As 25 crianças e adolescentes que estavam internadas na Clínica CRV – Clínica de Reabilitação Vida, que funcionava clandestinamente há três meses no município, foram encaminhadas ao IML local para exames de corpo de delito. Várias delas apresentavam hematomas, algumas estavam malnutridas e a muitas estavam em más condições de higiene. Este centro de reabilitação funcionava no setor Chácara Flor de Liz. As informações são do Conselho Tutelar local.
O caso veio à tona quando quatro menores chegaram no Conselho Tutelar acompanhados dos pais, depois de terem fugido da clínica clandestina, onde estavam para reinserção social, pois eram usuários de drogas. Quando a equipe do Conselho observou a condição em que estavam, acionou o Juizado da Infância e Juventude.
A Polícia Militar foi chamada e se deslocou ao local para buscar o restante dos menores e encaminhá-los ao Conselho Tutelar. “Chegando lá, constatamos a situação, que eles estavam em cárcere privado, havia sinais de espancamento, houve denúncia de que tinha até abuso sexual dos monitores com uma das crianças que estavam lá”, destacou o conselheiro do Conselho Tutelar Leste, Joanan Alves Fernandes. Crianças, adolescentes e adultos eram mantidos em conjunto na CRV. Conforme a legislação, as instituições de reabilitação são obrigadas a fazer a separação entre homens e mulheres, adultos e menores.
Conforme informou o conselheiro, os donos tentaram fugir, mas foram encontrados pela PM. Inclusive, há o relato de que teriam tentado escapar com algumas crianças, que já foram encontradas. O conselheiro informou os primeiros nomes dos donos da clínica, Roberto e Paula. Ele não soube informar se havia sido decretada a prisão do casal. A delegada Carla de Bem está a cargo das investigações.
“Esta clínica veio de Aparecida de Goiânia há três meses e ela estava irregular na cidade”, constatou. A CRV não possuía alvará de funcionamento expedido pelo Conselho Municipal da Criança e do Adolescente. “Totalmente clandestina”, atestou. No local, as crianças e adolescentes eram mantidos em cárcere privado e só saiam para se alimentar. “O quarto era como se fosse uma cela”, elucidou. Alguns menores eram adotados e a maioria vinha de outros estados, como Minas Gerais e Tocantins.
Em alguns casos, os adolescentes e crianças, usuários de drogas, eram mantidos financeiramente pelos seus pais; outros chegavam à clínica por determinação judicial. “Os meninos eram ameaçados”, continua a explicação. Os pais já foram comunicados da situação dos seus filhos e um local já foi encontrado para manter os menores provisoriamente.
De maneira voluntária, o proprietário da Clínica Valor da Vida, Wesley Muller, se prontificou a abrigar os 25 meninos e meninas até que eles sejam encaminhados aos seus pais. “Se não fosse a Valor da Vida, a Prefeitura não teria local (para abrigá-los), citou Joanan.
Durante a madrugada, a equipe do Conselho Tutelar teve que fazer “vaquinha” para comprar alimentos aos meninos e foi feito um lanche de pão com mortadela. Um padre cuja igreja fica na Vila Fabril ajudou com a alimentação. De acordo com fontes internas do conselho, nenhuma autoridade da Prefeitura foi encontrada para que uma solução emergencial fosse buscada.
O conselheiro Joanan está perplexo pelo fato de a CRV ter funcionado durante três meses no município sem que ninguém percebesse e tomasse providências. Conforme relatou, esta entidade já funcionava de maneira irregular em Aparecida. Quando mudou sua sede para Anápolis, trouxe alguns dos internos.
O mesmo questionamento é feito pelo conselheiro tutelar Lucas Soares Rodrigues, do Conselho Tutelar Oeste. “Como um juiz da comarca de uma cidade encaminha um menor para uma instituição que não tem alvará?”, pergunta.