Fábio Vilela: “Reduzimos o índice de diversos crimes, mas os homicídios continuam altos”

Felipe Homsi e Paulo Roberto Belém

Titular da Regional da Polícia Civil, Fábio Vilela vê com otimismo a conclusão próxima do novo presídio municipal e afirmou que estão “bem adiantadas” as discussões para transferência da Central de Flagrantes para outro local. Vilela afirma ainda que houve diminuição da criminalidade em Anápolis, mas que “os homicídios não têm acompanhado essa redução”. Temas polêmicos ainda foram abordados, como a legalização da maconha e a unificação das polícias para um combate mais efetivo ao crime. Sobre este último assunto, ele passou a bola para a sociedade sobre como proceder: “A sociedade civil não sabe de fato o que ela quer, quando quer e de que forma quer. Então, nesse ponto, a Polícia Civil não pode esperar”.

A Voz de Anápolis – O senhor está há quase um ano à frente da 3ª Delegacia Regional de Polícia Civil que inclui Anápolis e outras cidades. Como o senhor avalia este período?

Fábio Vilela – De forma positiva. Nós avançamos muito a partir do momento que começamos a desenvolver, por determinação da Secretaria de Segurança Pública, o Pacto Social Goiás Pela Vida. Nele, as principais ocorrências foram tipificadas, a exemplo dos roubos, furtos, roubos a veículos, homicídios, entre outros. Tivemos reduções consideráveis em alguns tipos de crime, mas reconhecemos que os homicídios não têm acompanhado essa redução. Estamos trabalhando para dar resposta para a população. Nessa linha, atuamos fortalecimento da especializada de homicídios. Uma das mudanças foi a alteração do horário de funcionamento das 13 às 20 horas, que agora faz com que os casos tenham mais atenção. Também estou solicitando mais corpo operacional para os finais de semana.

AVA – Uma das suas expectativas para 2017 era sobre retirar a central de flagrantes do centro da cidade e também sobre a entrada em funcionamento tanto do Presídio quanto do Centro de Reinserção de jovens. Em fevereiro, como estão estes processos?

FV – Bem adiantados. Tive várias reuniões, especialmente para tratar da entrega do Presídio e a inauguração está caminhando para que ocorra em breve. Sobre o Centro de Reinserção, está sendo licitada a questão de equipamentos para posterior seleção de pessoal. Estou ansioso quanto a isso. Agora, sobre a retirada da Central de Flagrantes e a destinação de um novo espaço para dispor veículos apreendidos, há uma conversa também bastante adiantada entre Prefeitura e Estado para dar providência a estas questões. Inclusive, no pacote, está sendo discutida a questão da revisão do banco de horas dos servidores da Polícia Civil para dar o suporte devido à cidade.

AVA – Mesmo com a entrega do novo presídio, o antigo complexo prisional vai continuar funcionando?

FV – Acredito que sim. Só não se sabe, ainda, qual a denominação que o espaço receberá após que o novo presídio for entregue. Talvez seja um local para presos provisórios da nossa região.

AVA – Numa oportunidade em que entrevistamos o delegado Manoel Vanderic, ele afirmou que a Polícia Civil caminha para a extinção, dada a sua precariedade. Qual a sua análise dessa afirmação?

FV – É uma questão interessante de se discutir. Ainda mais quando todo o país observa a crise do estado do Espírito Santo. O que está acontecendo lá? As pessoas reavaliaram o papel da polícia. E nesse contexto coloco a atuação de todas as polícias. Esse tipo de afirmação ocorre porque, às vezes, aquilo que o estado tem a oferecer não é o que a população quer na questão de atendimento. Ou muitas vezes o que o estado tem a dar para a sociedade não é o que a sociedade queria. Então a gente fica nesse meio de campo no qual a incompatibilidade ou a ilegitimidade do estado faz com que o cidadão não enxergue na Polícia Civil a sua verdadeira função. Vê a Polícia Civil como mais uma força policial. Por isso as grandes conversas de “ah, vamos fazer do policiamento do país um policiamento único”. Talvez por isso venha essa ideia. Porque vê da Polícia Civil só mais uma extensão da Militar, ou vê a militar só como mais uma extensão da civil, uma extensão do Exército. Agora, se a gente tivesse uma sociedade plenamente evoluída, aonde a Polícia Civil funcionasse como esse link de conduta, de comunicação entre a sociedade civil organizada e o estado, se ela funcionasse de fato como uma agência de investigação somente para investigar casos graves e não questões corriqueiras do dia a dia, e que hoje acaba sendo assoberbado, porque é o que incha a máquina, a gente vai perceber que esse tipo de pensamento vai surgir o tempo inteiro.

AVA – A unificação das polícias seria uma solução?

FV – Não estou falando que isto não seja uma solução. Estou falando o seguinte: é isso que a gente quer? É isso que a sociedade precisa? Tem que saber primeiro o que a gente precisa. Em julho de 2013, as pessoas foram às ruas para pedir uma polícia judiciária mais forte, pensam até que somente a Polícia Federal é uma polícia judiciária, quando, na verdade, a Polícia Civil também é uma polícia judiciária. A diferença está somente no objeto. Daí todo mundo perguntou: e agora, agora vai? É agora que a polícia judiciária vai tomar o corpo que ela precisa tomar? É agora que teremos autonomia judiciária? Será que se tornarão a força policial do século 21? Naquele momento o apelo social era este. Agora você já vê que é outro.

Então, a nossa sociedade civil é ainda muito imatura. E o estado é um reflexo da sociedade civil. A sociedade civil não sabe o que de fato o que ela quer, quando ela quer e de que forma ela quer. Então, nesse ponto, a Polícia Civil, ela não pode esperar. Como instituição, a tendência dela é evoluir. Então todo o nosso aprendizado do passado está fazendo com que a Polícia Civil tome rumo. Que tenha um planejamento, que tenha uma visão de mundo e algo a seguir. Aí você vê: a maioria das nossas operações são especializadas. Policiamento ostensivo não olha e não escolhe se vai atender agora um roubo a residência ou se vai atender um homicídio. Não! A ocorrência chega e ele tem que ir.

Essa questão de especialidades é típica do policiamento investigativo, do policiamento repressivo, que é o papel da Polícia Civil e o da Polícia Federal. A polícia judiciária vai ser cada vez mais compartimentada em especialidades, mas em especialidades obviamente que vão criar uma rede, uma teia, aonde vai haver uma troca de informações que vão permitir uma atuação conjunta. A tendência é especializar-se cada vez mais.

 

AVA – O senhor falou que os crimes são pulverizados e que até poderiam ser reduzidos. O senhor compartilha o pensamento de que, por exemplo, a legalização da maconha, reduziria a cadeia de crimes que ela engloba?

FV – Nenhum estudo foi feito neste sentido aqui no Brasil. A gente não tem uma análise científica criteriosa sobre quais seriam os efeitos da regularização do uso de alguns entorpecentes considerados menos danosos pela Medicina, ou por algumas sociedades no exterior, para a gente saber o que isso iria ocasionar no Brasil. É a mesma coisa da jogatina. Por exemplo, o Uruguai, o Uruguai é um país pequeno, com uma população pequena, que achou interessante legalizar jogos e o uso da maconha. Agora, será que isso iria funcionar no Brasil? Seria interessante, pela proximidade entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul, ter uma equipe da Polícia Federal e da Justiça Federal do Sul para poder fazer este tipo de trabalho. Será que seria interessante ir verificar isso in loco? Eu acho que seria interessante. Mas, enquanto não houver uma análise criteriosa, científica, eu sou contra fazer uma revolução e do dia para a noite você começar a legalizar lança-perfume, legalizar a maconha, sem saber no que isso vai dar.

AVA – A falta de um tomador de decisão na Segurança de Goiás, visto que José Eliton deixou a Secretaria interfere no trabalho de fazer uma ação efetiva?

FV – Eu acredito que não vai ter (uma descontinuidade), independentemente de quem vai assumir. Primeiro, que eu acredito que esse programa que o vice-governador implementou está acima da pasta. Ele é um programa de cunho de segurança, social e educacional. Para mim, a visão do ex-secretário, do vice-governador, quando implementou esse projeto, foi uma visão de primeiro mundo, que não pode morrer. Por isso mesmo, eu acho que vai ter continuidade, independentemente de quem vai assumir a pasta.

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