Moradores do Vale das Laranjeiras denunciam esquecimento e clamam por asfalto e água potável

Cansados de esperar, moradores protestam, mas esbarram na falta de ação da gestão municipal que não apresenta previsão para asfaltar o setor: enquanto isso, em dias de chuvas, moradores chegam a ficar ilhados em casa

Paulo Roberto Belém

Entre os bairros Vivian Parque, Parque Calixtópolis e o Residencial Copacabana, existe um setor esquecido. É logo na entrada principal do Vale das Laranjeiras que já é possível observar o principal motivo que caracteriza esse esquecimento. O que pode-se chamar de rua, caminha para uma situação em alguns dias ou meses, dependendo da incidência das chuvas que arrastam o cascalho da via não pavimentada, pode nem existir mais.

É bem esse acesso que o construtor Wolney Silva tem que percorrer para sair para o trabalho. “São dois rallys que faço. Um pela manhã e outro no final da tarde. Olha que eu nem sou piloto”, brincou ele. Deixando de lado a brincadeira, o Wolney encara a situação como séria e cita que a principal demanda do bairro é o asfalto. Segundo ele, a promessa é grande. “Dessa vez, prometeram para o ano que vem. Enquanto isso a gente sofre. Desse jeito, ainda está tranquilo. Tem época que fica pior”, relatou o construtor.

O veículo do construtor Wolney Silva: necessidade de fazer “dois rallys por dia”

Quem também defende o problema da falta de asfalto como a demanda principal do bairro é o líder dos moradores do setor, mais conhecido como Carlinho Laranjeiras. Foi ele quem apresentou as outras vias do bairro apontando o problema gerado pelas vias não pavimentadas. “São 11 ruas aqui e temos muitas que se tornam intransitáveis”, apontou, exibindo a rua que está mais danificada.

Ruas ainda estão boas, relatou o construtor Wolney Silva: “Tem época que fica pior”, avisa

 Cobrança

O líder disse que já fez inúmeras reclamações à Prefeitura, mas que a resposta que sempre recebe é alegação de que o setor é uma invasão. “Dizem que ninguém faz nada aqui porque ninguém paga imposto. Mas aqui, mais de 60% dos terrenos são escriturados”, garante. E complementa. “A Prefeitura tinha que procurar uma maneira de trazer o asfalto e não de complicar ainda mais”, citou.

Líder do bairro, Carlinhos Laranjeiras rebate Prefeitura: mais de 60% do bairro paga impostos

Fora isso, o representante bairrista diz que já está na justiça um pedido de regularização do residencial. “Estamos esperando providências desde 2012”, afirmou ele, mostrando a situação de algumas casas que a falta de infraestrutura das ruas está fazendo com que nem os carros possam entrar ou sair das garagens. “É um risco”, observa.

Água

Descendo um pouco mais para o interior do bairro, outra moradora reclamava de outra situação. “Você já viu a questão da falta de asfalto, mas quero complementar que aqui não temos água encanada”, disparou Valmíria Ribeiro, auxiliar de produção. A casa em que ela mora foi herdada de seu sogro. A propriedade tem 40 anos.

Além do asfalto, a moradora Valmíria Ribeiro pede água potável

É a função de dona de casa de Valmíria que a faz citar a água potável importante. “A gente tem criança pequena e a preocupação é grande. Não dá para viver só de cisterna”, desabafou.

Protesto

Foi o fato de estarem cansados de esperar uma resposta efetiva que gerasse alguma esperança de melhoria da infraestrutura do setor que motivou uma manifestação por parte dos moradores na última segunda-feira, 6. Boa parte deles utilizou da inauguração simbólica do novo “plenário” alugado da Câmara Municipal para chamar a atenção e através de cartazes pediram os serviços de infraestrutura para o Vale das Laranjeiras.

Moradores inauguraram o plenário alugado da Câmara com protesto: pedidos de “asfalto” e “água potável”

Entre os pedidos, “asfalto” e “água potável”. Amilton saudou os manifestantes, sugerindo que o novo espaço já teve utilidade. “Coincidência ou não, vocês não teriam nem lugar para ficar em pé”, disse o presidente aos manifestantes em referência ao “antigo” plenário.

João da Luz (PHS) e Luzimar Silva (PMN) deram resposta aos manifestantes. “Fiz vários requerimentos solicitando linha de ônibus, o asfaltamento e outros serviços. Não foi falta de vontade”, disse o vereador que já havia trazido a questão no legislativo, sugerindo que o prefeito “precisava conhecer” o Vale das Laranjeiras.

“Infelizmente não houve atendimento que vocês mereciam”, chamou a atenção o vereador que disse que vai cobrar do prefeito a atenção ao setor. “Vamos chamar a atenção do prefeito pela aprovação do orçamento para atender o Laranjeiras no próximo ano”, finalizou.

Já Luzimar, citou uma série de outras demandas que precisam ser levadas ao setor. “Tantas coisas chegam para outros bairros e para o Laranjeiras nada”, citou. O vereador disse que já solicitou serviços no setor, mas que por enquanto não foi atendido. “Vamos ver essa questão do orçamento”, disse.

 

Irregularidades não impedem melhorias, destaca procurador

Consultada pela reportagem, a Procuradoria Geral do Município destacou que a pendência imobiliária que existe nas ocupações do Vale das Laranjeiras não é de responsabilidade da esfera municipal por se tratar de empreendimento particular. Perguntada se essa pendência é fator impeditivo para que o asfalto chegue ao setor, a Procuradoria é enfática. “Este fato não impede que o município, numa política pública de valorização e de melhoria do bairro, fazer o asfaltamento”, destacou o procurador do Patrimônio Imobiliário, Leonardo Pedroso.

Irregularidade imobiliária não impede que setor receba pavimentação, destaca procurador Leonardo Pedroso

Por outro lado, o procurador cita que o problema é a falta de verbas e que a pavimentação do setor virá de uma programação que adota como critério atender regiões mais adensadas. “Tem que se estudar caso a caso, rua à rua, bairro por bairro, para ver aonde a Prefeitura vai atuar”, explicou. Esta análise geral, quem faz é a Secretaria de Obras, pontuou Pedroso.

 Respostas

Sobre a chegada de água canalizada ao setor, a gerente Saneago em Anápolis, Tânia Valeriano, disse que até recebe pedidos de ligação de água para o Vale das Laranjeiras, mas que o fato da não regularização completa do setor inviabiliza essa ação. “A legislação prevê que as ligações sejam bancadas pelos proprietários e quando se tem um custo alto para isso, individualmente, para uma ocupação regular, o contribuinte desiste”, citou. Ela sugere que com um maior número de ocupações regulares, isso fique mais fácil.

Com a orientação do procurador do município, a reportagem entrou e contato com a Secretaria Municipal de Obras para saber se há programação para que o setor seja atendido, mas até o fechamento desta edição não recebeu resposta.

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