“Lula está sendo punido pelas classes privilegiadas”, afirma Noam Chomski, um dos maiores filósofos vivos do mundo

Um dos mais respeitados filósofos vivos do mundo, Noam Chomski é considerado o “pai da linguística moderna”. O norte-americano concedeu entrevista na edição desta quarta-feira (02) à Folha de S. Paulo em que analisa a situação política do Brasil, com destaque à prisão do ex-presidente Lula e, ainda, faz uma avaliação da esquerda brasileira e do cenário da democracia na Venezuela.

Para o pensador, Lula está sendo punido pela defesa que fez dos mais necessitados dentro de um cenário de opressão histórica das elites. “Lula está sendo punido pelas políticas reformistas que deram um apoio muito necessário à massa da população que é reprimida”, disse.

“O rigor da punição, além da rejeição do pedido de habeas corpus, vai muito além do crime alegado, e essa punição só pode ser interpretada como parte de um ataque generalizado das classes privilegiadas contra tudo o que o governo Lula representou”, afirma Chomski.

Para o linguista, os erros da gestão de Lula, “que foram reais”, não apagam os avanços na área social, revertendo um quadro já estabelecido de desigualdade. “Suas políticas beneficiaram muita gente, dando sustentação econômica, oportunidade de educação, dignidade e uma sensação de que essas pessoas tinham um papel a desempenhar na vida do país”, ponderou.

“O silêncio imposto a Lula e o colapso do PT —em parte, há que se reconhecer, auto infligido— são um golpe duro contra as esperanças de o Brasil realizar seu potencial de chegar a um grau maior de justiça social e desenvolvimento econômico e cultural”, lamentou.

Chomski ainda citou a execução de Mariele Franco, no Rio de Janeiro, como um “outro ataque amargo contra direitos humanos básicos e as aspirações das vítimas tradicionais da repressão e injustiça”. “As marretadas do governo reacionário de Temer contra a sociedade brasileira são um presságio de um futuro sombrio para a população do Brasil”.

 

Esquerda

O Professor Emérito em Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts ainda convoca a esquerda brasileira para uma autocrítica. “A esquerda deveria examinar o que deu errado e pensar em todas as oportunidades que foram desperdiçadas porque sucumbiu à maldição da corrupção e a planejamentos falhos. A base social precisa ser reconstruída do zero, com participação direta de comunidades e instituições. Uma das principais tarefas é reverter as políticas atuais, que têm implicações nefastas para o futuro do Brasil. Uma esquerda revitalizada deveria propor programas que emergem da deliberação popular”, sugere.

 

Venezuela

Sobre a situação da Venezuela, Chomski avalia como um cenário de “perspectivas sombrias”. “De acordo com observadores internacionais respeitados, como a fundação Carter, e levantamentos do Latinobarómetro, a Venezuela realizava eleições íntegras e tinha apoio popular durante os anos Chávez, mas a situação deteriorou severamente desde então e, apesar de o país se manter democrático na forma, na substância a democracia foi reduzida marcadamente. Infelizmente, a oposição oferece muito poucas respostas construtivas ou alternativas. As perspectivas são sombrias”, disse.

 

Confira a íntegra da entrevista aqui.

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