Sem apoio de autoridades, redes sociais se tornam aliado na busca por desaparecidos

Sobrecarregada, Polícia Civil pouco consegue ajudar família que usam grupos de conversa e internet como fonte de investigação: sites da Prefeitura e da Câmara, que deveriam por lei, divulgar fotos, ainda não tem serviço estabelecido

Felipe Homsi

Mais do que um entretenimento, os grupos de Whatsapp têm se tornado ferramentas em Anápolis para solução de crimes, retorno de objeto perdido e ajuda nas buscas por pessoas desaparecidas. Nestes últimos casos, os grupos estão se tornando mais eficientes até do que a polícia e demais autoridades. Em diversas situações, cidadãos são encontrados antes mesmo de o boletim de ocorrência ser feito.

As postagens nos grupos antecedem as buscas, já que a polícia, quando procurada, leva em torno de 24 horas para começar a procurar a vítima desaparecida. Jonathan Félix de Jesus, administrador do Grupo de Whatsapp “Anápolis Notícias”, informou que “a maioria (das pessoas desaparecidas) é encontrada através dos grupos, das redes sociais. Geralmente a polícia encontra o corpo”, evidenciou.

Félix de Jesus afrma que, para quem procura um parente que desapareceu, “as redes sociais são o meio mais fácil”. Conforme abordou, a falta de mecanismos junto ao poder público municipal para criar um cadastro de pessoas desaparecidas “prejudica e muito” as buscas.

Sem regulamentação

A lei municipal 3.862/2016, cujo projeto-base é de autoria do ex-vereador Vespasiano Reis, estabelece o cadastro de pessoas desaparecidas no município de Anápolis. Sancionado pelo ex-prefeito João Gomes, o projeto estabeleceu que o município deveria manter uma base de dados de pessoas desaparecidas, contendo informações como nome; filiação; naturalidade; data de nascimento; documento de identidade; fotografia recente e etc.

Para que os dados sejam incluídos no cadastro do município, primeiro deverá ser feito o registro da ocorrência nos órgãos de segurança pública, federais, estaduais e municipais. A partir daí, a lei garante que os dados sejam publicados em sites da “municipalidade”. Os endereços da Câmara dos Vereadores e da Prefeitura são exemplos incluídos na lei aprovada.

Projeto que cria portal de busca por desaparecidos está parado na Procuradoria Municipal aguardando regulamentação

Com entrada em vigência prevista para dois meses, A lei já tem quase um ano e ainda não entrou em funcionamento. A Prefeitura se manifestou por meio da sua assessoria de imprensa e informou que o tema ainda se encontra na Procuradoria Municipal para a devida regulamentação. A Câmara Municipal indicou que não existe ainda prazo para que a legislação seja aplicada.

“Não tem explicação”

A angústia de procurar um ente desaparecido cresce à medida que as dificuldades para encontrá-lo se tornam maiores do que as solu- ções apresentadas para o caso. Geovanna Luana de Lima, 22, casada com Wagner Ferreira Feitosa, 26, não tem notícias do seu esposo desde o dia 9 de agosto deste ano.

Há aproximadamente 10 meses, os dois, que moravam em Anápolis, se mudaram para Leopoldo de Bulhões, onde Wagner trabalhava. Enquanto trabalhava na construção da casa do casal, o marido de Geovanna sumiu e nunca mais ela teve notícia dele.

Geovanna Lima e seu marido, Wagner Feitosa, que desapareceu em Leopoldo de Bulhões: ele se tornou pai e ainda não conheceu a filha

Ela procurou no dia do sumiço a Polícia, mas foi informada que o boletim de ocorrência só é feito 24 horas depois do desaparecimento. Uma criança que brincava na construção em que Wagner trabalhava informou que ele entrou em uma caminhonete prata, mas esta é uma das poucas informações que Geovanna tem.

“Eu comecei a ficar desesperada. Foi quando eu fui me dando conta de que a coisa era séria”, relembra. Sem apoio das autoridades, recorreu a grupos de Whatsapp, veículos de comunicação e demais mídias sociais para tentar alguma notícia do seu marido. Para ela, “não tem explicação” o que aconteceu. Para ampliar o sofrimento, Geovanna conta que estava grávida quando seu marido sumiu. A menina nasceu e hoje tem pouco mais de um mês de vida.

E não somente a demora da Polícia em agir, mas a falta de uma delegacia em Leopoldo de Bulhões deixou tudo ainda mais complicado. O boletim de ocorrência teve que ser lavrado em Silvânia. “Nós ainda temos esperança de encontrar ele com vida”, afirma. Ela indicou que as condições sociais, dela e do marido, fazem diferença na solução do caso.

“Se nós tivéssemos dinheiro, eu tenho certeza de que tudo estaria resolvido”, reclama. Ela diz ter “fé em Deus” de que vai encontrar Wagner e reforça que “não tem como a pessoa sumir da face da terra desse jeito”. Ainda sobre o papel da polícia: “eles não prestam apoio. Eu acho que eles deveriam mostrar um interesse maior. Independentemente do que a pessoa é”.

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