Poder Público Municipal afirma não ter sido comunicado oficialmente sobre vinda da empresa, e evita comentar, assim como o legislativo: Taxistas, população e motoristas da Uber dividem opiniões.
Felipe Homsi
Desde que a notícia de que a Uber vai começar a operar em breve em Anápolis saiu, o assunto tomou de todas as rodas de conversa, como vem acontecendo em todas as cidades brasileiras. Apesar de todo o alvoroço, a informação oficial da Uber Brasil é que Anápolis é apenas um entre vários focos da empresa, que analisa constantemente possíveis locais de atuação.
A informação foi enviada por meio de nota pela assessoria do aplicativo de transporte: “Estamos constantemente avaliando a possibilidade de novas cidades receberem a Uber, como já acontece em mais de 500 cidades no mundo. Parte dessa avaliação, que é feita em vários níveis, inclui buscar talentos e compartilhar informações com os cidadãos que queiram ter uma nova oportunidade de renda com autonomia, flexibilidade e dignidade dirigindo na plataforma da Uber”.
No entanto, o perfil Uber Anápolis na rede Instagram tem convocado interessados em atuar pelo Uber a fazer o seu cadastro em um hotel da cidade, o que implica imaginar que o início está próximo. Na Prefeitura, o posicionamento é de cautela. Nem o prefeito Roberto Naves, nem o diretor do CMTT, Carlos Cesar Toledo, quiseram se manifestar sobre o assunto.
“O prefeito não vai se posicionar por enquanto, porque ele não foi procurado pela organização para falar sobre a implantação. Ele ainda não tem esse posicionamento”, afirmou o prefeito por meio da sua assessoria de imprensa. Carlos Cesar Toledo, do CMTT, também não quer se comprometer: “Nós vamos aguardar um pouco para nos manifestarmos. Pedi uma consulta jurídica para a Procuradoria, para nós estudarmos a maneira que nós vamos acompanhar este processo”, disse.
Câmara
O presidente da Câmara, Amilton Filho, também informou que a Casa ainda não foi comunicada sobre o interesse do aplicativo em começar a operar em ruas anapolinas. “Aqui na Câmara não chegou nada relativo ao Uber. Ninguém comunicou nada disso comigo ainda não”, desconversou.
Apesar de não informar se é contra ou a favor do começo de funcionamento da plataforma na cidade, ele já tem uma opinião sobre como proceder para proteger os taxistas municipais. “Meu posicionamento é que, em um primeiro momento, a gente tem que pensar nas pessoas que trabalham na cidade, os taxistas – a maioria deles é de anapolinos, trabalham na cidade há vários anos – a gente não pode pensar nada que vá prejudicar estes empregos. Então meu posicionamento, a princípio, é neste sentido”, referendou.
Realidade
Apesar de afirmar que não é certa a sua vinda para a Manchester Goiana, a Uber não explicou o fato de o nome de Anápolis aparecer entre as cidades das Américas do Sul e Central como um município habilitado. Quando se procura pela cidade no aplicativo, a mensagem ‘A Uber movimenta Anápolis’ aparece. A lista de cidades pode ser visualizada em www.uber.com/pt-BR/cities/.
No endereço eletrônico www.uber.com/pt-BR/drive/anapolis/contact/, inclusive, já é fornecido um número de Whatsapp – (62) 99455-8427 – para pessoas cadastradas que quiserem mais informações a respeito do aplicativo. O Jornal A Voz de Anápolis entrou em contato com o número fornecido, pelo qual uma mensagem automática foi
Sindicato de taxistas mantém “estratégia em sigilo”
O Sindicato dos Taxistas em Anápolis não quer que suas estratégias sejam conhecidas pela Uber. Mas é certo que já existe uma preparação de motoristas e a sua representação sindical para fazer frente à concorrência que deverá surgir em breve. Apesar de afirmar que, por enquanto, são “só boatos” o início do funcionamento do aplicativo, o presidente Jaime Fernandes Evangelistas indica que os representantes da categoria já estão se preparando para concorrer.
“Já baixamos o nosso preços”, pontuou sobre medidas que foram tomadas, não pela vinda da Uber, mas porque “as corridas caíram muito”. Sobre o aplicativo, ele afirma que só vai falar quando a plataforma começar a operar na cidade. “Se eu falar o que eu vou fazer para barrar eles, eles vão mudar a estratégia deles”, visualiza. Sua opinião é que as vantagens de se utilizar a Uber, como o preço mais baixo, são “só no começo” e pontuou ainda que a qualidade dos serviços oferecidos pelos taxistas é melhor.
Taxistas
Os próprios taxistas, por medo ou para boicotar o assunto ‘Uber’ e não dar força para o aplicativo, não estão abordando o tema. Alguns que ficam no Setor Central e não quiseram se identificar afirmam que os motoristas de táxi pagam mais taxas, a burocracia é maior para ter o seu negócio e ainda oferecem um serviço com mais segurança e qualidade. “Quero que eles vão para o quinto dos infernos”, afirmou um deles.
Gercílio Garcez Bueno, taxista aos 80 anos de idade, está na ativa e possui a mesma disposição no volante que um jovem, ou até mesmo um motorista da Uber. Pela experiência, ele conhece, no ramo de táxi, “tudo que foi bom e tudo o que é ruim e tudo que vai ser ruim para Anápolis”. Para ele, o município é interior e, portanto, “Anápolis não tem campo para a Uber”, garante
Taxista Gercílio Garcez sabe que não é possível barrar a Uber na cidade, mas entende que aplicativo não tem vida longa
Ele sabe, porém, que é praticamente impossível impedir a entrada da Uber em Anápolis, mas não pretende fazer parte de protestos ou qualquer tipo de outra manifestação para impedir que eles venham para cá. “Eles vão insistir em entrar e vão entrar. Eu não sou contra não, o comérico é livre”. O que ele critica é o fato dos taxistas serem “perseguidos” pela burocracia e taxas a serem pagas.
Opinião
Como em todo assunto polêmico, as opiniões da população nas ruas são divergentes. Cada um pensa de uma maneira e com a possível vinda da Uber esta teoria vale também. Kahley Gonçalves, 20, é estudante de estética. Sua opinião é que a Uber é “bem melhor do que o táxi” e é uma experiência “muito boa, atendimento excelente”, além do preço ser “bem mais em conta”. Para ela, o transporte “vai melhorar bastante” com o início do funcionamento do aplicativo.
O operador Webert Lopes Martin, 20, acha “esse aplicativo uma boa ideia”, que “vai facilitar o transporte”. Contraditório ou não, ele também entende que o táxi é “um ótimo serviço”, mas que “seria muito bom” se viesse para a cidade um serviço mais eficiente e barato.
Fotógrafo ‘Baiano’ diz que tem “dó” dos taxistas, que pagam taxas altas para rodarem
Orlando da Silva Dourado, fotógrafo conhecido pelo anapolinos como Baiano, pensa no lado dos taxistas e nos prejuízos que eles podem ter com a vinda da Uber. “Eu fico com dó deles. Sabe como são essas coisas”. “Aqui em Anápolis, eles pagam taxas demais. A Uber vai pagar o que?”, questiona, afirmando logo na sequência que os motoristas de táxi serão lesados. Baiano ainda é preocupado com os transtornos e conflitos que o início das atividades do aplicativo podem gerar. “Está tendo até morte por causa disso. Está tendo morte por causa disso”, repete.
Motorista parceiro
Um motorista parceiro da Uber que não quis se identificar chamou de “fiasco” o possível início de funcionamento do aplicativo na cidade, já que Anápolis não tem público suficiente para a quantidade de motoristas que deverão se cadastrar. Para ele, o fraco mercado para este tipo de negócio fará que a iniciativa de muitos seja frustrado. Ele, que é motorista em Goiânia, explica que existe uma ilusão em torno do aplicativo e as pessoas pensam que é possível ter a Uber como única fonte de renda.
O aplicativo gera, conforme explicou, uma renda de no máximo R$ 1500,00 a R$ 2000,00 e mesmo assim para atingir este patamar é preciso dirigir em torno de 8 horas por dia, isso quando se fala da capital goiana. Alguns motoristas chegam a trabalhar por até 16 horas, com rendas baixas. Ou seja, ele mesmo entende que a Uber é um “extra”. Em suas próprias palavras ele definiria a chegada da Uber em Anápolis como um meio não tão seguro para passageiros e motoristas e “muito motorista para pouco cliente”. Além disso, os prejuízos são visíveis, pois “o carro vai para o espaço”.
