Moedas, selos e “tocos de lápis”: anapolinos mostram suas coleções

Colecionar exige dedicação, tempo e, muitas vezes, dinheiro: alguns objetos não podem ser estimados financeiramente, mas devem ser vistos pelo valor sentimental e histórico: conheça alguns aficionados pelo hobby na cidade

Felipe Homsi

Colecionar sonhos é possível? Se fosse, muitos anapolinos teriam este item aos montes. Os colecionadores são verdadeiros sonhadores, aficionados por organizar, catalogar, envolver-se na história por trás dos objetos e compartilhar este mundo de fantasias e viagens homéricas com todos.

E é claro que o cuidado no manuseio, o trato dos objetos, a escolha do ambiente em que vão ficar e o carinho que se tem pelas coleções fazem com que muitas, peças, décadas depois de terem sido produzidas, fiquem parecendo novas e muitas vezes possam até ser usadas. Mas quem quer correr o risco de estragar estas preciosidades?

O professor universitário Gilmar Provensi começou a colecionar selos e outros objetos aos oito anos de idade. Hoje, sua coleção inclui selos, moedas e pedras. Para ele, colecionar objetos leva o colecionador a entrar em contato com o universo e a história daquilo que está representado em pinturas, formas e frases.

Para o professor Gilmar Provensi, colecionar “ajuda a desenvolver a inteligência”: ele mantém selos e moedas

Quem coleciona, conforme pontuou, adquire uma habilidade extra para organizar sua própria rotina e a ter um pensamento sistematizado sobre o mundo. “Colecionar é extremamente interessante para quem quer aprender a ser uma pessoa mais organizada e ajuda a desenvolver a inteligência”, destacou.

Alguns de seus selos foram premiados internacionalmente, como os da coleção sobre o transporte pelo mundo. Outros, foram adquiridos no dia do lançamento e, portanto, vêm com uma estampa especial que confere mais valor ao objeto. As moedas e selos são de vários países e as pedras são obtidas em cidades brasileiras por que o professor Provensi passa.

Um de seus maiores desejos é que os filhos continuem as coleções do pai. “É um desejo profundo que todo colecionador tem perpetuar a coleção e não deixar os objetos se perderem. Por isso, incentivo meus filhos e eles já têm suas próprias coleções”, declarou o colecionador.

“Coleção de inimigos”

A professora universitária Klenia Rodrigues Pacheco Sá colecionas insetos que podem se transformar em pragas biológicas nas plantações, mas que são importantes para o equilíbrio natural dos biomas brasileiros e dos locais onde brota todo tipo de planta. Ela é engenheira Agrônoma, mestre em Fitopatologia e doutora em Entomologia, o estudo dos insetos.

Sua coleção pessoal de insetos é usada em sala de aula para ilustrar o conteúdo abordado nas disciplinas de Entomologia. “É importante para os alunos conhecerem estes insetos para identificarem quais causam danos”, explica. A professora detalha que o trabalho fora e dentro da sala de aula consiste principalmente em catalogar as pragas que ocorrem com mais frequência nas plantações.

Klenia Rodrigues coleciona insetos: “Eu monto uma coleção de inimigos naturais, úteis ao meio ambiente”

O trabalho de colecionar estes bichos nem sempre bonitos pode ajudar as pesquisas que visam ajudar na diminuição do uso de agrotóxicos pelos agricultores, com base no controle natural destes seres que sobrevoam as plantações e, quando não possuem controle, podem devastar culturas e destruir o trabalho do plantador que espera o ano todo pela colheita.

“Eu comecei a criar esta coleção e ela se tornou uma coleção em prol da ciência, do meio acadêmico”, diz orgulhosa. Ela se diz uma apaixonada por insetos, antes de tudo. A curiosidade, a pesquisa, a análise dos materiais coletados são um reflexo desta paixão que começou bem antes da sala de aula.

Seu próximo objetivo? Ela quer ampliar a coleção e descobrir quais insetos ocorrem com mais frequência no Estado de Goiás. E sobre cada inseto obtido será informada a data em que foi encontrado, a época do ano em que aparece mais e em qual tipo de cultura e localização geográfica a coleta foi realizada. O brasil possui mais de um milhão de espécies de insetos.

Este é um trabalho que exigirá muita dedicação da professora de Entomologia Klenia Rodrigues, “já que nem todos os insetos ocorrem em todas as épocas do ano”. Mas ela não quer parar o trabalho e está determinada a continuar contribuindo com a ciência por meio da sua coleção. “Eu monto uma coleção de inimigos naturais”, ironizou sobre a sua coleção de pragas biológicas naturais.

Aos 84 anos, aposentada mostra a sua coleção da época da escassez da Guerra

Dona Lázara Ferreira Espíndola tem 84 anos, possui cinco filhos e é natural de Orizona (GO). Ela nasceu em 20 de outubro de 1932. “Eu tinha dez anos, eu lembro do meu pai com um rádio enorme”, é uma de suas lembranças da infância na época da Segunda Guerra Mundial, que durou de 1939 a 1945. “Nós vivemos a época da guerra, muita falta, tinha escassez de papel, arroz, açúcar”, conta.

Lázara Ferreira observa os restos de lápis de 1942: “ficava o toquinho, se precisasse”

E é justamente no período bélico que começa sua coleção de “tocos de lápis”. Até hoje, Lázara Ferreira Espíndola guarda o que sobra dos lápis que utiliza. No início, era apenas o medo de o produto faltar, já que em períodos de guerra a escassez fazia com que, mesmo no Brasil, alguns produtos não chegassem ás prateleiras dos supermercados.

Ela explica que “usava até acabar” os lápis e que “ficava o toquinho, se precisasse”, já que não se sabia até quando a guerra iria durar. “Eu tinha mania de guardar coisas”, conta sobre o seu medo de não ter mais como escrever. Os resquícios deste hábito forçado, por assim dizer, estão até hoje.

Ela continua guardando os “toquinhos” e usa os restos de lápis didaticamente para contar histórias aos netos sobre a guerra, claro, mas principalmente sobre como dar mais valor ao que se tem. Ela relata que “antigamente, as pessoas davam mais valor nas coisas. Hoje em dia tudo é muito desperdiçado”.

No Grupo Escolar Constâncio Gomes, de Orizona, ela e duas irmãs dividiam o mesmo pequeno quadro negro e tinham que se desdobrar, já que cada uma estava em uma série. Isso porque não havia papel suficiente para todas. Os lápis antigos que ela coleciona são de 1942. Eram muitos, 50 praticamente, “mas os netos acabaram com eles”.

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