Elinner Rosa: “O Brasil não está pronto para um novo impeachment”

Paulo Roberto Belém e Felipe Homsi

 Elinner Rosa faz parte da leva de vereadores de primeiro mandato da Câmara. A parlamentar deixa bem claro que a sua bandeira é a Saúde, principalmente quando se fala em oncologia pediátrica. Com isso, ela avalia se a política ajuda a facilitar para que as coisas aconteçam no momento em que se prepara para apresentar um projeto relacionado à quimioterapia infantil. Por outro lado, na entrevista, ela comenta um posicionamento que foge da área da saúde, explanado na tribuna, no qual ela parabenizou as blitzen realizadas pelo Governo de Goiás em Anápolis. Em outro momento, como líder do PMDB, ela avalia o cenário nacional do governo Temer, a atuação da legenda no âmbito municipal e estadual, destacando as movimentações para as eleições de 2018.

 A Voz de Anápolis – Passado esse primeiro semestre, qual a avaliação que você faz da sua atuação na Câmara?

Elinner Rosa – Em relação a projetos, estou com alguns ainda não protocolados porque, não sei se é felizmente ou infelizmente, existem alguns processos nos bastidores que acabam dificultando essa questão. Na verdade, se você chega com um projeto em forma de ideia no Legislativo, você pode até conseguir a aprovação, mas não consegue a execução dele. Isso para mim não é interessante. Então eu tenho procurado conversar com deputados federais, tentando chegar a senadores, porque os projetos de minha autoria são, na maioria, na área da saúde. São projetos que precisam de verbas que municipalmente a gente não ia conseguir, até porque a competência da maioria deles é federal. Então eu cito a questão da quimioterapia infantil que eu tenho tentado trazer para cá, tendo em vista o tamanho do nosso município. A minha ideia é de que ao invés de haver deslocamento para outras cidades, a exemplo de Goiânia e Ribeirão Preto, o tratamento seja realizado aqui.

AVA – Essas questões dos bastidores lhe frustram de alguma forma?

ER – Na verdade, essa luta é meio que do meu pai, também. Então, há muito tempo a gente já tenta. Inclusive, uma das principais articulações para eu te entrado na política é essa. Eu, como empresária, como pessoa física ou jurídica, consigo até determinado ponto ajudar. Com a política, a gente agrega mais força. Porque não adianta, é preciso de verba.

AVA – O que começou a ser feito, então, foram conversas, reuniões. Houve conversa com o executivo anapolino?

ER – Já conversei com o Roberto [Naves, prefeito de Anápolis] e ele, inclusive, está tentando me ajudar nesse aspecto porque também é de interesse dele.

AVA – Então, esse projeto é algo para daqui algum tempo?

ER – Não sei te dar prazos. Minha expectativa, na verdade, é que saia para o ano que vem. Têm as eleições e é preciso aproveitar um pouco disso. Candidatos vão querer investir aqui, vamos tentar fazer isso porque para mim é a área mais importante. Educação é de extrema importância, a questão do emprego, mas ninguém trabalha e estuda doente. A saúde para mim é em primeiro lugar.

AVA – Na sua opinião, a política, o cargo político, é um instrumento colaborativo? É aquilo que você esperava?

ER – Que é um instrumento colaborativo, é fato. Com a politica, a gente consegue resolver mais coisas. Mas, infelizmente, é tudo muito moroso, infelizmente existem esses bastidores dos quais me referi, você meio tem que fazer trocas e eu não consigo trabalhar dessa forma e é aí que dificulta um pouco. Sou legalista, fui criada assim. Então, infelizmente isso dificulta, sim. É uma questão da política que eu não consegui gostar. Dá para as coisas serem mais rápidas e isso não é só na política. No mundo inteiro existe burocracia e esses percalços não deveriam existir. Isso me frustra.

AVA – Essa política de troca, da qual você disse que não consegue trabalhar, ou seja, não compactua. Esse sistema de troca existe, hoje, na Câmara Municipal?

ER – Não posso afirmar isso porque eu desconheço. Eu falei de forma genérica. Todos sabem que existe essa questão, sim. Não sei te afirmar se na Câmara existe. Espero que não.

AVA – Você deu uma declaração na semana passada elogiando as blitzen que têm sido realizadas na cidade e isso gerou certa repercussão. O que você quis dizer com essa declaração?

ER – Não foi o que eu quis dizer, foi o que eu disse. A comunicação foi feita da forma correta, a interpretação, talvez não. Na verdade, a blitz da qual eu me referi, é a blitz da balada responsável que tem ocorrido aí, sempre, em dias de semana, em finais de semana. O que eu quis frisar quando parabenizei a Polícia Militar foi a forma de abordagem.

AVA – Você está satisfeita com a quantidade, agora falando de todas as abordagens feitas por blitzen, não só a para coibir a embriaguez no trânsito, com a maneira com que o governo coloca isso para a população?

ER – Claro que não. No direito penal, se você manipula alguém para cair numa enrascada, para cometer um crime, esse processo é todo nulo. Porque tira-se a ideia de que o autor poderia ter uma escolha. Então, em relação às outras blitzen, tenho opinião diferente. Eles fecham todas as ruas. Você está indo para um lugar, eles fecham tudo e não tem para onde você correr. Então, não sei se essa forma é a ideal ou legal. Entretanto, não acho tão ruim. As blitzen têm que acontecer. Infelizmente brasileiro, ele não paga as contas dele. Sei que existe a questão da crise que dificulta para todo mundo, para quem recebe salário mínimo e para quem recebe vários salários mínimos. Mas são importantes. O policial tem que estar atuante, mas não só nisso, porque tem a questão só do intuito da arrecadação. Tem que ter mais policial, mais carros, a questão da segurança pública é um caos. A gente sai de casa preocupado. Então, existem várias coisas que precisam ser consertadas e não somente estar fazendo blitzen.

AVA – Qual a sua avaliação do presidente Temer?

ER – Quando a gente trata de governo, é muito complicado pegar resultados rápidos. Ele está no governo há pouco tempo e é obvio que várias coisas que estão acontecendo são resultados de governos anteriores. Eu não tenho nem competência política suficiente para estar avaliando o Temer e os resultados que a gente tem tido. Só sei que eu concordo com algumas atitudes dele, inclusive eu até o comparei com o Roberto quando ele chegou. As pessoas acabaram se assustando com a atitude de tentar arrumar algumas questões, tentando legalizar, trabalhar de forma mais correta. Isso na esfera federal deve ser muito mais difícil. Hoje é complicado eu falar o que eu acho do Temer porque estamos num ambiente de corrupção extrema.

AVA – Quando você for se posicionar, então, como você se posicionaria em relação ao governo Temer, por exemplo. Seria em apoio a ele? Defenderia ele?

 ER – Hoje eu o defenderia não por conta da questão partidária. Eu defenderia porque eu não entendo que o Brasil está pronto para um novo impeachment, por exemplo. Isso vai influenciar diretamente na economia. O Brasil não está na hora de mexer. Não sei se eu poderia afirmar que é um mal necessário. Não afirmo que seja um mal necessário. Mas um novo impeachment iria desestabilizar e piorar a crise. Então eu acho que não seja a hora. Mas a reforma política, ela tem que acontecer de inúmeros âmbitos, em muito mais do que está sendo proposto. Na verdade, estão melhorando para os políticos só, pelo o que eu tenho visto. A reforma política tem que acontecer da mesma forma que a tributária tem que acontecer. Várias reformas têm que ser feitas.

AVA – Qual tem a sido a sua participação no PMDB anapolino?

ER – Nosso partido, infelizmente, deu uma rachada grande desde a última campanha quando a direção regional nos impôs uma candidatura a vice. Então, o PMDB anapolino rachou. Quando o Eli assumiu, nossas reuniões eram vazias, tinham quatro pessoas. Isso há dois, três anos. Depois que o Eli pegou a presidência, a gente conseguiu fortalecer mais o partido. Aumentou-se a participação nas reuniões que realizávamos sempre no dia 15. Então, depois da ultima eleição, houve uma divisão, tanto que tínhamos membros do nosso partido que apoiaram o Roberto, o Pedro Canedo. Hoje, estamos tentando reestruturar com novos membros.

AVA – Há resquícios, ainda, da figura dos antigos protagonistas do PMDB anapolino na direção atual? Da família Santillo, por exemplo?

ER – Infelizmente, tem. Aonde a gente vai o pessoal comenta. “Porque na época que eram eles têm gente que gosta e gente que não gosta”. Ainda existe, mas é bem pouco.

AVA – Você acredita que Daniel Vilela vai ser o nome para as eleições para governador, de fato?

ER – Na política é muito complicado porque se caminha para um lado até no dia anterior das inscrições e no outro dia muda. Mas a tendência, hoje, é sim que o Daniel saia. Ele não tem interesse de fechar parceria com o Democratas, por exemplo

AVA – Você rejeita o Caiado?

ER – Não rejeito. Tenho muito apreço, muito respeito pelo Caiado. Faria uma campanha para ele com o coração aberto. Da mesma forma, faria para o Daniel. É difícil para mim, não falo pelo partido. Partidariamente, eu tenho que apoiar o Daniel Vilela, caso ele saia, mas isso não quer dizer que tenho problema com o Caiado.

AVA – No seu mandato, você defende o legado do seu pai?

 ER – Defendo. Não tem como eu falar que não. Até porque esse legado é meu, como filha, orgulhosa que sou pelo pai que eu tenho. Vários legados, a questão da forma de trabalhar, questão da honestidade. Não adianta. Na politica, você tem que ter jogo de cintura demais, tem que saber o que se fala e o que não se pode falar. Eu sou muito aberta, transparente. Não sei se isso vai ser bom ou ruim para mim, politicamente falando. Mas nessa questão de legado, sim. Eu trabalho na saúde porque meu pai me ensinou. Então, não tem como falar que não é um legado.

AVA – Você se considera uma vereadora da base do prefeito?

ER – Me considero, sim. Porque até hoje não recebi nenhum projeto que não seja de benefício para o município. Então nisso eu apoio e vou apoiar sempre. Agora, se chegar um projeto que eu perceba não ser bom para o município eu vou não vou apoiar, mas isso também não significa que eu não seja base. É muito mais fácil se trabalhar na base.

AVA – Então, qual a avaliação que você faz da gestão do Roberto nesse período?

ER – Eu tenho gostado muito de algumas atitudes dele, inclusive essas que eu citei, de tentar corrigir algumas questões que vinham desde sempre erradas. Como eu sou muito legalista, eu acredito que se a gente trabalhar dentro da lei, como vereadora, inclusive, a gente precisa trabalhar dentro da lei. Se a lei existe, é preciso cumprir. E o Roberto fez isso tomando atitudes nada populares, achei isso muito interessante. Acho que pecou, também, como qualquer outra pessoa, desestruturando várias secretarias que já estavam tendo andamento de uma vez.

AVA – Qual é o exemplo que você cita dessa desestruturação que deixou a secretaria parada?

ER – A questão de pagamentos de fornecedores. Deu uma atrasada geral em alguns casos. Não é nem pela falta de dinheiro, mas por questão administrativa para estar fazendo os empenhos porque tiraram muitas pessoas e colocaram outras, mas isso acontece sempre. Quando se troca uma gestão, quem não é concursado, acaba saindo. Mas eu acho que tiraram demais e daí ficou meio “bamba”, mas, agora, as coisas já estão encaminhando.

AVA – O seu próximo projeto vai ser qual?

ER – O meu é esse, o da quimioterapia infantil que já está praticamente pronto, só estou precisando ver qual será o canal dos recursos, o financiamento dele, mas já tenho ideia de alguns caminhos. Agora, outro projeto é relacionado à Santa Casa. Ainda é de desconhecimento da população, mas o antigo Colégio Carmo, hoje, está totalmente montado com 45 leitos de internação. Isso facilitaria demais, desafogaria os outros centros. Desses leitos, 25 já estão credenciados, só faltando a assinatura do convênio. Estão praticamente prontos para a gente iniciar. Então, meu interesse é lutar pelo credenciamento desses outros 20 leitos que ainda estão credenciados. Mas isso é questão federal, estadual, mas quero ver se o Roberto dá um apoio municipal porque não adianta, a Santa Casa, hoje, é uma alicerce para a saúde de Anápolis.

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