Grupo preso em Goiás por fraudar vestibulares de Medicina orientava candidatos: “vai com três calcinhas”

Quem presta vestibular recebe diversas orientações, relacionadas a como estudar, maneiras de se alimentar, modo de se portar na hora da prova e até mesmo práticas de exercícios físicos e mentais que podem auxiliar na hora da prova.

Mas uma quadrilha presa hoje em Anápolis por fraudar vestibulares de Medicina possuía uma maneira inusitada de orientar pessoas que pagavam de R$ 80 a 120 mil para obter as respostas das provas, durante a realização das provas.

Em um vídeo gravado pela Polícia Civil, um dos membros da quadrilha, Fernando Batista Pereira, orienta uma agente da Polícia Civil disfarçada de estudante sobre como se vestir para a prova e guardar o celular para onde seriam enviadas as respostas da prova pela quadrilha:  “Vai com três calcinhas, bota duas apertadas e a terceira, de preferência, sabe aquelas tipo de pano, que tem tipo uma espuminha por dentro? Usa ela para ela apertar mais e ficar macio. Vai dar tudo certo, se Deus quiser”, explicou.

Apenas nos últimos seis meses, o negócio fraudulento movimentou R$ 5 milhões, em 11 processos seletivos, nos quais 110 vestibulandos participaram. Do total de participantes neste período, 52 foram aprovados e já estão matriculados. Outros 15 aguardam o período de matrículas, que começa no dia 10 de julho, segunda-feira.

A fraude no vestibular era vendida aos candidatos como crime perfeito. Para se ter uma ideia, os candidatos, que recebiam um celular simples pela quadrilha para onde os gabaritos eram enviados, pagavam o montante à quadrilha apenas quando se matriculavam nas instituições de ensino superior. E esta vida do crime era bem lucrativa, de acordo com o delegado responsável pelo caso, Cleyton Januário Ferreira.

“Devido a esse montante, eles levavam uma vida de luxo. Um dos integrantes chegou a comprar um apartamento no valor de R$ 1 milhão”, citou. Os candidatos se inscreviam em vestibulares de Medicina de Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal.

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As investigações remontam a setembro de 2016, quando o reitor da Universidade de Rio Verde denunciou a fraude. Em um dos casos, uma estudante pergunta a um membro da quadrilha como funcionaria o esquema, e ele responde: “Tenho por gabarito no celular, R$ 80 mil, e direta por R$ 120 mil.

Fernando Batista Pereira, integrante do grupo, foi pego em uma gravação da Polícia Civil comprando dez celulares em um camelódromo. O que causou admiração foi o profissionalismo da prática criminosa. Fernando indicou ter o controle da situação e até orientou a agente da Polícia Civil disfarçada de vestibulanda, caso houvesse uma eventualidade.

“A gente tem advogado, a gente tem tudo. Se der algum problema, não entra em pânico e fala assim: ‘alguém vai me ajudar’. Eu vou ajudar. Eu tenho os melhores advogados”, explicou à agente, sem saber que se tratava de uma autoridade policial.

Em um dos vestibulares em que a fraude ocorreu, policiais se disfarçaram de fiscais de prova e seguiram o rastro do estudante Mateus Ovídio Siqueira, que respondeu todas as questões em 30 minutos e foi ao banheiro repassar por mensagem de celular as respostas a candidatos que participavam do esquema.

Mateus Ovídio tinha R$ 50 mil provenientes da fraude guardados em casa. Fernando, Mateus e ainda o chefe do grupo, o empresário Rogério Cardoso de Matos, foram presos. Na casa de Rogério, foram encontrados documentos e um carro de luxo. Os outros dois presos na operação não tiveram seus nomes divulgados.

Quatro estão foragidos. Com o grupo, foram encontrados R$ 150 mil. A fraude, de acordo com alguns membros do grupo, estaria sendo praticada há mais de dez anos.

“A investigação será compartilhada com as universidades que, certamente, vão iniciar um processo administrativo para expulsar os alunos, além dos crimes que irão responder na justiça”, destaca o delegado Cleyton.

Os advogados de Fernando Batista e Rogério Cardoso não comentaram o caso e disseram ainda não ter informações suficientes sobre o caso para dar esclarecimentos. Por meio do seu advogado, Mateus Ovídio negou as acusações. A Polícia Civil emitiu recomendação às universidades para que reforcem a fiscalização durante seus processos seletivos.

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