Vereadoras na missão de abrir espaço às mulheres na política

Quatro mulheres foram eleitas vereadoras para o quadriênio 2017 – 2020. Além de bandeiras pessoas específicas, elas reconhecem a responsabilidade de representar o gênero feminino em uma Câmara em que a maioria dos eleitos são homens

Paulo Roberto Belém

Em tempos de um debate tão amplo quanto à representatividade de segmentos específicos na Política, a 18ª legislatura da Câmara Municipal já entra para a história quanto à participação das mulheres no debate político do cotidiano da cidade. Isto porque no quadriênio 2017 – 2020, quatro mulheres têm a missão de fazer história: Elinner Rosa (PMDB), Geli Sanches (PT), Thaís Souza (PSL) e Vilma Rodrigues (PSC). A eleição de 2016 foi responsável por um acréscimo inédito de mulheres eleitas. Para se ter uma ideia, na legislatura anterior – que já era recordista – haviam três mulheres. Agora, são quatro as representantes.

Apesar do recorde, o número de mulheres na Câmara Municipal ainda é mínimo se comparado ao número de homens, afinal, não chega a 20% das atuais 23 vagas da casa. A diferença é mais gritante quando a história das últimas 17 legislaturas é analisada. Em todas elas, somente 10 mulheres distintas atuaram, de fato, no legislativo anapolino. A primeira delas foi Francisca Miguel, eleita em 1947 pelo PR.

Atuação

Além de suas bandeiras políticas, estas vereadoras ainda carregam naturalmente a missão de levantar a bandeira da participação feminina no debate político. Veterana da Casa nesta legislatura, a professora Geli Sanches (PT) é conhecida pela causa da Educação e cumpre o seu segundo mandato consecutivo.

Sanches comemora a chegada das três vereadoras novatas, reconhecendo o recorde, mas considera que o número poderia ser muito maior. “Nós já crescemos, mas infelizmente a mulher na política ainda é vista como incapaz pelo lado administrativo”, avalia. Outro fato comemorado pela professora é o fato de, entre as novatas, duas serem jovens. Geli frisa que o avanço se desdobrou após a eleição. “Devemos comemorar a participação de duas mulheres também eleitas para a Mesa Diretora. Isto é inédito”, lembrou Sanches. Tanto ela, como segunda secretária, quanto a vice-presidente Thais Souza (PSL), ocupam espa-ços nas seis cadeiras principais.

Já para a vereadora Elinner Rosa (PMDB), o princípio de ser mulher não foi o principal considerado por ela para investir na carreira política. Ela minimiza o gênero como item de diferencial para a política. “Na verdade, eu trabalho na área da Saúde, e eu vejo como posso ajudar como uma cidadã. E penso que como vereadora, eu posso ajudar mais”, afirmou. Por outro lado, ela reconhece o fato das mulheres terem dificuldades. “Isso é fato. Por isso que, hoje, eu considero como uma bandeira a mais do meu trabalho”, afirmou a vereadora.

Incentivo

Para Thaís Souza (PSL), que é lembrada pela causa da defesa dos animais, o fato de quatro mulheres terem sido eleitas já comprova a importância que o gênero feminino representa para a política. “A mulher na política é importante para demonstrar que o lugar dela é aonde ela quer estar”, pondera a vice-presidente, frisando um dos slogans das campanhas pelo reconhecimento da igualdade das mulheres. Ela relata que quando da intenção em se candidatar, recebeu mais apoio do seu pai do que da sua mãe. “Ela chegou a falar para mim que política não era coisa de mulher”, lembra. No trabalho da Câmara, a vereadora, que é vice-presidente da Casa, disse que há respeito.

Mais votada entre as mulheres eleitas, Vilma Rodrigues (PSC) disse que também foi incentivada a se candidatar, mas que há um ano atrás não pensava nesta possibilidade. “Tenho consciência de que represento aqui a mulher e a mulher idosa ou com deficiência. Isso aumenta a minha responsabilidade”, admite. Ela também comentou que há respeito pelo trabalho das vereadoras na casa e disse que tem buscado o apoio de todos para um mesmo alinhamento de projetos.

Pauta feminina

Nesses poucos mais de 100 dias de trabalho da Câmara, pelo menos um episódio remeteu à defesa da causa feminina no legislativo. Através de projeto de lei, os vereadores aprovaram em fevereiro a lei municipal que trata do direito ao aleitamento materno nos estabelecimentos privados ou públicos do município. Entre as vereadoras mulheres, chamou a atenção o voto contra ao projeto inicial de três delas por conta de um artigo específico que tratava da destinação de local específico para o aleitamento nos ambientes públicos e privados: Elinner Rosa, Thaís Souza e Vilma Rodrigues, mesmo assim, pela maioria, o projeto foi aprovado e a lei sancionada pelo prefeito Roberto Naves.

Questionada, a vereadora Geli Sanches, único voto feminino ao projeto inicial, disse que sempre que a causa feminina estiver em pauta, ela se posicionará a favor pelo mérito. Já as vereadoras que votaram contra o projeto inicial, tiveram opinião comum quanto à ilegalidade deste artigo específico. “Eu e as demais vereadoras fomos contra por entender que qualquer local é apropriado, independe de adequação ou não”, explicou a vereadora Thaís Souza.

O prefeito Roberto Naves também entendeu desta forma e, na aprovação da lei,  ele vetou o artigo questionado pelas vereadoras.

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