal como a que está acontecendo. Naquele momento, os estudos apontaram que não haveria a vazão adequada. O que mudou?

JFS – Nós fizemos as análises agora: é suficiente. A água do Capivari, que hoje vai ser buscada, é uma captação com uma adutora de 400 milímetros. E ela vai ficar ao lado da faixa de domínio na BR-414, em Abadiânia e a medição da vazão lá sempre foi suficiente. Nunca foi considerado que não era possível. A discussão era fazer o projeto e executar. Para dar agilidade ao processo, executamos – essa vazão será um grupo gerador que nós adquirimos para complementar os 900 litros por segundo para Anápolis. Nunca mudou nada. O projeto já estava feito. Eu só tomei a decisão de antecipar a execução com equipe própria. Já está 90% pronto.

AVA – Há uma frustração da população, porque essa obra havia sido prometida para o final de setembro, período de maior estiagem em Anápolis. Até então, a obra não ficou pronta e a estiagem contribuiu para a falta de água. Como justificar essa demora?

JFS – A demora da obra. Ela foi começada em junho e ela tem um ritmo muito bom. Eu queria realmente terminar ela em setembro, mas no nosso jogo de composições que foi feito, de AVTOs (Atestado de Viabilidade Técnico-Operacional), as empresas, até assinarem esse compromisso. Elas estão recebendo recursos e recebendo autorização do AVTO da Saneago. Esse acordo com a MRV, Grupo Confiança, até passar no setor jurídico de um, passar no setor jurídico de outro, está atrasando um mês. Para mim, ela tinha que ter entrado em outubro. Porque, na verdade, viemos muito bem com o trabalho do Piancó, em que eu particularmente estive. Tive o apoio da Saneago, da Emater e da própria Prefeitura. Fizemos o serviço e o serviço de redução de perdas. Por isso que Anápolis não teve falta de água. A falta de agua tradicional, terrível, foi muito minorada por essas ações da Saneago. Nós tivemos uma semana de falta de água e agora, porque essa chuva (faltou). Vale lembrar que nós temos uma seca, a pior crise hídrica em 80 anos. Nós tivemos racionamento de água muito grave no Brasil, sérias restrições de água em Caldas Novas. Outras restrições de água em Catalão. Essas regiões que não têm Saneago tiveram essa restrição. Anápolis, então, teve um pequeno período de uma semana e agora nesses dias. Nós estamos trabalhando para inaugurar o Capivari agora. O que falta agora é o acabamento. Eu queria fazer em outubro, mas infelizmente vai ser em novembro.

AVA – Com essa obra então, em 2017 e já em 2018 a população vai ter o consumo doméstico regularizado?

JFS – A questão que vai ficar faltando é a expansão. E não é só essa situação. Tem uma outra providência, que são os poços artesianos, que vão dar uma vazão muito interessante. Nós conseguimos algo que não acontecia em Anápolis, que é uma perfuração interessante. Esses poços e o Capivari vão garantir a água de 2018. E nesse ano, o que está atrasando é essa do Capivari. Nós estamos com 90% da obra concluída.

AVA – Para 2018, qual será o investimento da Saneago para a cidade de Anápolis?

JFS – Vai ser a duplicação. Não é necessário concluir em 2018. É a duplicação da ETA (Estação de Tratamento de Água), cujo projeto está pronto e nós já vamos licitar. E a construção dessa adutora, a partir desse ponto, que é no mesmo Capivari, 12 quilômetros abaixo. No dia em que essa captação estiver pronta, vamos poder desativar essa que está sendo inaugurada agora, ou deixa-la como reserva. O Rio Capivari recebe mais alguns afluentes abaixo do ponto, por isso que vai ter vazão suficiente.

AVA – O mote das eleições do ano passado foi a água e a municipalização, que logo foi sepultada. Agora, percebe-se que quando há um desarranjo entre Governo e Prefeitura, o prefeito torna a falar na municipalização. Como a Saneago lida com isso e como o senhor, como presidente, lida com esta tensão política?

JFS – A municipalização… olha, eu acabei de fazer uma pesquisa rigorosa, com uma amostragem muito grande, com um dos melhores institutos de pesquisa: tem algumas conclusões interessantíssimas. Por exemplo, dois terços da população acham que a água da Saneago e o serviço da Saneago estão entre ótimo e bom. Apenas 7% da população acham que o serviço está ruim. Se você distribui regular, a maior parte para ruim e uma parte para boa, você tem mais de 70% das pessoas (que) acham, gostam da Saneago. Segunda observação dessa pesquisa é que quando se coloca para a pessoa: “você prefere a Saneago ou você gostaria de outra alternativa, que seja municipalização, terceirização ou outra? Então, nesse caso, 50% dos pesquisados falam que preferem a Saneago e 42% dos entrevistados nem citam municipalização, nem terceirização, querem cisterna. Impressionante, esse dado é novo. Eles preferem a cisterna para não gastar. Agora, em uma cidade igual Anápolis, ou Goiânia, o lençol freático está todo contaminado, não é possível. Não é possível mais pensar em cisterna.

 AVA – Puxar a água direto?

JFS – Está contaminado. Existem pesquisas que (afirmam que) não tem mais chance de cisterna em grandes concentrações. Para você ver, a população sequer aceita municipalização ou terceirização. Ou é Saneago ou é cisterna, um processo de redução de custos. Essa pesquisa, que é muito interessante, mostra a credibilidade da Saneago. E eu vou mais: nós tivemos neste ano 98% da população absolutamente normal com relação à água. Quer dizer, 2% com irregularidades, seja em Anápolis, seja em Goiânia, seja em outras cidades. 2%. Nós nos pautamos pelos 98%. É claro que os 2% são gravíssimos, porque faltar água é pior do que faltar energia. Eu acho que são números muito interessantes que demonstram a eficiência e a credibilidade da Saneago junto à população.

AVA – Você citou exemplos como Brasília, Caldas Novas e Catalão, que logicamente não são administradas pela Saneago. Você quer dizer, então, que onde a Saneago não atua está tudo mal?

JFS – A Prefeitura de Catalão deve mais de R$ 500 milhões para a Saneago, como Caldas Novas também. Nós nunca recebemos o de direito, juridicamente reconhecido. O que é pior é isso: o serviço lá está muito inferior ao que a Saneago faz em 226 municípios. Qualquer um dos 226 municípios é melhor do que Catalão, é melhor do que Caldas Novas, qualquer um. Agora, que pese que nós fizemos esses investimentos lá. Eu sempre achei que a imagem da Saneago era pior do que é. Agora, eu estou trabalhando aqui. Estou vendo a expertise, a responsabilidade. Nós demos conta de cumprir nosso dever. As falhas aconteceram, infelizmente, em Anápolis. Eu mesmo prometi lá para o prefeito: prefeito, nós não vamos ter falta de água nesse ano. A Saneago fez um trabalho enorme lá de redução de perdas, Piancó, fizemos essa transposição. Eu sinto ela não poder ter sido já inaugurada agora, porque agora, se voltar a chover, as pessoas não vão valorizar o tamanho do esforço que as equipes estão fazendo lá.

AVA – Foi um erro anunciar a data e não dar a satisfação para a população ainda nesse ano sobre a obra que foi prometida como a responsável por dar um fim na falta de água?

JFS – Nós vamos dar satisfação agora em novembro, vai terminar a obra, a tubulação está assentada. Se houve algum erro, vai ser um mês de atraso em uma obra que realmente é muito importante. Seria confortável para nós se tivesse inaugurado agora em outubro, seria muito confortável, porque o desejo era esse. Agora, esses entraves burocráticos (atrasaram), mas o projeto continua. No ano que vem, nós estamos aprovando várias AVTOs agora lá para aumentar as habitações de Anápolis. Esse projeto que está sendo feito é para dar essa expansão, que é projeto da Prefeitura, inclusive.

AVA – Em 2023 finda-se o contrato da concessão da Saneago com o município. Passadas essas obras, tanto emergencial, quanto estrutural, deve entrar, ainda dentro do mandato do atual prefeito, esse debate sobre a possível renovação desse contrato ou vai deixar para frente?

JFS – É desejável que a gente comece a discussão, porque isso envolve, na renovação dessa concessão, o Plano Diretor de Anápolis, como Anápolis percebe, planeja, projeta os próximos 30 anos, a discussão com relação à drenagem, a questão do esgoto. Eu acredito que nós vamos continuar trabalhando e que nós vamos concluir essa obra transitória agora em novembro e vamos continuar as obras definitivas, de modo que Anápolis esteja na situação em que Goiânia hoje ficou: produção de água e distribuição de água. No caso de Goiânia, nós resolvemos o problema da produção de água, água tratada. Falta a distribuição da água. Então, problemas nós temos, muitos. Porque o sistema, a concepção de água, que foi feito pela NASA, há muitos anos, está no seu limite. Então agora é pensar no futuro.

AVA – Então a discussão sobre a possível renovação desse contrato pode começar já no ano que vem?

JFS – No caso de Goiânia, já começou. Em Anápolis, ainda não. O prefeito fez essa comissão. Eu acho importante olhar todas as alternativas e acho – eu tenho muita expectativa – que, com esses investimentos que nós estamos fazendo e que nós vamos fazer, nós vamos garantir para Anápolis um serviço de qualidade, que no fundo – eu penso profundamente em Anápolis. Então, no fundo eu percebo que as pessoas querem a Saneago. Tem toda a questão política, disputa de poder, todo esse contexto, mas eu acho que a torcida da população, na sua maioria, eu vi pesquisa, é que a Saneago consiga servir Anápolis integralmente. E essa é a melhor e mais adequada solução.

AVA –Essa comissão montada pelo prefeito para avaliar a situação da água incomoda de alguma forma?

JFS – Não, pelo contrário. Eu acho saudável. Na medida em que as pessoas, os técnicos estudam o problema e à medida que nós temos um projeto para Anápolis, um projeto vigoroso, acho correto.

AVA – Não vai desistir fácil?

JFS – Pelo contrário. Nós queremos ser modelo de água para Anápolis. Eu tenho muita convicção disso. Nós temos esse débito com Anápolis e vamos pagá-lo.

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