Sob chantagem do Congresso, Temer já não consegue governar

Raquel Landim

Em evento com empresários na última quarta-feira (9) no Rio, o presidente Michel Temer pediu aplausos da plateia porque desistiu de aumentar o Imposto de Renda. O episódio deve ser inédito até mesmo na política brasileira, porque nunca ouvi falar de um presidente que pedisse para ser cumprimentado por algo que não consegue fazer.

Não é segredo para ninguém que Temer desistiu de subir o IR porque não tem condições políticas de fazê-lo e não por convicção ou plataforma de governo. Ele mesmo lançou o balão de ensaio só para comprovar que a aceitação é próxima de zero.

Esse tipo de medida se tornou inviável não apenas porque a carga tributária já é alta e o país está em recessão. Até porque, se atingisse principalmente a alta renda, um aumento do IR poderia corrigir um pouco o injusto sistema tributário brasileiro, que onera principalmente os mais pobres.

A verdade é que o presidente perdeu força para aprovar qualquer coisa mais polêmica. Não consegue elevar impostos e dificilmente aprovará uma mudança na Previdência que se possa chamar de reforma —ambas medidas necessárias para fechar o rombo das contas públicas.

Na mira das autoridades depois da delação do empresário Joesley Batista, Temer passou de hábil articulador a refém do Congresso Nacional. Seus emissários “compraram” votos dentro do plenário para barrar a denúncia do procurador-geral da República, que acusa o presidente de corrupção passiva depois que um auxiliar próximo foi flagrado com uma mala de propina.

O Planalto comemorou ter conseguido barrar a investigação, mas será que foi mesmo uma vitória? Interessa aos partidos fisiológicos um governo fraco, que atenda seus pleitos por emendas e cargos até as eleições de 2018. Esse “centrão” já mandou sinais nada sutis de que vai cobrar caro para barrar novas denúncias da PGR ou aprovar qualquer medida da área econômica.

Infelizmente, a conclusão desse problema é muito simples: sob chantagem do Congresso, Temer já não consegue governar e implementar as reformas que o país precisa. Vai apagando incêndio, contando com a sorte e se arrastando até o próximo governo. Enquanto, a economia não cresce e todos nós pagamos a conta.

Raquel Landim é jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política. Artigo publicado na Folha de S. Paulo

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