Por interesses desconhecidos, vereador apresenta projeto contra gestão Naves

Mauro Severiano (PSDB), que é vice-líder do prefeito Roberto Naves, quer que cidade volte a analisar implantação de transporte alternativo: STF tem decisão consolidada e contrária ao tema

Da Redação

Assunto que já foi banido tanto da cidade de Anápolis quanto do embate jurídico, por conta de uma decisão de corte superior, o chamado “transporte alternativo” feito através de vans e similares voltou à tona na última semana. Isto porque o vereador Mauro José Severiano (PSDB) apresentou projeto na Câmara Municipal abrindo o debate para a instalação desta modalidade de transporte.

Para se ter uma ideia, a última vez em que este tipo de transporte foi considerado – e desde aquela época foi rechaçado – foi durante a gestão de Ernani de Paula, em 2002. À época ficou configurado que a instalação de vans seria prejudicial ao trânsito uma vez que tumultuaria ainda mais o já denso tráfego de Anápolis.

Cabem duas observações: de 2002 para 2017, ou seja 15 anos, a frota de veículos em Anápolis aumento mais de 200%. Outro ponto curioso é que na mesma época, Mauro Severiano, que era vereador e da base de sustentação da gestão de Ernani de Paula, promoveu calorosos discursos contrários à entrada das vans no transporte coletivo municipal.

O que teria feito, portanto, Mauro Severiano rever seus conceitos a ponto de mudar radicalmente de opinião e, agora, capitanear ele mesmo um projeto que os traga às ruas? Algumas posições não mudaram: Mauro era base do Governo de Ernani de Paula, assim como já havia sido na gestão de Adhemar Santillo e viria também ser governista na gestão de Pedro Sahium, que sucedeu Ernani.

A única mudança substancial no cenário do transporte público é que houve, no ano passado, a troca das empresas concessionárias do transporte coletivo. Por mais de 30 anos, a TCA foi detentora da concessão, perdendo-a em certame público para o Consórcio Urban.

Governo

Ainda não está claro se existe alguma relação formal com estas semelhantes e diferenças de 2002 para 2015, mas o fato é que como vice-líder do prefeito na Câmara, Mauro Severiano apresenta uma proposta, no mínimo, indigesta ao gabinete do prefeito Roberto Naves. A proposta, apresentada e protocolada na última semana, bate de frente com interesses claros e estratégicos da gestão municipal, a começar pelos cofres da autarquia mais rentável do município, a CMTT – Companhia Municipal de Trânsito e Transporte.

Em entrevista recente, o diretor da companhia, Carlos Toledo, disse que a estrutura de fiscalização se limita a 38 agentes para tomar conta da cidade. Quantos seriam necessários para atuar na fiscalização dos alternativos?

Além disto, um debate sobre isto causaria impacto direto no contrato estabelecido entre o município de Anápolis e a empresa, uma vez que os valores estabelecidos pela exploração do serviço e já pagos foram moldados sob um sistema pré-definido: com a abertura da concorrência, em caso de aprovação do projeto proposto pelo vice-lider, a gestão possivelmente seria convocada a devolver dinheiro para a Urban.

Em um tempo que o prefeito Roberto Naves (PTB) assume um desgaste de sua imagem e da própria gestão ao cortar benefícios trabalhistas dos servidores para poder encher os cofres do tesouro municipal, o vereador tucano coloca este projeto todo a perder: o dinheiro economizado saído dos cortes das gratificações e do IPTU poderia ir direto para pagar a Urban.

Explicação

O vereador Mauro Severiano ainda não fez a defesa do seu projeto. Apresentado na última sessão de abril, o parlamentar certamente terá as primeiras sessões do mês seguinte para explicar aos 22 colegas qual a sua verdadeira intenção em rasgar suas posições, invertê-las e, agora, propor o que condenava.

O vereador Mauro Severiano, agora, é a favor do transporte alternativo e promove ataques sistemáticos à Urban

Em uma de suas falas – das diversas que fez sobre o Transporte Coletivo e, em especial, sobre a empresa prestadora de serviço, Mauro ironizou uma história que é recorrente no meio político: a de que a TCA manteria uma espécie de “bancada” de vereadores que teria a missão de defender os interesses da concessionária. “As pessoas diziam que tinha aqui a bancada da TCA, que ela dava dinheiro para os vereadores falarem bem dela”, lembrou Mauro ao citar o episódio em fala oficial, usando o plenário da Câmara.

Outro episódio envolvendo o tema, Severiano atacou a Urban por não ter benefícios como um clube que a empresa anterior, a TCA, tinha. Mauro reclamou da falta do mimo de uma sede social para os empregados e finalizou: “Esta empresa faz praticamente trabalho escravo em Anápolis”.

Ao contrário da tal lenda política de que a TCA manteria uma mesada a políticos e a integrantes da imprensa de Anápolis na sua época para defender seus interesses, ainda não há notícias – ainda que extra-oficiais – que dão conta de que a Urban esteja mantendo uma folha de pagamentos para vereadores, profissionais de outros setores, com o interesse de falarem bem de seus serviços.

 

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