Anapolinos têm cotidiano alterado pela falta de continuidade de obras públicas municipais

Henrique Morgantini (com Paulo Roberto Belém)

Uma gestão pública só existe para facilitar a vida das pessoas. Diferente de uma administração privada, que vise o lucro e o acúmulo de capital, na esfera pública a razão principal de sua estruturação é conseguir atingir o empate financeiro: aplicar tudo o que recebe em tributos, impostos e arrecadações em obras, programas sociais e ações que tenham como único objetivo a geração de conforto, qualidade de vida e Segurança Social a todos.

Há quem tenha uma relação distante com o poder público, necessitando de seus serviços diretos com baixíssima frequência. No entanto, há uma parcela significativa que depende diretamente da ação interventiva do poder estatal. Em Anápolis, as ações da Prefeitura têm esta missão: acompanhar e atender às demandas de um segmento de cidadãos que precisam do aporte e do investimento para obter mais oportunidades e qualidade de vida.

E, por isto, torna-se fundamental que as notícias de grandes acúmulos de dinheiro e grandes aportes de parcerias sejam traduzidos em investimentos físicos e ações sociais. O dinheiro pelo dinheiro é só uma questão de propaganda inócua. Recentemente a gestão Roberto Naves anunciou com galhardia o levante de um montante superior a R$ 46 milhões em um só quadrimestres. Depois, bradou à cidade que conseguiu parceria com o Estado de Goiás para receber R$ 10 milhões. Estas somas, no entanto, ainda não foram capazes de cumprir o mínimo: terminar as obras deixadas pela gestão anterior em andamento e cumprindo um cronograma.

Obras

Em fevereiro, A Voz de Anápolis fez levantamentos a respeito das obras que foram herdadas pela gestão Roberto Naves em áreas específicas. Na última quarta-feira (02) as obras deixadas na Educação e na Saúde foram visitadas novamente pela nossa reportagem.

E o que se viu foi o impacto negativo no meio da população pela falta que faz a não conclusão destes projetos até agora. Passados seis meses, do total de 15 obras consultadas à época, quatro foram inauguradas: reforma do Posto de Saúde do Calixtolândia, reforma da Escola Edinê Rodrigues Gomes na Vila São Jorge, as novas salas da Escola Raimunda de Oliveira Passos na Lapa e o Centro Municipal de Educação Infantil da Vila Fabril.

As outras 11 obras estão em ritmo lento, paralisadas. Algumas estão abandonadas. Somente duas delas há a movimentação de trabalhadores. A região mais prejudicada com a não inauguração destes equipamentos é a Leste. Somente nos setores Campos Elísios, Santo Antônio, Residencial Leblon e Tropical, que fazem parte desta macrorregião da cidade, são cinco obras. Na região sul são três obras e na região norte outras duas obras. Finalmente, na macrorregião oeste da cidade, uma obra destas está paralisada.

Creches da Nova Aliança e Campos Elísios: vizinhos lamentam ver as obras paralisadas

 Antônio Alves mora bem ao lado da creche em construção do Residencial Nova Aliança e vê prejuízos para o setor enquanto a obra não é finalizada. “Poderia estar atendendo as nossas crianças, mas o que eu vejo, diariamente, é isto”, reclama o morador. Segundo Alves, os pais que dependem de uma creche no setor têm que ir à procura de outra nos setores adjacentes.

A construção da Nova Aliança, de tão abandonada, se tornou ruína: alvo de vandalismo e destruição

“A creche do Industrial é nova, mas o problema é que não consegue nem atender a demanda de lá”, disse. Sobre a falta de segurança, o morador se vê preocupado. “É difícil eu ficar dando bobeira aqui durante a noite”, destaca.

Dona de Casa, Maria Luiza vê esforço das mães no Campos Elísios: “Está fazendo muita falta para as mães da região, que precisam ir a outros setores”

Quem também compartilha do mesmo problema é a dona de casa Maria Luiza Pereira. Ela é também vizinha de uma construção paralisada, mas nos Campos Elísios. A obra de construção da creche daquele setor é vizinha à residência de onde mora. Residindo a pouco mais de um ano no setor, ela conta que quando chegou no bairro a obra já estava parada. “Está fazendo muita falta para as mães da região. Muitas aqui têm que ir para bairros mais distantes para tentar conseguir vaga nas creches enquanto esta que poderia estar funcionando está desse jeito” afirma.

Em processo avançado, mas paralisada: Creche do Campos Elísios faria diferença na vida, segundo moradores

 Santo Antônio

Há outra obra paralisada: trata-se da creche do Santo Antônio, região do jardineiro João Soares da Silva. “A promessa é antiga”, lembra ele vendo o que já foi feito na no canteiro. Ele conta que o início da obra foi motivo de alegria para os moradores do bairro, mas confessa que ao ver a obra deste jeito é revoltante.

“Quando a obra começou teve até festa”, lembra o jardineiro João Soares, do Santo Antônio, que agora diz que a obra deve servir a “futuras gerações”

“Tem muito tempo que esta obra está paralisada. As crianças da região estão crescendo e se brincar, quando a creche for inaugurada, elas nem vão ter mais idade de creche. Parece que a creche é para as futuras gerações”, comentou. 

Situação do CMEI do Santo Antônio: cercado e paralisado

Em ampliação no Santo Antônio, crianças andam em meio à construção paralisada

Obras de ampliação da unidade escolar Raimundo Hargreaves: crianças convivendo com obra

A dona de casa Maria da Silva tem dois netos matriculados na Escola Municipal Raimundo Paulo Hargreaves no Santo Antônio. A escola está com a sua obra de ampliação paralisada e a dona de casa diz que isto é motivo de preocupação. “Fico com medo de algum acidente acontecer lá porque criança não tem juízo e para elas ficarem andando na construção é daqui para ali”, disse.

Maria da Silva ao lado dos netos Jefferson e Angelina se preocupa com crianças ao lado da obra parada: “criança é meio atentada”

Os netos dela, Jefferson e Angelina, disseram que gostam da escola e que espera estar estudando na instituição quando a obra acabar. “A escola vai ficar bem melhor, vai ficar novinha”, disse Jefferson, o mais falante.

Pedro Ludovico

Morando na mesma rua onde está localizado o CMEI inacabado do Pedro Ludovico, a confeiteira Ângela dos Santos se sente a mais prejudicada no setor. “Tenho dois filhos em idade de creche e nunca consegui vagas para eles nas creches da região. É um sentimento de frustação porque a gente tem uma bem na rua de casa, mas que não está servindo para nada”, disse ela, que complementou ter perdido várias oportunidades de emprego por não ter com quem deixar os menores.

A confeiteira Ângela dos Santos, do Pedro Ludovico: “Frustação por ter uma creche na rua de casa que não está servindo para nada”

Quem também menciona os problemas que ocorrem na construção da creche do Pedro Ludovico enquanto ela está parada é a dona de casa Rosimeire Dias. Ela conta que a construção é caminho para deixar a neta menor na escola. “Passo do lado daqui todos os dias e enquanto está fazendo sol está bom. Pior é quando está em tempo de chuva e temos problema da construção acumular água e com isso mosquitos da dengue”, disse.

O estágio da obra do CMEI Pedro Ludovico: ainda longe de ser concluída e sem andar

 

 

“Fomos largados, assim como a obra”, diz moradora do Tropical diante de posto de Saúde

A servidora pública aposentada Edi Alves mora na Cidade Universitária, setor que é próximo ao Parque Iracema. Acostumada a passar pela região da unidade de saúde em construção, ela confirma que nas últimas duas semanas tem percebido homens trabalhando na obra. Ela torce para que ela não paralise mais. “Acredito que agora eles terminem. Não é possível! Falta tão pouco”, comentou confiante.

A mesma sorte, porém, não tem Madalena Vasconcelos, servidora na rede estadual de ensino. Ela mora na região do Tropical há mais de 20 anos e revela ser “a mais revoltada entre todos os moradores do bairro”. Tudo por conta da paralisação da construção. “Vi essa obra ser lançada, ser iniciada e ficar paralisada. Fomos largados, assim como a obra. Nessa região tem muitas crianças e idosos que eu considero os mais prejudicados enquanto a obra está desse jeito”, reclama.

A servidora estadual Madalena Vasconcelos diz que sua mãe poderia ter usado os benefícios da unidade de Saúde, mas “morreu sem ver a obra pronta”

Ela ainda contou que a sua mãe era uma das pessoas que poderiam ter usufruído do atendimento do posto de saúde, mas que morreu sem ver a unidade inaugurada. “O pessoal do bairro tem que correr lá para o Bairro de Lourdes e eu era uma delas até o ano passado, quando minha mãe ainda era viva”, lembrou.

Ilmara e o filho observam a obra do Tropical: “o mais próximo fica bastante longe”

Para a manicure Ilmara Oliveira, o posto de saúde do Tropical, se já tivesse sido inaugurado, iria fazer diferença na vida dela, mesmo. “Além de ser importante para o meu filho menor, para mim faria uma diferença enorme porque faço nebulização e por não ter o aparelho em casa, preciso recorrer aos postos de saúde. O mais próximo daqui é bem distante”, conta.

“Dizem que faltou verba. Isto é um descaso”, diz vizinho de posto de Saúde no São José”

A dona de casa Gláucia Nascimento é mãe dos pequenos Rafael e Amanda. Moradora do Residencial Leblon desde a sua inauguração, ela disse que aguarda, ansiosa, a inauguração do posto de saúde do setor. “A gente vê uns gatos pingados trabalhando na obra, mas a demora é grande. Está fazendo muita falta para a região. A gente tem que andar muito para chegar ao postinho mais perto”, explica.

Glaucia e os filhos em frente ao posto do Leblon: “alguns gatos pingados trabalham, mas obra é muito grande e faz falta”, diz.

Já o aposentado José Lucas de Souza mora quase em frente à construção paralisada do posto de saúde do Residencial Arco Íris e conta que volta e meia a obra é assunto das conversas entre os vizinhos. “Todo mundo fica indignado. A gente precisando do posto de saúde e o que vemos é a obra parada, sem ninguém mexendo”, disse. Ele disse que por isso planeja organizar um abaixo assinado para tentar resolver a questão. “Será muito bom quando tivermos o posto de saúde funcionando”, afirma.

Residencial das Flores

No Parque Residencial das Flores, a dona de casa Marta Cunha está com obras em casa e compara: sua obra está caminhando mais rápido do que a da Prefeitura. “Adquiri o lote aqui perto e mesmo sem muitas condições a obra da minha casa está mais acelerada”, comparou.

A dona de casa Marta Cunha diante de “suas obras”, no Residencial das Flores: a da sua casa anda, da a Prefeitura, não

Ela ainda disse que o seu esposo já trabalhou na construção, mas que ele foi dispensado no ano passado. “Fiquei feliz quando percebi que teria perto de casa um posto de saúde, mas triste pelo fato de estar assim. Enquanto a obra não anda, a gente tem que procurar o posto de saúde do Recanto do Sol que tem uma demanda enorme”, afirmou.

São José

Jair Rodrigues dos Santos é braçagista e mora próximo à unidade de saúde em construção no Bairro São José. Ele comenta que a obra está paralisada há mais de um ano e que a notícia que se tem é de que faltou verba. Quando precisa de atendimento em saúde, ele diz que recorre à unidade do Jardim Suiço, mas que espera que a obra seja retomada, para, segundo ele, andar menos.

Mãe passa em frente ao posto de Saúde fechado e inacabado do São José: chance de facilitar a cidade e cuidar dos filhos adiada

“Se tivesse sido entregue, caminharia poucos metros e já poderia ser atendido. Desse jeito, quem mora aqui tem que atravessar o bairro e correr o risco de encontrar unidades lotadas. É um descaso”, afirmou.

Secretário aponta novos prazos para conclusão de obras deixadas

O secretário municipal de Obras, Vinicius Sousa, garante que a Prefeitura tem procurado concluir as obras herdadas. Ele confirmou a informação de que somente as obras dos postos de saúde do Residencial Leblon e do Parque Iracema foram retomadas, mas defende novos cronogramas para as demais obras. “A empresa que está trabalhando na unidade de saúde do Parque Iracema, quando terminar o serviço, vai passar para a do Residencial Arco Íris”, disse.

O secretário de Obras Vinícius Sousa afirma ter definido um novo cronograma e uma sequência para retomar obras

Sobre as demais obras da área da saúde paralisadas, o secretário também comenta suas expectativas. Ele disse que as unidades do Parque Residencial das Flores e do Tropical serão novamente licitadas ainda este mês. Quanto à obra do São José, ele disse que será retomada ainda este mês.

Já as da área da educação, o secretário disse que a Prefeitura vai assinar ordem de serviço para a retomada das obras dos Cmei’s dos setores Campos Elísios, Nova Aliança e Pedro Ludovico ainda este mês. “A perspectiva é que estas que serão retomadas mais em breve deverão ser entregues até o fim do ano”, apontou.

O problema nas obras da educação, segundo Sousa, é as localizadas no Bairro Santo Antônio. “Em relação ao Cmei do setor, as empresas que participaram da licitação entraram com recursos. Quanto à ampliação da Escola Raimundo Paulo Hargreaves, a expectativa é licitá-la em setembro. Nestas duas do Santo Antônio, a previsão de entrega é para o primeiro semestre de 2018”, finalizou.

 

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