Transtorno do Pânico: Como identificar a doença do medo que vem “do nada”

Especialista apresenta situações do transtorno que acomete 1% da população mundial e que tem difícil diagnóstico; Portadora da doença diz como enfrentou vários cenários de pânico ao longo da vida

Paulo Roberto Belém

Imagine você, saudável, sem nenhum problema aparente de saúde, mas que, de repente, sente um medo extremo causado por sintomas que, até então, você desconhecia? Até de morrer, por exemplo? Se você que já se sentiu assim, cuidado: pode ter tido um ataque de pânico. Esses ataques classificados como paroxísticos, que são aqueles que “vem do nada”, podem ser acompanhados de sintomas que alteram o sistema autônomo nervoso da pessoa que geram um medo extremo, como por exemplo, uma abrupta queda de pressão, tontura, falta de ar, taquicardia, entre outras sensações.

O transtorno do pânico que caracteriza essas situações e que recentemente foi presenciado pelo padre-celebridade Fábio de Melo acomete cerca de 1% da população mundial e não pode ser considerado simplesmente como um “piti”, declara o psiquiatra e neurologista Cristhiano Chiovato Abdala. Ele disse que por ser imprevisível, muitas vezes há a dificuldade da pessoa assimilar o que está acontecendo. “A pessoa não consegue assimilar aquilo a um problema que pode ser no cérebro porque se está bem”, explica.

Causas

Abdala disse que a doença não é para quem quer e que geralmente atinge pessoas com uma certa disposição genética, associado ao aumento do stress que libera a substância cortisol, causando queda de proteína, acumulo de gordura, o que acarreta na redução dos chamados neuro-hormônios no organismo do paciente. O especialista também sugere que a doença pode estar associada ao uso da maconha e ao abuso da cafeína. “Eu mesmo tive um ataque de pânico por tomar grande quantidade de café”, confessou o especialista, complementando que soube se “autodiagnosticar”.

Segundo especialista, a doença muitas vezes é considerada como “piti”, mas que é preciso vencer o preconceito

Ele declara que ninguém está imune ao transtorno do pânico, mas que, geralmente, a doença atinge as mulheres jovens. “Isso não significa que pode acontecer com pessoas de ambos os sexos em qualquer idade”, expõe. Ele também diz que o paciente pode ter um ataque uma vez na vida, mas que também podem ocorrer recaídas. “Isso depende muito da maneira como a pessoa lida com o stress”, comenta.

Tratamento

Existem três fases para o portador da doença. A primeira delas é quando está no inicio e o paciente tem medo durante a crise. A segunda corresponde a um medo adquirido, quando o portador tem medo de ter novas crises. Para estas duas formas, o tratamento medicamentoso é o recomendado, cita Abdala. Ele faz uma lembrança que até a década de 1980, o pânico não era considerado como doença, mas sim como uma neurose. “O tratamento medicamentoso já resolve o problema no início com o uso de antidepressivos mais antigos, mais estudados e que têm maior eficácia do que os novos remédios”, explicou.

Agora para a terceira fase, que é quando o transtorno resulta em estágios mais avançados, como a agorafobia – que é o medo de locais fechados e multidões – o paciente, além dos medicamentos, também precisa de terapia, em especifico a terapia cognitivo comportamental, diz o especialista. “O medicamento pode acabar com as crises de pânico, mas o paciente mantém o medo de locais cheios e fechados”, justifica.

No final, Abdala dá dicas de como identificar a doença em terceiros. O especialista diz que não é típico as pessoas portadoras terem vergonha da doença, mas que se restringem em falar da doença para terceiros. Nesse caso, orienta. “É preciso observar pessoas que têm medo de sair, medo de locais públicos ou quando se vê alguém sofrendo ataque, quando percebe algo de errado. Às vezes é complicado, mas é preciso ficar atento a esses sintomas e oferecer ajuda”, classificou.

Portadora do transtorno relata situações e revela como consegue superar doença

AFI é uma jovem de 28 anos e conta como de um dia para o outro, no ano de 2013, começou a sentir os sintomas do transtorno, que até então era desconhecido pela advogada que preferiu falar no anonimato. Ela conta que antes de sofrer o ataque, estava fazendo suas coisas do dia a dia, mantendo sua rotina. “O meu coração acelerou, meu sangue pareceu formigar, minha respiração ficou difícil, tive náuseas e naquele momento eu me perguntei: o que é isso?”, relatou.

Depois disso, ela conta que foi ao médico e após os exames terem acusado nenhuma alteração, o médico que a atendeu sugeriu que não havia nada de errado. Mas que depois dessa visita ao consultório, viveu um novo ataque. “Vieram os mesmos sintomas, a sensação de medo constante. Foi aí, então, que eu descobri ter o transtorno”, contou ela.

A advogada disse que só após este segundo ataque começou, de fato, a tratar a doença. “Tomei medicamentos e até então normalizou”, destaca. Agora, ela diz que não vive o medo dos mencionados novos ataques, indicado pelo especialista. “Tenho praticado muito terapia e isso tem me ajudado. Esse medo de ter medo é complicado, mas a gente tem que enfrentar sem perder o controle, senão você não faz nada”, brinca.

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