“Eleitor quer candidatos com propostas, mas com trabalho já realizado”, afirmam cientistas políticos

Já no cenário nacional, ausência de Lula, intervenções do Judiciário e impopularidade de Michel Temer tem poder de influenciar as características desta eleição; acompanhe a análise:

“Os estudos científicos sobre comportamento eleitoral indicam que a escolha do eleitorado rege-se por uma gama complexa de fatores, que seguem desde elementos emocionais até a apreciação detida sobre a trajetória e os detalhes dos programas de governo apresentados nos processos eleitorais”.

A explicação é do doutor em Ciência Política da Universidade Federal de Goiás, Francisco Tavares. Ele elenca esta série de fatores como um conceito geral, mas destaca o trabalho prévio do candidato, ou seja, o que ele já fez, vale mais do que ele afirma que irá fazer.

Tavares destaca um trabalho desenvolvido por A. Downs no qual atribui à avaliação do trabalho prévio dos candidatos um papel central. “Os benefícios entregues pelo governo atual são contrapostos aos benefícios esperados acaso os oposicionistas vençam. O resultado dessa conta define a escolha das pessoas”, exemplifica.

O professor de Política analisa, também, as peculiaridades das eleições proporcionais para este ano. “No âmbito das eleições proporcionais, a nova regra que trata das “sobras” da distribuição dos votos no quociente eleitoral, tendem a inibir coligações nas eleições proporcionais”, explica. Para ele, este cenário beneficia cidades de médio porte. “É um contexto em que lideranças de cidades médias, como Anápolis, podem se beneficiar”, aposta.

Quem também defende a ideia de que o eleitor usa como parâmetro a folha de serviços prestados é Reynaldo Zorzi Neto, professor de Teoria Política do Instituto Federal de Goiás. “Muitos eleitores votam no mesmo candidato em todas as eleições, por seu trabalho realizado em outros mandatos. Esses eleitores buscam segurança, não querem arriscar seu voto em outro candidato que podem não lhe satisfazer”, observa.

Zorzi acredita, também, que as mudanças de votos são naturais, mas seguem um padrão de acordo com a mentalidade do eleitor.  “Ele pode mudar de voto de uma eleição para outra, mas sempre segue o mesmo padrão. Também é um eleitor que busca uma segurança, através de uma referência de alguém conhecido na hora do voto”, ensina.

Um traço negativo destacado pelo professor do IFG – campus Anápolis é a característica das eleições quanto à compra de votos. Para ele, esta prática é “um fenômeno, que marca a nossa história”. “Não podemos nos esquecer, existe a forte presença da compra de votos, que acaba sendo um fator decisivo na hora de se escolher um candidato. Mesmo as iniciativas no sentido de se coibir este tipo de prática parecem que não vão acabar pelo menos nesse pleito”, lamenta.

 

Nacional

O cientista político Francisco Tavares analisa, ainda, o cenário nacional, marcado pela instabilidade eleitoral decorrente da forte interferência do Poder Judiciário e, ainda, o impedimento de Lula, o principal nome das pesquisas eleitorais.

Segundo Tavares, a ausência de Lula – ex-presidente que deixou o poder com elevada aprovação e lidera todas as pesquisas de intenção de voto na atualidade – confere instabilidade e imprevisibilidade ao processo eleitoral. “A sensação de que as eleições são menos importantes do que decisões singulares de juízes podem levar parcelas do eleitorado à frustração com o processo eleitoral”, alerta.

Outro fator é a impopularidade do atual presidente, além do fato de não ter sido eleito pelo voto direto a seu nome. Para Tavares, isto muda o eixo dos debates sempre baseados em processos plebiscitários. “Este cenário específico esvazia a relação entre situação e oposição, que dá o tom dos processos eleitorais nas democracias consolidadas do Ocidente e, portanto, tende a não ocorrer”, explica.

A impopularidade de Michel Temer é tamanha, analisa Francisco Tavares, que até mesmo os aliados de primeira hora, agora, tentam se afastar do presidente. “Até mesmo o partido que mais disciplinadamente apoiou as medidas de Michel Temer no Parlamento – o PSDB – tenta descolar a sua imagem do governo. Trata-se, assim, de um processo atipicamente confuso ou mesmo opaco”, finaliza o professor.

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