Roberto Naves: um Midas às avessas na Política

O Mito do Rei Midas é conhecido por todos. Tamanha a alegoria de sua história, tornou-se uma história popular: a vontade de um homem em obter riquezas a ponto de que tudo que tocasse virasse… ouro. Na Política, nos Negócios, e em diversas outras áreas, há verdadeiros Midas, aqueles que têm a capacidade de transformar simples produtos ou pessoas comuns em objetos de desejo, de cobiça.

Este, porém, parece não ser o caso do prefeito de Anápolis, Roberto Naves (PTB). Dois anos depois de sua eleição para prefeito, Naves teve pela frente um teste político importante, o de participar de uma eleição como cabo eleitoral em sua cidade. Como a maior liderança política de Anápolis, a segunda maior cidade de Goiás em PIB e o terceiro maior colégio eleitoral, Naves teve a oportunidade de conquistar uma boa votação para seus candidatos, tanto os de seu partido quanto para os que seu partido, o PTB, apoiou.

Mas o resultado ficou longe do “toque de Midas”. Gozando de proximidade do Governo Estadual, Roberto Naves apoiou a reeleição de José Eliton, a candidatura de Marconi Perillo ao Senado e a nova tentativa de Geraldo Alckmin de chegar ao Palácio do Planalto.

A relação entre Naves e a gestão estadual era tanta que por inúmeras vezes chegou a dizer que foi o prestígio de Anápolis que levou à “conquista de um espaço político importante”, referindo-se à indicação de um petebista anapolino para a Secretaria Estadual de Desenvolvimento.

Mas quando as urnas anapolinas foram abertas, o que se viu foi um resultado distante do retorno previsto pelos governistas frente às concessões políticas feitas a Roberto Naves e ao PTB, visando um fortalecimento das relações entre o Governo e a cidade de Anápolis. Geraldo Alckmin (PSDB) obteve 5.992 votos anapolinos, estacionando na quinta colocação. Já o candidato à reeleição Zé Eliton (PSDB) conseguiu somente 13.680 votos dos mais de 260 mil cadastrados no município, ficando em quarto lugar, atrás de Kátia Maria (PT).

Foi Marconi Perillo (PSDB), no entanto, quem surpreendeu. O ex-governador que atendeu às demandas do prefeito de Anápolis em troca de ampliação dos apoios na cidade teve 15.291, não passando da sexta colocação. Na cidade, perdeu para a professor Geli (PT), vereadora Anapolina e candidata ao Senado.

Ao contrário

Se nas disputas majoritárias, o clima foi de frustração, na disputa proporcional em que atuou como cabo eleitoral de candidatos de seu partido é que Roberto Naves parece ter gerado um efeito de Midas às Avessas. O seu PTB lançou três nomes: Jean Carlos, vereador da base do prefeito, Degmar Pereira e Carlos Antônio, este último candidato à reeleição e que deixou o PSDB convencido de que a estrutura da administração municipal poderia lhe render melhor desempenho.

Com as urnas abertas, Jean Carlos ficou com pouco mais de cinco mil votos, Degmar Pereira, pouco mais de três mil e o deputado Carlos Antônio, 8.664 votos. Nenhum deles foi eleito. De sua rede de apoio, somente Amilton Filho, que é do Solidariedade e é o atual presidente da Câmara Municipal, conseguiu bom desempenho e, com os votos que teve pelo Estado, conseguiu eleger-se deputado.

A frustração também pegou em cheio a família Arantes. Afilhado político de Jovair Arantes, Roberto Naves não conseguiu sequer prestigiar o principal nome do PTB em sua tentativa de se reeleger para a Câmara dos Deputados. Jovair ficou com 5.791 votos. Ele era o único candidato a deputado federal bancado pelo prefeito. Henrique, seu filho, foi o último nome a entrar entre os 41 eleitos da Assembleia Legislativa. Em Anápolis, ele teve uma votação simbólica: 621 votos.

Um outro nome do PTB que chegou a participar de eventos públicos promovidos pela Prefeitura de Anápolis em parceria com o Governo de Goiás no período de pré-campanha foi o ex-senador Demóstenes Torres. Em entrevista em maio deste ano, Naves chegou a declarar que “Anápolis fechou com Demóstenes”. Abertas as urnas, apesar do “fechamento”, o candidato a deputado federal teve em Anápolis 1.474 votos. Ele também não conseguiu se eleger.

Com a observação dos números e o resultado final das votações em Anápolis, as eleições gerais, portanto, não trouxeram um bom referencial da passagem de Roberto Naves como cabo eleitoral de seus mais próximos aliados.

Jean Carlos

Após a publicação desta reportagem, o vereador e ex-candidato a deputado estadual Jean Carlos (PTB) procurou A Voz de Anápolis para realizar algumas “considerações” acerca das informações. Explica Carlos: “O prefeito [de Anápolis, Roberto Naves] não foi meu cabo eleitoral, todos sabem que não tive apoio do partido”. Ainda segundo o político petebista, os votos que recebeu no pleito de outubro passado foram “de amizade e sem qualquer apoio político”. “Todos do meio político e Anápolis sabem que não tive uma pessoa do partido me ajudando”, emenda.

Jean Carlos arremata a questão, afirmando que o máximo de proximidade existente entre ele e o prefeito Roberto Naves nas eleições é compartilharem a mesma legenda. “O que pode acontecido em relação ao prefeito comigo foi uma vinculação da população por pertencermos a mesma sigla”, resume.

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