Prefeitura vai ceder espaço cultural para abrigar base de policiamento

Unidade, que cumpre agenda cultural no Filostro Machado desde 2011, será desativado para a instalação de base do Comando de Policiamento Especializado (CPE) da PM: atividades serão suspensas este mês

Paulo Roberto Belém

O Conjunto Filostro Machado, localizado na região leste da cidade, terá o seu Centro Cultural, em funcionamento desde julho de 2011, transformado em base de policiamento do Comando de Policiamento Especializado (CPE) da Polícia Militar. O pedido foi feito pelo Comando da PM de Anápolis à Prefeitura que interromperá as atividades culturais no espaço ainda este mês.

O comandante da Polícia Militar em Anápolis, coronel Giovani Valente, disse que fez o pedido, meses atrás, ao prefeito Roberto Naves, justificando a necessidade de implantar uma base da polícia no setor. “A região possui um alto índice de criminalidade e o pedido foi pautado por este motivo. A partir do dia em que a Prefeitura me ceder o espaço, no dia seguinte já estaremos lá com as nossas equipes”, garante o coronel.

Saída

O processo de desocupação do espaço já está sendo realizado pela Secretaria Municipal de Cultura. De acordo com o secretário Erivelson Borges, o prédio sequer é de propriedade da Secretaria. “Este prédio específico é de propriedade da Secretaria de Desenvolvimento Social que funcionava ali um dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) que foi transferido para o CEU do Alvorada”, explicou.

O secretário Erivelson Borges concorda com suspensão de unidade cultural: “criminalidade ali é crítica e prédio precisava de adaptações”

Borges afirma que desde quando foi chamado por Naves sobre o pedido, se reuniu com os representantes da CPE alegando não ter problema em disponibilizar o espaço. “Primeiro que para continuar como espaço cultural, o prédio precisava de adaptações. Segundo porque o problema da segurança ali é muito crítico. Mas, desde o início, informamos que a liberação ficaria condicionada desde que as atividades não fossem suspensas”, disse.

 Mudança

Segundo o secretário, as atividades no local serão desativadas no final de junho e que já tem outro espaço que vai abrigar as atividades culturais no setor provisoriamente. “Vamos utilizar, a partir de agosto, um espaço do Centro de Recondicionamento de Computadores do setor para funcionar, provisoriamente, um centro cultural”, afirmou, complementando que a Secretaria adaptará o local no mês de julho.

Borges garantiu que o funcionamento provisório do centro cultural no local será até que um novo prédio seja construído para abrigar o espaço e que este se localiza, inclusive, ao lado do prédio que será cedido à Polícia. “Existe uma área ociosa entre o atual centro cultural e uma quadra de esportes onde serão construídos um o novo centro cultural e outra unidade do Cras”, finalizou, prevendo que estes novos espaços sejam entregues em um ano. “Vai ser até melhor porque vai ser construído um espaço com o formato adequado para a realização das atividades culturais”, encerrou.

Doutora em Educação critica a desativação de espaços de inclusão

A Doutora em Educação Vera Lúcia Pinheiro entende que atitudes como esta representam o pensamento do Estado em aplicar um caráter penal à sociedade, ao invés de melhorar escolas, promover cultura e ações de esporte capazes de incorporar jovens por meio destas vias inclusivas. “Eu conheço a região e considero esta como uma política de repressão que tira do público o direito à integração destes jovens através deste instrumento. Isso não resolve o problema da segurança”, diz a especialista.

“Atitude é uma penalização a quem não tem culpa na construção deste cenário de violência”, afirma Vera Pinheiro, doutora em Educação

Pinheiro esclarece que a manutenção destes espaços de inserção social é muito importante para os jovens e que estes devem ser ampliados e não diminuídos. “Num bairro daquele, onde as crianças já nascem num lugar violento e quero dizer que violência não é só aquela física, mas também aquela que vem da falta de dispositivos básicos, a exemplo de saúde, você colocar polícia não vai resolver a violência que faz parte do cotidiano daquelas pessoas”, esclarece.

A especialista considera este tipo de atitude como processo de punição daqueles que não construíram esta realidade. “Os jovens são apenas as vítimas”, finalizou.

 

 

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