Lélio Alvarenga: “Vou manter independência, mas com uma agenda positiva para Anápolis”

Em seu primeiro mandato como vereador, Lélio Alvarenga já começou mostrando em seus posicionamentos que fazer parte da base do prefeito Roberto Naves não significa concordar com todas as ordens que vêm do Executivo. Tanto é verdade que em temas espinhosos como a Saúde e Funcionalismo Público já há certa divergência entre Lélio e o Gabinete. Ele se diz parte do grupo que propõe uma “agenda positiva” para a cidade, independentemente da sigla partidária. Mas ele sabe muito bem que na política nem tudo é acordo de cavalheiros e já começou a sofrer pressão para não sair da linha e para se manter em sintonia com a gestão atual.

A Voz de Anápolis – Como vereador de primeiro mandato, qual foi sua primeira impressão do Legislativo de Anápolis?

Vereador Lélio Alves de Alvarenga – Foi interessante, porque eu já esperava o quadro, já vinha acompanhando há algum tempo o legislativo de Anápolis. Desde a campanha passada – fiquei como suplente – estava sempre atuante, sempre em contato nas reuniões. Eu tinha mais ou menos um parecer. Uma coisa é a teoria, você ficar como suplente. Outra coisa é você poder participar no Legislativo.

AVA – O senhor viu algo de certo, de errado, algo que o senhor já queira mudar a partir desta impressão em três meses de legislatura?

LA – Já. Esse período a gente já tem uma noção. Até me surpreendeu um pouco. Talvez por ter renovado bastante (a Câmara). A gente ouvia falar tantas coisas ruins da Câmara. Na realidade, eu constatei um lado positivo de tudo isso. Por exemplo, esta renovação que ocorreu da legislatura passada facilitou o nosso trabalho, porque a maioria é de novatos. São treze novatos, então nós estamos na maioria. Então eu penso que são pessoas sem vícios anteriores e isso facilita o nosso trabalho.

AVA – Mas o que você viu de certo, de errado?

LA – Bom, certo é o dia-a-dia. Eu acho que esse diálogo, esse entendimento, o dia-a-dia do plenário é muito interessante. Porque você reúne diferentes opiniões, umas mais abrasivas, outras menos. Mas todas com conteúdo e isso facilita o trabalho. Agora, eu venho questionando a respeito desta verba que existia de R$ 17 milhões para construção da Câmara. Na verdade, esta verba é uma verba em que foi feito tipo uma poupança, oriunda parte da Câmara, parte da Prefeitura. E falam: “Mas este dinheiro estava disponível para a Prefeitura, para usar na hora em que quisesse”. Eu entendo o contrário. Eu questionei desde dezembro, questionei o Roberto (Naves), questionei na prestação de contas o João (Gomes), juntamente com a equipe econômica. Porque, por mais que eu seja leigo na contabilidade bancária, você sabe que qualquer centavo que sai de uma conta, entra em uma conta, tem que ter o lançamento.

Hoje, talvez seja minha maior contrariedade no Legislativo seja esta, porque eu quero ir atrás. Não tem problema para onde saiu, se foi para pagar folha de pagamento. Eu quero que me mostre para onde foi esta folha de pagamento e de onde saiu. Se foi para a Secretaria de Educação, se foi para a Saúde. Eu quero ver o caminho deste dinheiro. É uma busca do meu mandato ter esta resposta.

Eu acho que a morosidade do poder público é o que mais contraria a gente. Hoje eu sou presidente da Comissão de Saúde, creio em uma forma diferente de fazer esta comissão. As associações nunca tiveram a oportunidade de terem sua voz ouvida na Câmara. E hoje toda semana a gente ouve na comissão de saúde. Nós nos reunimos com diversas categorias, (como os) renais crônicos, diabéticos.

AVA – Com tantos novatos na Câmara, qual é a avaliação que o senhor faz dos vereadores eleitos até o momento?

LA – A avaliação é boa. Muito sangue novo, com vontade de fazer as coisas, com vontade de mudar. Eu creio que isso tem facilitado, eu creio que isso tem sido o carro-chefe. Talvez nós que somos novatos nos limitemos um pouco. Por mais que você estude o regimento interno, você acaba se limitando.

AVA – Como tem sido a sua relação com a atual gestão municipal? Você é situação ou é oposição?

LA – (Risadas). Nosso partido faz base com o governo. Sou do PSC, partido socialista. Nosso partido lançou o Dr. Valeriano, mas nós não conseguimos ir para o segundo turno. Nós criamos, em dezembro ainda, foi noticiado na imprensa anapolina, o grupo chamado “independente”. A ideia seria uma agenda positiva para Anápolis. Esta agenda positiva para Anápolis tinha como objetivo apoiar todos os projetos que fossem bons, independentemente se seja da oposição ou da situação. A gente representa o povo, eu sempre tive esse idealismo. Se for para ficar um mandato, que seja um mandato honrado, eu sempre quero ser representante deste povo. Quero fazer uma coisa diferente. Quem tem me acompanhado, nas redes sociais e no dia-a-dia, tem visto que eu trabalho pelo povo.

AVA – Nós temos visto uma certa independência em seus pronunciamentos. Esta tônica vai ser mantida nos seus quatro anos de mandato?

LA – Tentarei. Na última semana mesmo recebi uma visita no gabinete, me cobrando um posicionamento. Eu vou reunir, ainda nesta semana, com meu partido. Como eu falei, eu sempre quis fazer política voltada para o povo, independentemente de partido.

AVA – Essa visita foi de representantes do partido?

LA – De vários. Pessoas que às vezes estavam contrariadas com meu pronunciamento. Eu critiquei um pouco o governo. Porque eu sou presidente da Comissão de Saúde e a gente tem lutado muito, a gente tem até extrapolado a lei, feito além do nosso papel, de verificar, de analisar os processos que cabem à Comissão de Saúde. Então, nós temos feito este acompanhamento, tentando resolver este problema da saúde. Então, houve uma reunião sobre Saúde e a comissão ficou de fora. Eu fiquei chateado, porque a gente está resolvendo os problemas, correndo atrás. Descascar a mandioca você descasca, agora comer a farinha você não come. A gente fica chateado. Mas estou fazendo o meu papel. Sou representante do povo. O que o Roberto mandar para a Câmara, se for a favor do povo, eu estou favorável.

AVA – O senhor não foi comunicado desta reunião que fizeram?

LA – Fui comunicado via e-mail e eu também tinha o aniversário da minha mãe em Goianésia. Se eles tivessem me ligado, eu teria ido em outro horário ou outro dia. Mas sem mágoas. Foi só uma notificação que eu fiz, um reclame, na verdade. Se a gente é base, temos que estar juntos. Mas essa independência, eu pretendo manter, com essa agenda positiva para Anápolis. Vou me reunir com os outros vereadores também. Tem pessoas sérias, que querem fazer uma política voltada para o povo de Anápolis.

AVA – Quais mudanças na Saúde que o senhor que propor através da comissão?

LA – Assistência. Eu perdi minha esposa para o câncer há seis anos e eu sei o que este povo passa de dificuldades. As pessoas com doenças crônicas, os renais, crônicos, que ficam duas, três horas em uma máquina sofrendo, os efeitos colaterais são difíceis, não tinha assistência para estas pessoas. Juntamente com a secretária Luzia, graças a Deus, está tendo assistência. São muitas coisas, faltar insulina para pacientes diabéticos. Até fiz um pronunciamento naquele dia (do protesto dos diabéticos contra a falta de medicamentos).

AVA – Qual é o principal desafio, o principal buraco na Saúde?

LA – Hoje nós não temos internação. Não tem vaga. A Santa Casa não está pegando quase ninguém. O Municipal não suporta. Precisamos de UTI, atendimento, cirurgias. É tentar regularizar o sistema de internação. Precisa caminhar muito. Anápolis hoje não atende só Anápolis. Atende a uma região. (Devemos) fazer um recadastramento destes cartões SUS, um recadastramento sério. Ter uma ou duas testemunhas (comprovando) que a pessoa é realmente moradora da cidade. Às vezes fica um paciente que não é pactuado, você vai deixar este paciente morrer? Não vai deixar. Você vai ser processado, vai ser condenado. Você tem que pegar. Quem vai pagar? Ele não é pactuado. Tem que pegar, acabou o tratamento, pega-se esta conta, faz-se uma nota fiscal e manda para a Prefeitura (da cidade que enviou o paciente), manda para o secretário de saúde de lá. Depois que chegar uma meia dúzia de nota, ele vai tomar uma providência. Por que quem ganha? A população. A população de lá e a daqui. Vai desafogar nossa cidade, vai ter condições de dar um tratamento mais digno para a população anapolina.

AVA – Quais são os pontos positivos e negativos da gestão municipal?

LA – Eu acho que o Roberto está no rumo certo. Tentando renovar, reformular, diminuir gastos. A crise está conosco também. O índice de desemprego em nossa cidade é grande também. Quando você tenta sanar este vazamento, esses excessos, eu creio que o caminho é por aí. Agora, precisa ir com coerência, a questão da reforma do funcionalismo. Acho que tem algumas coisas que vão ter que ser revistas mesmo. Mas tem que ter cautela. Penso eu que o caminho melhor da gratificação seria produtividade. Não conversei com o Roberto ainda. A produtividade beneficia quem trabalha. Quem não trabalha não recebe. Não é justo você se matar trabalhando e o outro lá que fica no bem bom – às vezes nem aparece – ter as gratificações. Cada caso é um caso. Essas renovações precisam ser revistas de verdade, precisam ser analisadas caso a caso. Eu acho que o caminho é por aí.

AVA – A Câmara deveria ter maior participação na discussão dos direitos dos servidores?

LA – Os projetos que foram para a Câmara, foram bem discutidos.

AVA – O senhor tem uma nota de avaliação para dar para a Câmara Municipal e Por quê?

LA – Nesse início de mandato, eu daria uma nota oito. A Câmara tem se esforçado, nosso presidente Amilton é um vereador muito humano e muito democrático. Todas as vezes em que eu precisei nesta negociação com o sindicato (o vereador Lélio Alvarenga propôs emenda no projeto que tratava de alterações no Estatuto do Servidor), percebendo-se a necessidade a urgência naquele momento, ele me atendeu prontamente.

AVA – Pouco tempo depois da eleição, o senhor prometeu investir em saúde, educação e segurança. O primeiro projeto de cada uma destas áreas vai sair quando?

LA – Eu, na verdade, em dezembro, passei em mãos para o Roberto extraoficialmente oito projetos para a saúde. Só porque eu pensava que fosse resolver ontem. Eu pensei que passando para o Executivo, a coisa iria andar mais rápido. Passei também outro projeto: a implantação de câmeras de monitoramento eletrônico, para fazermos uma central 24 horas por dia, como se fosse uma SWAT. Eu acho que todos os bairros têm que ser monitorados.

AVA – E projetos para a Educação?

LA – Eu fui coordenador de colégio dois anos. Estou com um projeto em mente para a Educação. Assim que estiver pronto eu vou passar.

AVA – Do PT para o PSC, o que mudou?

LA – Eu nunca escondi de ninguém a admiração que eu tenho pelo Antônio Gomide. Um cara que sabe de política, um cara coerente. O defeito dele talvez seja ser partidário demais. Ninguém é perfeito neste mundo. Mas como gestor, um grande gestor. Eu sou da época do primeiro projeto do PT, em 85. Tudo o que eu sonhei na minha vida, onde o pobre tem direito de estudar, onde o pobre tem direito de ter carro. Como a maioria dos brasileiros foram enganados com esse falso projeto. A salvação, falando em ética, moral, honestidade. Então, eu conheço o Gomide. Eu sou daqueles sonhadores ainda. Eu penso que as coisas podem dar certo. Eu creio. Porque, à medida que eu achar que não tem jeito, pode ter certeza, eu nunca dependi de um centavo de política, de gestão passada. Tive a oportunidade de pegar vários cargos, não peguei nada. Porque eu não queria me comprometer em nada. Eu não quero nunca ser tratado com oportunismo.

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