ARTIGO: A lógica do remendo

A volta do crescimento econômico e dos investimentos no cenário nacional cria um ambiente promissor para o País e também para Goiás, alimentando a motivação dos cidadãos para contribuir com esta retomada. Mas os obstáculos para a melhoria do bem estar da população são muitos e o governo estadual se mostra despreparado para os desafios.

O Jornal “O Popular”, na coluna Giro, informa que o Estado terá recorde negativo em suas contas, com déficit de R$ 1,96 bilhão. Esse descompasso entre receita e despesas aflige as esperanças do goiano em ver algo melhorar neste ano. É um traço recorrente: o déficit em 2015 também foi recorde, à ordem de R$ 1,88 bilhão.

Gasta-se muito e gasta-se mal. É consenso que o investimento preventivo é menos dispendioso e mais eficiente que o emergencial. Mas o exemplo da segurança pública mostra que este governo não enxerga assim. Após a barbárie no Complexo Prisional, em 1º de janeiro, o governador anunciou a contratação de 1,6 mil vigilantes temporários.

O déficit de pessoal é reconhecido há anos mas o governo não se mexeu para resolvê-lo (preferiu as contratações políticas, com mais de 1,3 mil novos cargos em 2017). Opta-se pelo remendo mal feito. Como é uma área crítica, demanda agentes prisionais efetivos, bem treinados, com plano de carreira e condições de trabalho adequadas.

Deveria ser prioridade combater as facções que comandam os presídios e para tal é imprescindível tirar dos encarcerados uma de suas armas mais letais: o aparelho celular. Já foram gastos centenas de milhares de reais em bloqueadores de sinal e o governo até anunciou que este era um problema vencido.

A realidade, contudo, é que detento usando celular continua sendo uma cena corriqueira dentro dos presídios goianos. Com o aparelho, as facções ganham força, se articulam externamente e perpetuam além dos muros das penitenciárias suas práticas criminosas. O encarceramento torna-se inútil para proteger a sociedade.

A gestão estadual também perdeu desde 2009 pelo menos R$ 15 milhões em recursos federais para investimentos em presídios por falta de projetos e problemas legais. É uma desfaçatez agora tentar compartilhar a culpa.

Para interrompermos esta curva de ineficiência, que conjuga déficit financeiro com falta de planejamento e serviços precários, precisamos de um governo que tenha compromisso com as contas públicas e que saiba investir com qualidade. Afastar as ingerências políticas cuja finalidade não são a melhoria da qualidade de vida do povo é o primeiro passo para esta mudança.

Daniel Vilela é deputado federal (PMDB-GO)

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