Com “notas e aromas” cafeterias gourmet vão além do cafezinho e do pingado

Espaço ricos em decoração vendem experiências com o café em receitas repletas de inovações, levando ao público sabores, aromas e sensações: variações vão desde a torra até a forma de servir, passando pela moagem e a pressão

Felipe Homsi

Foi-se o tempo em que o anapolino se contentava apenas com o café coado em casa ou o cafezinho servido em botecos, padarias e confeitarias da cidade. Não que eles tenham caído em desuso ou se despopularizado. Longe disto. Mas é que desde o ano passado, começaram a ser espalhados em Anápolis os chamados cafés especiais, seja nas cafeterias especializadas ou então nas prateleiras de supermercados.

As cafeterias que apostam nesse mercado vêm ganhando boas respostas de seus clientes. O conceito é selecionar o tipo de café desde a sua torra até a filtragem.

Adrielle Karinne da Silva, 20, e Filippos Michel Degreas, 24, são namorados, estudam Marketing Digital, e decidiram montar juntos o Rosa Café Bistrô. “A minha avó gostava de café, a minha mãe gostava de café, eu gosto muito de café”, disse Adrielle para explicar as origens dessa paixão.

Prensa francesa é um dos métodos para a preparação do café expresso na Barista Cafeteria

Ela destaca que a cafeteria ainda está em “adaptação” para entender o gosto do anapolino pela bebida. Ela se diz surpresa, pois achava que o público era “cru”, mas em alguns casos os clientes são profundos conhecedores da cultura e dos sabores do café. “Eu acho que essa cultura do café está crescendo aqui”, detalhou.

Ela explica a diferença entre o Café Arábica e o Robusta. O primeiro tem aroma e doçura intensos e possui acidez, corpo e sabor com muitas variações. Já o Robusta é caracterizada por ser mais encorpado e com um gosto de sabor persistente. Mas as variações não param por aí. A torra dos grãos determina uma intensidade que vai de 1 a 12.

Além dos cafés especiais feitos nas máquinas, o café coado também faz sucesso junto ao público anapolino, justamente por trazer à memória o “cafezinho da vovó”. “Ele fica um pouco mais ralo, ele não tem tanto corpo. Acaba que não tem a pressão da máquina de expresso. Você não aperta o grão para ele sair. É a passagem da água, do pó, então tem que ser uma torra mais alta, uma moagem não tão fina”, explica.

As variações para quem quer inovar são infinitas. A começar pelas técnicas de extração das máquinas como a Prensa Francesa, que preserva os óleos naturais do grão do café e produz uma bebida densa e encorpada. A Hario V60 é uma máquina que causa, conforme explicou Adrielle, “um efeito de expansão do café”. Dessa forma, extrai suas notas e aromas. “O resultado é um café limpo, sutil, saboroso e leve”. A Aeropress permite que o café coado tenha características de um expresso.

Lugar aconchegante

Para o anapolino, não basta agradar no sabor. Uma boa cafeteria precisa ser um lugar bonito e aconchegante para o público. Há três anos, Tiago Taveira Fonseca entrava no ramo do café, com a Barista Cafeteria. Ele herdou do pai o gosto pelo produto e resolveu assumir o desafio de começar um projeto que no futuro poderá ser uma franquia, com mil lojas. Este é a missão número um da marca.

Prensa francesa é um dos métodos para a preparação do café expresso na Barista Cafeteria

Tiago estuda Engenharia Mecânica, mas é apaixonado mesmo por café. Com 21 anos de idade, ele destacou que já fez cursos na área, mas não se considera um verdadeiro degustador do produto. “Eu mesmo sou um barista e não sou tomador de café, mas sei diferencias um grão de qualidade de um grão mais comercial”, atesta Tiago.

Para agradar ao público anapolino, a cafeteria investe no que é chamado de “cultura do café”. Foi preciso tempo até que a comunidade de Anápolis entendesse, por exemplo, o porquê de alguns cafés serem mais caros do que outros. Eles atendem a praticamente todos os públicos, de diversas faixas etárias, rendas e escolaridade. Empresários da cidade são vistos frequentemente no local, em verdadeiros balcões de negócios, fechando contratos e estabelecendo vínculos profissionais enquanto tomam algum “café especial”.

“Fazendo esse mix (de produtos), a Barista tem conseguido alavancar esse café gourmet na cidade”, explicou Tiago Taveira. Assim como outros proprietários de cafeterias, ele mencionou que a cada tipo de torra, o café servido muda em sabor, acidez, intensidade e até mesmo o aspecto. “Era muito difícil colocar na cabeça do anapolino, que está acostumado a tomar o cafezinho em casa, o cafezinho na rua, que o nosso café tem uma diferença do tipo de grão”, detalhou. Essa ‘onda cafezeira’ foi intensificada em Anápolis de 2016 para cá, conforme pontuou. “O pessoal está começando a valorizar o Café Gourmet por agora”, reforçou.

Notas e aromas

André Rebustini inaugurou em setembro de 2017 uma cafeteria, juntamente com sua esposa, Ludmilla Arruda Borges. A Café S/A possui na profissionalização de seus baristas um dos principais trunfos para o sucesso do negócio. Os donos e os colaboradores passaram um tempo estudando a estrutura do café, conhecendo outras cafeterias, aprendendo mais sobre design e decoração de cafeterias e ainda estudaram como é feito o plantio do produto, em lavouras do Estado de Minas Gerais.

“Quem prova, gosta muito”, garante Rebustini. Ele afirma que a comercialização dos cafés especiais “tem seus altos e baixos” e informou que um dos segredos no mercado é sempre inovar e levar novidades para os consumidores. Quando abriram a Café S/A, foram orientados por seus amigos a não levarem o negócio adiante, pois Anápolis não teria mercado consumidor para um café diferente do “cafezinho da vovó”. Eles, que se intitulam baristas “ousados”, levaram adiante o projeto e decidiram tocar a cafeteria mesmo assim. O resultado foi “muito além” do que esperavam.

Café S/A encontrou na qualificação dos seus profissionais a chave para o sucesso na cafeteria

Uma das variedades que Rebustini comercializa em seu espaço é a Bourbon Amarelo, produzido na Fazenda Bom Jardim, no Cerrado Mineiro. Este café foi recordista mundial em um leilão e sua saca de 60 quilos chegou a ser vendida a R$ 55 mil. O Café S/A comprou 250 gramas desta variedade, a R$ 250,00. Quando ao principal objetivo para Anápolis: “Eu gostaria de introduzir cada vez mais o café especial em Anápolis, para as pessoas tomarem café de verdade, ver o que é o café”. Ele ainda informou que “não gosta” de ser intitulado como “gourmet”. Prefere o termo café especial.

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