Preço da carne caiu até 15% após Carne Fraca, afirmam produtores

Insegurança sobre a qualidade do produto também levou a uma redução imediata na venda de carnes e derivados: consumidores falam sobre cuidados que têm na compra a partir da operação policial

Felipe Homsi

A deflagração da Operação Carne Fraca pela Polícia Federal em 17 de março foi focada principalmente em fraudes que eram cometidas na fiscalização de grandes frigoríficos brasileiros como JBS e BRF. Foram encontradas irregularidades, como papelão em lotes do produto e carne podre que estaria sendo comercializada.

Apesar de não ter sido deflagrada em todos os estados brasileiros, o forte efetivo para a operação, com 1100 homens, a forte repercussão no país e casos de produtos podres que estavam sendo comercializando foram levando as pessoas ao medo. A partir de sua deflagração, a Carne Faca também seria um fator decisivo sobre o que iria à mesa dos cidadãos nos dias seguintes.

A Carne Fraca atuou no Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás e no Distrito Federal. E o que se viu depois disso foram situações como em Anápolis, em que o preço da arroba da carne de vaca diminuiu até 15%, prejudicando as vendas de muitos produtores, que estocaram a mercadoria naquele período para esperarem o período das “carnes fortes”.

“A arroba baixou muito”, lamenta o presidente do Sindicato Rural de Anápolis, Pedro Olímpio Neto. Conforme explicou, a crise foi sentida com maior intensidade no setor de carnes vermelhas, alvo-foco da Operação Carne Fraca e levou a uma “retração muito grande no setor”. Não somente os grandes frigoríficos, como JBS e Friboi, passaram por momentos de turbulência enquanto não se sabia o teor exato das investigações.

“Os pequenos sofrem mais”, pontua. Conforme indica o sindicalista, que também é produtor rural, algumas medidas foram tomadas pelos próprios frigoríficos anapolinos para que o mercado voltasse à sua normalidade. Uma fiscalização interna em cada empresa começou a ser feita, para que se verificasse a necessidade de adequações e ficasse garantida a qualidade do produto.

Gourmet

Marco Antônio Constancio da Silva tem uma sanduicheria ‘gourmet’ e utiliza quatro tipos de carne de vaca para a produção de seus hambúrgueres – ele preferiu não citar quais. Ele afirma nunca utilizou produtos vinculados às marcar investigadas na Operação Carne Fraca, mas “querendo ou não, esse tipo de informação lançada no mercado pode gera um efeito sensacionalista”.

Dono de sanduicheria diz ter “sorte” por não trabalhar com marcas investigadas, mas disse que clientes novos ficaram com receio de comprar

Conforme pontuou, os clientes novos do seu empreendimento ficaram receosos durante a deflagração da operação. Já os antigos, por estarem acostumados com o produto comercializado, possuem conhecimento sobre a qualidade do que é oferecido na hamburgueria.

“A sorte minha é que nenhum dos produtos que utilizo aqui é vinculado a nenhuma destas marcas (investigadas pela Carne Fraca). O que não impede o meu consumo em casa deste tipo de produto”, relata. Ele entende que deveria ter havido um critério maior na divulgação das informações sobre a operação, indicando que foi esta superexposição um dos fatores que levaram ao medo dos consumidores.

“Carne não é fraca”, garante açougueiro

Marcelo Farias é proprietário de um açougue no centro da cidade há 10 anos. “Nunca tinha acontecido este tipo de operação”, afirmou sobre o fato de jamais ter ouvido falar de algo como a Carne Fraca durante o tempo em que mantém seu negócio aberto. Sua primeira reação quando soube das ações da PF foi a preocupação em preservar sua clientela e garantir que os produtos comercializados tivessem a qualidade exigida pelo consumidor final.

Marcelo Farias afirma que vendas no seu açougue aumentaram após a deflagração da Carne Fraca, pela qualidade dos produtos

Houve um certo medo por parte dos clientes, destaca. “Tivemos o cuidado de estarmos fazendo uma fiscalização melhor, procurando frigoríficos que não estavam na Operação Carne Fraca e também o cuidado de estar trazendo um produto de qualidade para o cliente”, relata. Para garantir que a carne tenha qualidade, ele afirma que o acompanhamento é feito desde a compra, no frigorífico, até a chegada na loja. “As caixas são abertas e verificadas”, explica.

Um fato curioso é que seu açougue não teve queda nas vendas no período da Carne Fraca. “Teve até uma elevação no nosso movimento, teve uma melhora. A pessoa que não se preocupava muito, que comprava carne em qualquer lugar procurou um lugar com mais qualidade, com mais higiene, procedência”.

Para ele, a operação da PF foi uma questão isolada. Ele defende a carne brasileira e entende que a maneira como o processo se deflagrou prejudicou os produtores nacionais: “a carne brasileira não é fraca. Por isso ela está no mundo inteiro”.

Grandes

Luiz Gualberto Nunes, gestor de varejo em uma rede de supermercados e distribuição do município, informou que a carne representa em torno de 17% dos três supermercados existentes na cidade. Para ele, houve um “susto” na deflagração da Operação Carne Fraca, mas os critérios de segurança e qualidade do estabelecimento onde atua foram cruciais para evitar os prejuízos.

Luiz Nunes, gerente de varejo em rede de supermercados, evidencia susto, mas afirma que “cliente não deixou de comprar”

“O cliente não deixou de comprar”, relata. Os fornecedores de carne entraram em contato para orientar sobre procedimentos, como o recolhimento de algum produto. Ele informou que sua rede teve que recolher alguns lotes de salsicha, mais por “precaução” do que por falta de qualidade.

“Eu acredito que se não tivesse uma atuação das grandes marcas, que detêm um percentual muito grande do mercado (a situação teria sido pior” – elas se preocuparam em dar a atenção ao cliente. Para se ter uma noção, no dia, todas as marcas com as quais nós trabalhamos ligaram perguntando, pegando feedback sobre o que se tinha no estoque, como poderiam ajudar”, detalhou.

 

 

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