Mãe busca atendimento no município para filho com câncer: “eu me sinto impotente”

O pequeno M.S.S tem apenas dois anos e já passou por lutas que poucas crianças no Brasil passam. Ele é portador de um Meduloblastoma, câncer de alto risco no cérebro que, em seu caso, exige tratamento por Quimio e Radioterapia.

A mãe de R.S.S, Micirene Freitas de Souza, destacou que, para o tratamento do filho, precisou fazer um plano de saúde privado para conseguir atendimento com neurocirurgião, já que, conforme afirmou, a Secretaria Municipal de Saúde informou que este tipo de profissional não está disponível na rede pública.

Agora, ela luta para que a Secretaria libere o procedimento para implantação de um cateter no menino, que auxilia no acesso às veias da criança. Sem o acesso venoso, o tratamento é dificultado e o procedimento quimioterápico se torna muito agressivo, já que, conforme relatado, é preciso “furar” o paciente várias vezes.

Foi em abril do ano passado que os sintomas começaram a se manifestar. Até dezembro, a mãe tentou junto à Secretaria de Saúde que o filho fosse encaminhado para o tratamento pela Rede Pública, mas uma série de entraves, segundo informou, fizeram com que o atendimento à criança se atrasasse.

“Cada dia mais o problema dele ia só se agravando”, informou Micirene. Sem respostas por parte do poder público, de acordo ainda com seu relato, ela decidiu agir por conta própria: “foi aí que a gente decidiu correr atrás de um plano”. Em janeiro o diagnóstico foi feito, pela rede particular. “No mês passado a Quimio dele até atrasou por conta do cateter (sic)” e “não conseguem encontrar a veia dele”, continua a mãe.

Com a ajuda de conhecidos, o cateter foi comprado no valor de R$ 1500,00. Apesar de ter o instrumento em mãos, a mãe diz que o tratamento ainda não foi continuado porque a Secretaria de Saúde não liberou o procedimento para sua implantação. A mãe alega que a saúde pública pouco fez para que seu filho fosse atendido.

“Eu me sinto impotente de não poder fazer nada. Porque o que eu posso fazer é correr atrás. Eu corro atrás, eu luto, às vezes se precisar pedir, eu peço, mas a gente sente ao mesmo tempo inútil, porque o que a gente corre para poder conseguir, a gente não resolve, porque não depende só da gente. Depende de Ministério Público, depende de Secretaria de Saúde, de Prefeitura”, disse Micirene, mãe de M.S.S, de apenas dois anos.

“Se fosse um parente deles, eles não fariam o que eles fazem com muita gente”, continua. Para ela, o filho que tem “muita vida pela frente”; Micirene se mostra indignada pelos entraves da rede pública: “Eu só recebo não na cara”. Ela já fez uma rifa para arrecadar fundos para o tratamento.

Judicialização

O caso do pequeno M.S.S, de apenas dois anos, é um entre muitos que foram judicializados – processo que ocorre quando as famílias ou organizações de apoio acionam entes públicos para garantir tratamentos para doenças graves, principalmente aquelas de alto custo.

Valber Barreto é diretor do Núcleo Esperança, que oferece assistência a pessoas com câncer em Anápolis em Região. O trabalho, que tem o apoio de instituições hospitalares com o Hospital Araújo Jorge, esbarra na falta de iniciativa do Poder Público Municipal, conforme especificou Valber.

Ele destaca o “sistema moroso” que não atende à “necessidade continua” dos pacientes com câncer e ressalta ainda as condições precárias de postos de saúde e unidades básicas de saúde: “é imoral, é desumano”. Conforme alega, diversos problemas no sistema de regulação, municipal, estadual e federal, emperram o atendimento a quem precisa do atendimento de urgência e emergência.

Valber Barreto, do Núcleo Esperança, expõe que “não tem tido avanços” e as respostas estão sempre “atrasadas”, o que faz com que muitos tratamentos aos pacientes com câncer comecem no momento errado. Para ele, a burocracia e a falta de vontade política se transformou em uma espécie de “câncer social”.

Até três casos por semana são judicializados e enviados para o Ministério Público por semana. As situações vão desde a falta de fornecimento de medicamentos de alto custo até a recusa do município em realizar procedimentos necessários a portadores de câncer.

Valber Barreto cita os casos da criança de dois anos que precisa implantar o cateter, a situação de uma jovem que precisa realizar uma desarticulação no quadril por conta de um tumor ósseo e várias outras situações de pessoas que precisam de um simples exame de imagem.

“Essa situação é (o mesmo que) se cobrir em um dia frio como esses agora com um cobertor curto: você tampa em cima e destampa embaixo”, pontua. Dados do Núcleo Esperança e da Associação de Voluntários de Apoio ao Paciente com Câncer de Anápolis indicam que, somente em maio, seis casos foram judicializados, situações que “podem comprometer a vida” dos pacientes com câncer, conforme cita Valber Barreto, diretor do núcleo.

O número de judicializações chega a três por semana, informou ainda Barreto.

Diretor do Núcleo Esperança, Valber Barreto presta assistência a crianças com câncer

Prefeitura

A Secretaria Municipal de Saúde enviou nota à reportagem sobre o atendimento dado a pacientes com câncer. Confira na íntegra.

A Secretaria de Saúde esclarece que tem dado atenção especial aos pacientes com câncer, oferecendo o atendimento necessário, incluindo o fornecimento de insumos e medicamentos. Cabe ressaltar que os medicamentos de alto custo são de responsabilidade do Estado.

Os judicializados que a secretaria tem conhecimento são pacientes que aguardam vaga na Central de Regulação de Goiânia, não sendo mais de competência do Sisreg do município Anápolis. Sendo assim, está dentro da normalidade os atendimentos aos pacientes com câncer.

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