Execução: Assassinato de veterinário longe de ser solucionado

João Paulo Alarcão foi morto enquanto dirigia no início de outubro; Réu confesso, Lucas de Sousa Araújo Costa afirma que matou João Paulo “por engano” e que havia se juntado a um grupo para executar outra pessoa

Felipe Homsi

No dia 7 de outubro deste ano, a cena que pai nenhum gostaria de presenciar ocorreu nas proximidades do trevo que faz saída para Brasília e Goiânia pela Avenida JK. João Paulo Alarcão, mé-dico veterinário, estava em sua caminhonete, em companhia dos pais. De acordo com o relato do pai, Raul Americano de Alarcão, um carro cinza se aproximou, um dos integrantes saiu do veículo e começou a atirar. Ele afirma, conforme citado pela irmã de João Paulo, Yara Valéria Alarcão, que o veterinário teria acelerado o veículo após o “susto” da abordagem.

Um indivíduo começou a atirar, com uma arma ainda não identificada, atingindo o veículo e o médico veterinário com um tiro no tórax. Mesmo ferido, ele conseguiu dirigir a caminhonete até a loja Havan, enquanto seu pai tentava segurar o volante, mas não conseguiu prosseguir. Foi então que sua mãe, Maria de Fátima Santos Alarcão, portadora da Doença de Parkinson, começou a passar mal, enquanto o pai o ajudava. Uma equipe do SAMU chegou e, de acordo com Yara, tentou reanimar João Paulo por 40 minutos, sem êxito.

Yara Alarcão, irmã de João Paulo, reforça a tese de que seu irmão foi vítima de latrocínio

Todas estas informações relatadas foram repassadas por Yara, que tem acompanhado de perto o caso. Na segunda-feira, 9 de outubro, Lucas de Sousa Araújo Costa foi preso, após ser abordado pela polícia nas proximidades do Distrito Agroindustrial de Anápolis, quando confessou ter matado João Paulo Alarcão, dois dias antes. Ele estava em companhia de Hans Henrique Rodrigues em um Siena Prata, a mesma cor de carro relatada pelo pai de João Paulo.

Lucas de Sousa Araújo teria percebido a presença dos policiais e saiu do local, momento em que a viatura da Companhia de Policiamento Especializado teria começado a acompanhar o veículo até a conclusão da abordagem, na Avenida Brasil Sul. Naquele local, ele, mesmo antes da abordagem, confessou o crime de assassinato, conforme relatou Yara Alarcão, irmã da vítima. Foi realizada a conferência da placa e chassi do veículo em que o suspeito estava. O Siena, de placa NLP-0756, havia sido roubado em Aparecida de Goiânia; a placa original era JIB-4363.

Ele e Hans Henrique Rodrigues, que estava em sua companhia no veículo, foram levados para a Central de Flagrantes da Polícia Civil, onde foram autuados pelo crime de receptação. Com a confissão, Lucas de Sousa se tornou o principal suspeito de ter assassinado João Paulo no sábado. Em seu depoimento, ele afirmou à polícia que havia sido contratado para executar uma outra pessoa, mas que teria matado João Paulo “por engano”. Conforme afirmou, ele se confundiu e matou o médico veterinário.

Contradições

A família e a Polícia Civil discordam da versão de Lucas e acreditam que ele esteja tentando atenuar sua pena. O crime de latrocínio – roubo seguido de morte – é considerado menos grave que o homicídio. O delegado Cleiton Lobo de Araújo, do Grupo de Investigação de Homicídios, está responsável pelo caso. Conforme pontuou, as características do ocorrido são de um latrocínio. O valor da caminhonete em que João Paulo estava faz com que este item tenha valor no ‘mercado do roubo’.

Delegado Cleiton Lobo acredita que o réu confesso, Lucas de Sousa, use argumento de execução para diminuir sua pena

Uma caminhonete Amarok é vendida por aproximadamente R$ 5 mil para o mandante do crime. Um outro fato que diminui a possibilidade de que uma execução tenha ocorrido é a informação de que João Paulo não possuía passagens pela polícia. Além disso, nas execuções, os tiros são certeiros, o que não ocorreu no assassinato do médico veterinário. “Tudo nos leva a crer que foi latrocínio”, reforça. Conforme pontuou, em geral, um assaltante “não aceita a reação da vítima”. A família defende que tenha sido um “susto”, não uma reação.

Lucas de Sousa não passou informações sobre a arma do crime e sobre outros envolvidos. Até agora, apenas ele e Hans prestaram depoimento. Este último disse que não estava no local do crime, mas, conforme a irmã de João Paulo, Yara Alarcão, ele sabe “detalhes” do que ocorreu.

Revolta

A família está perplexa e revoltada com tudo o que ocorreu. Yara cita que, já baleado, ele exclamou para sua mãe: “Mãe, eu fui baleado, mãe eu vou morrer”. “João não fugiu, meu pai acha que foi no susto”, diz, contradizendo a suspeita da polícia, de que a vítima teria reagido ao suposto assalto.

Ela cita que, no depoimento de Lucas, ele afirma que pratica delitos aos finais de semana. A Voz de Anápolis teve acesso ao texto da oitiva realizada no dia 10 de outubro: “aproveita os dias de sábado e domingo para ficar perambulando pelo Bairro Munir Calixto, local onde procura companheiros para fazer algumas fitas (cometer delitos) e ganhar dinheiro”. Esta informação, de acordo com Yara, reforça a tese de que a morte de seu irmão foi resultado de um latrocínio, e não de homicídio por execução.

A maior confirmação, porém, vem do reconhecimento que seu pai, Raul Americano de Alarcão, fez de Lucas, o principal suspeito do assassinato de João Paulo. “Meu pai foi muito específico, desde o primeiro segundo”, destacou. “Meu pai sabia exatamente que era ele”, acrescentou. Conforme relatou, Lucas, em seu depoimento afirma que “só arrependeu porque matou a pessoa errada”, mas as evidências provam o contrário. João Paulo deixou um filho de oito meses, João Lucca Alarcão, e sua esposa, Schauana Munique Farinha Pereira de Alarcão.

 

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