Dois crimes, quatro mortes e uma cidade inteira com medo

Novo capítulo de violência aterroriza população: três jovens foram executados em diferentes regiões; no Jundiaí jovem é morto em casa mesmo sem reagir a assalto

 Paulo Roberto Belém

De uma cidade de médio porte considerada tranquila até alguns anos, Anápolis passou a viver outra realidade, mais sangrenta. O quantitativo de homicídios e a forma em que estes crimes têm sido praticados têm chamado a atenção e provocado discussões de toda a sociedade anapolina.

Na última semana, por conta da incidência de casos na cidade, chegou a ser proposta na Câmara Municipal a criação de uma comissão para que as autoridades do município se unam e cobrem do estado ações imediatas pela redução do número de mortes violentas em Anápolis. Já não é a primeira vez que isto é proposto e realizado. O que ainda é inédito é a solução efetiva para a Segurança Pública de Anápolis.

São muitos os casos, mas dois deles se tornaram estopim da revolta por conta da crueldade. Quatro jovens foram mortos no último final de semana. No primeiro deles, o triplo homicídio de Leandro Vicente, Filipy Nunes e Rodrigo Ferreira, encontrados mortos em diferentes regiões da cidade.

O segundo caso foi o latrocínio que causou a morte de Donato Gontijo na região do Jundiaí. De acordo com informações preliminares, o rapaz foi morto mesmo sem ter sequer reagido ao assalto.

Triplo homicídio

Os três jovens mortos e deixados em diferentes pontos da cidade: um deles tinha passagem pela polícia por tráfico

O delegado Vander Coelho, responsável pela apuração do triplo homicídio, confirmou que os três jovens foram abordados juntos na casa de Filipy na noite de sexta-feira. De lá, ele acredita que, um a um, eles foram executados em locais distintos, mas todos na mesma noite.

O delegado, inclusive, consegue supor a cronologia das execuções a partir do itinerário em que os corpos foram encontrados. “O primeiro deve ter sido o Rodrigo, depois o Filipy e por último o Leandro. O que foi notado é que não houve intenção por parte dos criminosos em ocultar os cadáveres, por isso eles foram encontrados sem muita dificuldade”, explicou delegado.

Vander disse que a polícia está trabalhando para definir uma linha específica de investigação, pois muitas incertezas giram sobre o caso. “As famílias dos jovens não relataram indícios de situações que colocassem a vida deles em risco”, complementou o delegado.

Dados da polícia informam que somente Filipy tinha passagem pela polícia por tráfico de drogas. “Por conta do pouco que sabemos, é muito cedo dizer se a intenção era matar somente um deles, tendo os outros sido mortos no pacote ou se, de fato, os três eram alvo dos assassinos”, afirmou o delegado.

Latrocínio

Donato Gontijo estava em sua casa quando foi morto por assaltantes sem sequer reagir

O corpo da segunda vítima do triplo homicídio de sexta-feira mal havia sido encontrado quando no domingo, no início da manhã, outro jovem era morto. Segundo o delegado responsável pelo caso, Cleiton Lobo, criminosos adentraram em uma residência no Bairro Jundiaí na qual foram rendidos o jovem Donato Gontijo e familiares. Mesmo sem reação de qualquer um deles, Donato levou um tiro na cabeça e morreu no local. Os criminosos fugiram levando determinada quantia subtraída.

Cleiton classificou o crime como de maior gravidade porque o jovem foi morto de forma gratuita. “O Donato não tinha qualquer envolvimento com o crime, estava no aconchego do seu lar, não estando na rua submisso a imprevistos. Quem imagina que se estando em casa está sob risco”, argumentou o delegado.

Ele completou que não sabe o que de fato aconteceu para que o jovem fosse morto, se quem atirou foi por livre vontade ou por susto, mas o que é considerado é o crime, a simples intenção de matar. “Uma arma não é disparada involuntariamente. Ela só dispara se houver o acionamento do gatilho”, citou.

De qualquer forma, em casos de roubo, Cleiton reafirma que nunca se deve reagir e faz uma orientação a população. “Em casos como este, demonstre claramente que você não oferece nenhum risco ao criminoso. Que ele está no comando. É a melhor saída para que a vida seja preservada”, explicou. A Voz de Anápolis apurou que entre os familiares existe a tese de que o jovem teria sido assassinado porque conseguiu ver o rosto de um dos assaltantes.

Investigações

De acordo com os delegados, os dois casos seguem no estágio de oitivas e reunião de provas. No caso dos três jovens mortos, por exemplo, o delegado Vander Coelho aguarda que sejam anexados ao inquérito laudos cadavérico e de local para instruir os trabalhos da polícia.

“Não posso fazer nenhuma estimativa de prazo para o encerramento do inquérito, ainda mais por conta dos laudos adicionais que não dependem de mim, sem contar o acúmulo de trabalho atual”, pontou Vander.

No caso Donato, Cleiton Lobo vai ouvir o maior número de pessoas e buscar provas adicionais para identificar os criminosos. “A polícia, assim como em todos os casos, está empenhadíssima em dar a resposta à sociedade, principalmente à família do jovem”, destacou.

Para ele, casos que envolvem mortes são os mais complicados. “Ainda é muito difícil o processo investigação de mortes por conta do medo que a sociedade tem em denunciar. É um trabalho de detalhes. Assim vou trabalhar”, finalizou.

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