Luzia Cordeiro: “Não haverá apagão de medicamentos”

Paulo Roberto Belém e Felipe Homsi

Avessa a comparações entre gestões, Luzia Cordeiro afirma gerir para o futuro a importante pasta que tem sob sua responsabilidade. Seu posicionamento, confidenciado para A Voz de Anápolis, é o de “trabalhar para desenvolver a saúde municipal e ponto final”. Já no começo da sua gestão, problemas como o descredenciamento do Hospital Espírita de Psiquiatria do Sistema Único de Saúde (SUS) e a falta de determinados medicamentos, revela um cenário ainda mais desafiador. Graduada em Psicologia Clínica e Organizacional e Gestão Pública, Luzia já ocupou outros cargos. Recentemente, foi Secretária Municipal de Administração e Recursos Humanos, na gestão Antônio Gomide.

A Voz de Anápolis – Considerando o início de sua gestão à frente da Saúde, qual a situação encontrada e as medidas adotadas?

Luzia Cordeiro – Vamos falar das medidas adotadas. Acho muito interessante que a gente trabalhe com planejamento e com ação. Nós encontramos uma estrutura muito adequada, com estrutura boa de várias Unidades Básicas de Saúde, de Centro de Atendimento 24 horas, a exemplo do Hospital Municipal com a característica que lhe é peculiar. Mas, no entanto, precisando de mais dinamismo, de um pouco mais de controle e de gestão.

AVA – Então, o que foi feito?

LC – O que nós priorizamos foi fazer uma administração funcional começando pelo nosso organograma. Agora, nós temos uma diretoria de Atenção Básica que atende atualmente 57% da população, queremos chegar aos 80% porque entendemos que se a atenção básica for realizada de forma competente, com várias especialidades, com exames e estrutura de pequenos curativos na ponta, nós iremos desafogar a atenção especializada, a urgência e a emergência. Fizemos, também, uma diretoria de Controle, Avaliação e Regulação que vai cuidar tanto do controle da saúde e também da nossa regulação que é, na verdade, um grande gargalo. Hoje, nós temos cerca de 400 mil habitantes, mas, no entanto, temos 800 mil cartões SUS. Não é só o município de Anápolis que convive com esse problema. Por isso, ao lado de outros municípios, estamos estudando uma forma competente de continuar atendendo tanto a região dos Pirineus, como outras regiões pactuadas e o estado.

Outra diretoria criada é a de Assistência Especializada. Nela, todo o atendimento básico, a urgência e a emergência, a exemplo da saúde mental, a de atenção ao idoso é considerado. Estamos, inclusive, com um projeto junto ao estado para criar uma unidade AME (Ambulatório Médico de Especialidades) que é o próximo passo do atendimento básico. Criamos, também, a diretoria de Urgência e Emergência no qual temos toda a nossa rede 24 horas. Em resumo, nosso novo organograma veio para organizar o atendimento, em todos os níveis, à criança, à mulher, o homem e os idosos. Nisso, a assistência vai ser bem ampliada.

AVA – Estes atendimentos especializados, essa ampla rede, já não existia no município?

LC – Existe uma estrutura física. Por exemplo, o Cais Mulher funciona muito bem, embora a gente tenha que ampliá-lo. Então o serviço tem que ser ampliado, mas essa estrutura existe.

AVA – Nesta semana tivemos uma manifestação por conta da falta de medicamentos específicos para diabéticos, no caso da insulina Lantus. Como o município está administrando esta situação?

LC – O município, desde o ano passado, vem administrando essa questão da dispensação da insulina Lantus. Desde o mês de dezembro, ela não vem sendo dispensada. Nós deparamos com problemas pontuais de abastecimento e de credibilidade com fornecedores deste medicamento específico. Tivemos que negociar dívidas passadas, tanto que após essas negociações, não tivemos problemas de dispensação da Lantus neste ano: dispensamos dia 15 de janeiro e agora, nesta última quarta-feira, 15 de fevereiro. Só que nós estamos utilizando alguns critérios provisórios porque a nossa equipe de endocrinologistas se reuniram nesta última terça-feira, 14, e iniciaram a criação de um protocolo para depois levá-lo ao Conselho Municipal de Saúde. Então, nós vamos criar protocolos de dispensação da Lantus. Mas é bom lembrar que temos todas as outras insulinas análogas, todas elas. O programa que foi criado em 2005 e reformulado em 2008, ainda pelo ex-prefeito Pedro Sahium, foi um programa maravilhoso. Nele, inclusive se fala da equipe multidisciplinar. Nós não queremos de maneira alguma, piorar o programa, mas, melhorá-lo.

AVA – Você quer dizer que todo diabético quer ser atendido com este melhor tipo de insulina, no caso, a Lantus?

LC – Não exatamente. Temos a diabetes tipo 1, 2. Os nossos endócrinos e o protocolo depois de configurado que vai dizer quem é que necessita da Lantus ou quem é que necessita de outros tipos de insulinas. Nós estamos trabalhando dentro de critérios. É bom ressaltar que o único município que dispensa a Lantus é Anápolis. Nós temos pareceres técnico-científicos do Ministério da Saúde que dizem que ela tem uma maior duração, mas não necessariamente precisamos tratar o paciente com Lantus. Esta situação está sendo bastante estudada, trabalhada. Queremos adotar critérios para que a gente dispensar realmente a quem necessita.

AVA – Essa crise pode resultar num apagão de falta de remédios?

LC – De maneira nenhuma. Nós estamos administrando contabilmente e financeiramente os recursos de 2017. Estamos pagando em dia até aqui. Até fizemos compra emergencial de medicamentos que chegaram nesta semana. Enfim, vamos regularizar todo o abastecimento. O que não podemos é comprometer o orçamento de 2017 para pagar dívidas anteriores. Vamos pagá-las, com certeza, mas neste momento é preciso compreensão.

AVA – Tivemos o recente descredenciamento do Hospital Espírita de Psiquiatria de Anápolis. Antes, o mesmo ocorreu com o Hospital de Queimaduras. Como o município está administrando esta nova situação? Vai precisar se reorganizar, também, no atendimento psiquiátrico especializado?

LC – Desde 2015, um parecer técnico do Ministério da Saúde foi apresentado ao município, estado e ao hospital [espírita psiquiátrico]. Fizeram um TAC à época para resolver a situação. TAC e contrato venceram agora em janeiro e nada foi acompanhado. Eu sou da opinião de que o administrador público tem que estar junto com o seu parceiro, mas nada foi solucionado no ano passado. Nós estamos há mais de 45 dias trabalhando com o Ministério da Saúde, com o estado, com o Hospital Psiquiátrico e com todos os técnicos daqui, porque nós temos um programa de saúde mental no município, verificando esta situação. Não vamos desligar aleatoriamente o Hospital Psiquiátrico. Temos que ter respeito ao trabalho que eles já prestaram. Ele tem que atender os critérios técnicos do Ministério da Saúde e a equipe do Hospital está muito acessível. A administração municipal também está sensível e dentro de 90 dias, o Hospital não vai sofrer prejuízo. Nós não vamos deixar esta área sem assistência. Enquanto isso, vamos configurando uma nova rede. Acredito que a partir de abril, nós teremos um parecer definido de como agir.

AVA – Ao lado da importância do Hospital Psiquiátrico, entendemos o fortalecimento da rede mental no município que não envolve somente danos psiquiátricos, mas também o assunto das drogas, do alcoolismo e uma lacuna sobre a rede de psiquiatria. Como vai se dará este fortalecimento?

LC – Pouco tem se falado, mas está sendo executado. Estamos com uma coordenação de saúde mental e um grupo multiprofissional fazendo todo esse planejamento. Estamos fortalecendo os nossos Caps. Temos o Caps 3 que está sendo instalado, estamos organizando na nossa rede 24 horas estrutura para atender o paciente da saúde mental e estamos aumentando o quadro de equipe multiprofissional com psicólogos e terapeutas ocupacionais. Então, tem-se trabalhado muito, tanto que no Hospital Municipal já tem um lugar adequado pra ser atendido um paciente psiquiátrico.

AVA – A senhora é favorável à política da internação em casos mais graves?

LC – Somos SUS. Temos que estar consonantes à política de saúde mental do Ministério da Saúde.

AVA – A Secretaria de Saúde precisa de quanto tempo para prestar um atendimento condizente com o que a população espera?

LC – Eu costumo dizer que a saúde é imprevisível e perecível. Nós estamos sempre atuando. Nós não sabemos o que nós teremos amanhã. E temos que estar preparados ativamente para atender as urgências e emergências. Quero citar o exemplo do Hospital Municipal. Estamos, lá, melhorando os instrumentos da sala de cirurgia, melhorando as nossas enfermarias para que algumas cirurgias possam ser feitas lá. Porque hoje nós temos cerca de três mil cirurgias para serem feitas, uma demanda reprimida. Então estamos fechando parceria com o Hospital Evangélico, com a Santa Casa e também com o Hospital Municipal, criando várias equipes de traumatologia, ortopedia, de otorrinos, clínicos gerais, enfim, para que a gente possa em tempo recorde, iniciando em 1º de março, trabalhar essa demanda reprimida e também estar atendendo prontamente as cirurgias emergências e urgentes.

 

AVA – A senhora compartilha da ideia de que se todos os investimentos de administração fossem aplicados na Saúde, esta ainda não seria perfeita?

LC – Não. Existem paradigmas a serem quebrados. A gestão em saúde não é fácil. Ela tem que ser dinâmica e competente. O mito de “a saúde no Brasil é ruim, não vai pra frente” não é verdade. Acredito, sim, na qualidade da saúde ofertada. Vamos fazer trabalhos preventivos, vamos inverter. Vamos deixar as urgências e emergências para tais. Vamos trabalhar a saúde básica. Estamos com ações planejadas que serão praticadas a partir de março. Queremos atingir 80% da população na saúde básica. Muitos problemas que são encaminhados para a urgência, emergência e para as especialidades poderiam ser resolvidos na atenção básica. Ali, na clínica da família.

AVA – A sua gestão vai ser referência em que? Por qual motivo ela será lembrada?

LC – Será referência na Saúde. Não adianta ser referência somente em áreas específicas, mas em várias especialidades. Temos que ser referência na Saúde.

Notícias Relacionadas