Resolução de homicídios em Anápolis não chega a 20% dos casos em 2017

Em menos de 90 dias do ano, foram contabilizados 36 mortes, mas número pode ter passados dos 45, uma vez que os registros não contabilizam outros crimes que levam, posteriormente, à morte da vítima

Paulo Roberto Belém

Anápolis contabilizou até a última semana, 36 casos de homicídios na cidade. O número foi divulgado pelo núcleo de estatísticas da 3ª Delegacia Regional de Polícia. Deste montante, de acordo com o delegado titular do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), Renato Rodrigues de Oliveira, seis inquéritos foram finalizados o que representa que a resolução de casos em 2017 não chegou à casa dos 20%.

Segundo o delegado titular, a expectativa e de que até o fim de março o percentual suba, pois estão em fase avançada de conclusão alguns inquéritos que estão em tramitação no GIH. Ele trabalha com a hipótese, inclusive, de que uma mesma pessoa ou um mesmo grupo sejam os autores de vários homicídios diferentes, o que pode influenciar consideravelmente na contagem. “O desfecho de um caso pode fazer com que vários crimes sejam finalizados”, explicou Oliveira.

Dificuldade

O delegado Renato Oliveira, responsável pela Homicídios: demora é natural pela complexidade dos casos

Oliveira atribui o baixo índice de resoluções à complexidade da investigação de homicídios que, em alguns casos, podem arrastar-se anos para que os inquéritos sejam concluídos e os suspeitos indiciados. “O crime de homicídio é um dos mais difíceis de serem desvendados porque o nosso principal fator impeditivo é o medo que as pessoas têm de denunciar”, afirmou.

O delegado cita exemplos de situações em que na própria família de algumas vítimas possam existir testemunhas decisivas para desvendar homicídios, mas que estas se calam por temer que a denúncia se torne fator de risco à vida. “Por mais que a gente trabalhe a questão da preservação da identidade e outras ferramentas de proteção, as pessoas têm medo”, disse.

 Casos

Alguns casos chamam a atenção em Anápolis e estão na lista dos que não foram solucionados. Os mais recentes e intrigantes correspondem a sequestros seguidos de execuções. No mês passado, dois destaques: o primeiro deles foi a execução de três jovens sequestrados juntos e mortos posteriormente. O outro caso é relacionado ao também sequestro e assassinato da transexual Emanuelle durante o carnaval. Ambos ainda são investigados pela Polícia.

Outro caso que repercutiu bastante na cidade é um dos seis que foram solucionados: o do crime de latrocínio do jovem Donato Gontijo ocorrido no último dia 5 de fevereiro. O fato aconteceu em um assalto à casa da vítima e chamou a atenção porque o jovem foi assassinado sem esboçar qualquer tipo de reação. Os acusados foram presos no último dia 23 de fevereiro.

Fábio Vilela, da Regional da Polícia Civil: quando há união de esforços, facilita a resolução

O delegado regional de Anápolis, Fábio Vilela, cita a resolução do caso Donato como o principal dos que foram solucionados em 2017. “Foi uma união de esforços de várias especializadas”, disse. Sobre os outros casos, Vilela apontou que tem trabalhado na sua competência administrativa para incrementar os recursos humanos e ferramentas para fortalecer o trabalho da GIH. “A prioridade da Polícia Civil é a atenção a este tipo de crime. Estou trabalhando para levar mais um delegado, investigadores e administrativos para fortalecer a autonomia que os delegados têm para solucionar estes casos”, justificou o delegado.

“Homicídios podem ser evitados”, defende assessor da Prefeitura

Um dos temas recorrentes da última campanha, a Segurança Pública ganhou importância de um desafio municipal em Anápolis. Agora, sob uma nova gestão, quem ocupa a posição de promover políticas públicas no setor é um delegado. O assessor do Observatório de Segurança da Prefeitura, delegado Glayson Reis, disse que é preciso acabar com o pensamento de que não há prevenção em casos de homicídio.

Glayson Reis, responsável pelo Observatório, afirma ter autonomia para direcionar obras de outras áreas da gestão para diminuir a criminalidade

Segundo ele, há prevenção, sim, e que este combate é realizado através da atenção efetiva às situações de risco que as pessoas vivem. “É preciso atacar os vários fatores que influenciam nestas situações de crime, a exemplo das drogas, das situações de rua, entre outras”, explicou.

O assessor disse que isso pode ser feito de várias formas, mas citou que é primordial o trabalho de forma integrada. Na área social, por exemplo, ele acredita que mais do que retirar alguém da rua é preciso dar condições a quem vive nessa situação. “É aí que entra a atuação de equipes multidisciplinares porque o retirar por retirar só vai fazer que esse indivíduo retorne para a rua”, comentou. Outras áreas defendidas pelo assessor se referem à educação, cultura e esporte. “A população tem que ter estes dispositivos e perto de casa”, afirmou.

Reis disse que já está planejando e terá autonomia para que estes dispositivos funcionem de fato em Anápolis. “Posso pedir para o secretário um núcleo de esporte em determinado local”, citou. Ele também fez menção a outras medidas que ele julga fundamentais, a exemplo da integração com a população dos bairros, e, por último, a Guarda Municipal que ele acredita que será efetivada ainda este ano e que gerará um relacionamento de proximidade com a população. “Vamos deixar a polícia para cuidar dos crimes e nós nos responsabilizaremos para combater as causas”, assegurou.

 

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