O viés totalitário do povo brasileiro

Luiz Ruffato

A candidatura de extrema-direita do deputado Jair Bolsonaro, que aparece nas pesquisas de opinião pública como forte nome para disputar um segundo turno das eleições presidenciais do ano que vem, seja contra o petista Luiz Inácio Lula da Silva, seja contra qualquer outro candidato, na ausência deste, deve ser pensada no contexto do viés totalitário da população brasileira. Para resolver o descalabro da corrupção do sistema político e para colocar um ponto final na decomposição do sistema de segurança pública, problemas complexos e de resolução a longo prazo, a população, de maneira geral, prefere o caminho mais fácil, e ilusório, do autoritarismo.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a sociedade brasileira, numa escala de zero a dez, atinge a altíssima nota de 8,1 no Índice de Propensão ao Apoio de Posições Autoritárias. A tendência é mais acentuada entre os menos escolarizados, os de menor renda, os mais velhos, os pardos, aqueles que habitam municípios menos populosos e os que vivem no Nordeste. Na curva etária, a faixa de 16 a 24 anos mostra-se mais inclinada ao autoritarismo do que as duas subsequentes (25 a 34 e 35 a 44 anos).

A mais recente pesquisa Datafolha, divulgada no início de outubro, mostra que Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro disputariam um segundo turno, com 35% e 16% das intenções de voto, respectivamente. É interessante observar que, na ausência de Lula, que ainda pode ter sua candidatura impugnada pela justiça, Bolsonaro poderia crescer justamente naqueles bolsões de autoritarismo apontados pela pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, anotados no parágrafo acima, e, curiosamente, onde Lula tem seu melhor desempenho.

O candidato da extrema-direita lidera no Norte (25%) e Centro-Oeste (23%) e Lula no Nordeste (57%). Bolsonaro consegue suas melhores intenções de voto nos municípios entre 200 mil e 500 mil habitantes e nos acima de 500 mil habitantes (nos dois grupos, 21%), enquanto o petista tem preferência maior entre os que moram em municípios de até 50 mil habitantes (45%). Por idade, Lula lidera em todas as faixas, enquanto Bolsonaro tem seu melhor desempenho entre jovens de 16 a 24 anos (24%).

Além disso, Lula tem maior aceitação entre os que estudaram até o ensino fundamental (49%) e possuem renda familiar de até dois salários mínimos (46%), enquanto Bolsonaro lidera em grupos de maior renda familiar (29% entre cinco e dez salários mínimos e 30% acima de dez salários mínimos) e com nível superior completo (21%). Segundo o Índice de Propensão ao Apoio de Posições Autoritárias, as pessoas mais ricas, que ganham mais de dez salários mínimos são aquelas que, proporcionalmente, mais rejeitam a ideia de ampliação dos direitos humanos e civis, como por exemplo, da população LGBT, das mulheres e dos negros. Nesse caso, o índice atinge 7,83 numa escala de zero a dez.

Uma pesquisa realizada pelo Fórum Econômico Mundial, que se reúne anualmente em Davos, Suíça, constatou que, entre os 137 países que compõem seu Índice de Competitividade Global, o Brasil ficou em último lugar no quesito “Confiança do público nos políticos”, ou seja, a nossa percepção de que lidamos com a pior classe de políticos do mundo é verdadeira. Quando passou por aqui, no começo de outubro, o ex-presidente norte-americano, Barack Obama, afirmou que a distância entre os cidadãos e o poder político é o combustível que alimenta o crescimento de movimentos nacionalistas e autoritários, e fez referência explícita ao caso do Brasil. O quadro que se pinta para o ano que vem não é nada alentador…

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