Everaldo Fiatkoski: “Acompanhamos com cuidado a Plataforma Multimodal”

Everaldo Fiatkoski assumiu a diretoria de Operações do Porto Seco Centro-Oeste – que recebe mais de 40% das importações goianas – em um momento de crise política no Brasil. Conforme indica, este cenário interfere na maneira como será feita a ampliação do sistema logístico brasileiro e, por consequência, o goiano e o anapolino. Ele garante que empresários e representantes do setor de agenciamento de cargas de Anápolis estão na expectativa de que seja feito logo o leilão para o trecho da Ferrovia Norte-Sul que vai do município até Estrela D’Oeste, o que poderá potencializar o mercado e reduzir os custos do transporte e escoamento da produção que passa por terras anapolinas. Everaldo Fiatkoski é natural de Erechim (RS) e possui formação na área de negociações internacionais, comércio exterior, logística e agenciamento de cargas. 

A Voz de Anápolis – Se você perguntar para a população, muitos não sabem o que faz o Porto Seco. Você poderia explicar e dizer qual é a sua importância para cidade?

Everaldo Fiatkoski – O Porto Seco trabalha basicamente com movimentação e armazenamento de cargas. Nós temos duas áreas, uma alfandegada, que recebe carga de exportação e importação e isso é fiscalizado pela Receita Federal e outros órgãos e depois este produto é enviado para o destino final. E trabalhamos com esta movimentação e armazenamento de cargas no mercado interno. Nesse caso, fazemos principalmente a multimodalidade, que é fazer a transferência de um veículo para outro, de um modal para outro, por exemplo da rodovia para o trem e vice-versa, permitindo custos menores de transporte. E se é necessário, fazemos o armazenamento.

AVA – Quais medidas estão sendo tomadas para aumentar o trânsito de mercadorias no Porto Seco?

EF – Nós temos um planejamento de longo prazo, mas nos preocupamos em investimentos focados no mercado para atrair estas cargas. A decisão do usuário de mandar carga para cá passa pela redução de custos. Verificamos qual modal vai mais crescer e qual será a maior demanda de cargas e fazemos investimentos para isso. Por exemplo, temos um modal de algodão que tem capacidade para receber 30 mil toneladas, um investimento milionário para receber este tipo de carga. Se a partir de amanhã não tivermos mais isto, vamos ficar com o investimento parado. Nós temos a felicidade de termos cargas com este perfil chegando e temos a perspectiva agora de safra recorde de commodities para este ano.

AVA – Como este desembaraço de mercadorias e a atuação do Porto Seco interferem na economia de Anápolis?

EF – Podemos enxergar por vários lados: a existência do Porto Seco é um instrumento para atração de novas empresas. Se uma empresa que tem o interesse de se instalar em qualquer lugar do Brasil e trabalha com importação ou com logística de cargas, vai olhar uma localidade que tem um terminal rodoferroviário e uma área alfandegada de forma diferente, porque ela vai perceber a possibilidade de diminuir custos, burocracia e aumentar a eficiência. Esse é o primeiro ponto. Uma empresa estabelecida aqui gera emprego e renda. A cidade de Anápolis e região se beneficiam com a existência do Porto Seco. Nós geramos emprego aqui, damos qualificação para os nossos funcionários, é uma equipe qualificada, especializada nas exigências.

 VA – A Ferrovia Norte-Sul foi inaugurada aqui neste espaço há aproximadamente três anos. Você entende que ela está consolidada?

EF – Existe a Ferrovia Centro-Atlântica, do século passado, quem tem uma bitola estreita, que leva a Santos, passando por vários locais, principalmente Minas Gerais, Bahia, Rio De Janeiro e Vitória (ES). Isto é investimento antigo, operado pela FCA, que é uma empresa que tem ligações com a Vale. A Norte-Sul é um investimento novo, feito pelo Governo Federal. Apesar do planejamento dele já ter sido da década de 1980, acabou sendo inaugurado apenas aproximadamente há 10 anos. A Ferrovia Norte-Sul teve o trecho de Porto Nacional até Açailândia inaugurado há bastante tempo. Houve uma licitação e a própria VLI, empresa ligada ao grupo Vale, ganhou e tem a possibilidade de operar aquele trecho, fazer investimento em vagões e locomotivas para transportar determinada carga. Este trecho que vai de Porto Nacional até Anápolis é o que foi inaugurado há três anos e não foi licitado para empresa privada fazer o investimento em vagões e locomotivas para transportar carga. Existe um terceiro trecho, que vai de Anápolis até Estrela D’Oeste, em São Paulo e ele vai permitir a interligação com a malha sudeste, que fica em São Paulo. Será um desenho interessante tanto para cargas que passam pelo sul do país quanto pelo Norte, fazendo com que facilmente chegue ao Sul.

AVA – Já existe uma parte da Ferrovia Norte-Sul que pode ser utilizada pelo Porto Seco?

EF – O que nós podemos fazer, basicamente, é movimentar a carga do caminhão para a ferrovia. Enquanto não tiver um vagão disponível e locomotiva, que é responsabilidade do operador ferroviário, nós acabamos ficando de braços cruzados. Mas isso não quer dizer que nós não fazemos nossas gestões junto a empresas que tenham o interesse em fazer o investimento em vagões e locomotivas, para que isso se desenvolva mais rápido. Já recebemos comitivas de vários países, principalmente China, Rússia, Estados Unidos, Canadá que têm sistemas ferroviários de transporte de cargas bastante desenvolvidos e existe o interesse dessas empresas desses países em operar a ferrovia. Já fizemos um levantamento preliminar sobre o tipo de carga que pode ser transportado por ela. Esse tipo de estudo, apesar de um levantamento preliminar, já foi passado para estas empresas para elas realmente sentirem o potencial e se interessarem mais por isso. Mas depende mais de uma definição do Governo Federal para colocar esta licitação em funcionamento e conceder isso para a iniciativa privada.

AVA – Então hoje não tem como escoar esta produção que passa por aqui porque não tem vagão?

EF – Exatamente. Se a empresa responsável, o operador ferroviário tivesse vagões, eu já tenho uma estrutura pronta para realmente colocar a carga dentro desses vagões e expedi-la. E, claro, a nossa preocupação é sempre balancear o investimento para que ele seja feito quando há a demanda. Não adianta nada você fazer um investimento enorme e depois não ter resultados por muito tempo.

AVA – A consolidação da Plataforma Multimodal e do Aeroporto de Cargas e seu modo de operação é um sonho do Porto Seco?

EF – Tem um grande potencial de desenvolvimento para o Porto Seco. A Plataforma Logística Multimodal tende a atrair uma grande quantidade de empresas de logística para a região e o aeroporto acaba atraindo as cargas que hoje passam por cima de Anápolis e seguem para os principais aeroportos do país, cargas cujas mercadorias são destinadas para a região, mas que tem que descer em São Paulo, no Rio de Janeiro. Com a inauguração desse aeroporto, as empresas teriam custos logísticos menores para trazer esta carga aqui para região e desta forma também conseguiriam diminuir os custos na ponta, vender mais, empregar mais, é mais rendimentos e desenvolver todo esse novo complexo.

AVA – Há uma cobrança do Porto Seco com o Estado para que estas estruturas estejam prontas?

EF – Nós acompanhamos esse desenvolvimento com muito cuidado. O Porto Seco é uma empresa pautada principalmente na boa governança corporativa, nós atuamos muito com compliance. Nós não temos essa característica de pegar informações privilegiadas para ser beneficiado por isso depois. Essa preocupação gera uma grande quantidade de barreiras para que nós tenhamos um acompanhamento mais efetivo, até por conta de possibilidades de punições posteriores.

 AVA – Alguém aqui no Porto Seco é contra a plataforma, ou a maneira como ela vem sendo conduzida?

EF – É difícil para nós dizermos, porque não existe uma definição sobre a plataforma e a forma como ela vai ser conduzida.

 AVA – Houve uma conversa entre o prefeito de Anápolis e o governador sobre a destinação da plataforma. O prefeito sinalizou que o governador vai autorizar que uma parte dessa extensa área de mais de 10 hectares seja destinada também para empresas, que não sejam da logística, efetivamente. Você tem algum conhecimento disso?

EF – Tenho e sou favorável a isso, porque é uma área muito grande, que poderia ser utilizada por empresas. E a prioridade de disponibilização da área para indústrias acaba sendo mais um fator de atração de empresas logísticas. A meu ver, inicialmente é mais importante você atrair indústrias, fazer com que elas produzam cargas aqui. Depois vão ser disputadas por empresas de logística que serão instaladas em outros locais, na própria plataforma logística multimodal, que perderia um pouco da sua ideia inicial, mas que a locação da área para empresas de logística é muito mais fácil do que para indústrias.

AVA – Qual é o volume de mercadorias que passa por aqui e representa o que no bolo estadual? Fale tanto do volume de produção quanto da arrecadação do ICMS.

EF – Nós acabamos não acompanhando a arrecadação de ICMS, feita pela Fazenda e pela Receita Federal e que tem uma administração distinta. O Porto Seco é responsável por aproximadamente 60% das importações feitas pela cidade de Anápolis e um volume variável que pode chegar entre 40 e 60% das importações do Estado de Goiás. É claro que nem toda carga tem o perfil de passar pelo Porto Seco de Anápolis. Então existe um trabalho direcionado para os tipos de produtos que tem esta vocação para entrar em áreas alfandegadas e secundárias.

AVA – Exportação também?

EF – Os volumes de exportação são muito inferiores, por conta de perfil de carga. A cidade de Anápolis tem um perfil de exportação muito voltada para a soja, grão, e um pouco de carne. Este perfil de cargas não costuma passar por áreas secundárias, que são os portos secos. A própria legislação tem alguns impedimentos que dificultam isso e esse tipo de produto vai direto para o porto molhado, onde é armazenado e embarcado em navio.

AVA – A gestão do Porto Seco passou um bom tempo sob o comando de Edson Tavares. Por que houve esta mudança?

EF – É uma transição, que acontece com toda empresa. O senhor Edson Tavares tem um histórico e desenvolveu a empresa do zero e fez com que ela se transformasse em uma referência nacional. E continua no Conselho Fiscal. Não se afastou totalmente e continuou dando suas contribuições.

 AVA – Existem hoje informações veiculadas sobre outros portos secos em outros locais. Procede esta informação?

EF – Existem vários boatos quanto à abertura de CLIAs (Centros Logísticos Integrados Aduaneiros) e outros portos secos em outros locais do estado. Portos secos são, pela legislação, áreas alfandegadas. Quando falamos de portos secos próximos de rodovias, significa que lá serão construídos terminais de cargas, e não portos secos. A diferença é que porto seco é uma área alfandegada, concessão da Receita Federal e recebe carga de outros países ou destinada para outros países para ser fiscalizada, enquanto que terminais de carga são locais que recebem carga para fazer a movimentação multimodal dela. Dessa forma conseguir melhor eficiência. Existem também notícias sobre a construção de CLIAs – Centros Logísticos Integrados Aduaneiros – no estado. É uma novidade trazida por uma medida provisória, em 2008, tendo caído, e em 2003, que também foi retirada do nosso regime jurídico. Hoje é juridicamente impossível você abrir um CLIA, a não ser que exista uma lei, uma nova MP, que permita isso. Com a crise política, a médio prazo isto é um sonho. Seria interessante se realmente fosse levado adiante da forma política, mas hoje isso é absolutamente impossível.

AVA – Estas notícias veiculadas enfraquecem o Porto Seco Centro-Oeste?

EF – Não, mas seria uma utilização de um modelo de negócios que deu certo aqui, mas que a princípio não pode ser replicado em outros lugares que estão querendo, por falta de possibilidade legal.

AVA – Cidades que disputam com Anápolis a vinda de indústrias apresentam esta demanda de criação de CLIAs?

EF – É mais uma forma de propaganda e de atrair empresas para lá, mas sem uma possibilidade de entrega. É uma propaganda que desfavorece Anápolis, mas com uma análise técnica e perceptível a inv

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