Mercado Municipal: Comerciantes reclamam de projeto de revitalização: “Não fomos ouvidos”

Proposta inclui diversas adequações estruturais aprovadas, mas principalmente, modifica as bancas e as posições de cada um dos comerciantes: muitos deles estão no mesmo local há mais de 30 anos e não querem ser “reposicionados”

Felipe Homsi

Ano após ano, discussões sobre a necessidade de adequação do Mercado Municipal a padrões de segurança e a revitalização daquele espaço vêm à tona. E neste ano, uma verba foi disponibilizada por meio de emenda parlamentar do deputado federal Alexandre Baldy, atual ministro das cidades. A Prefeitura utilizou um projeto pronto para o local e inseriu nas metas para conseguir emendas a fim de viabilizar a obra.

No entanto, a bronca dos comerciantes – alguns deles estão lá há mais de meio século – não é quanto à reforma estrutural, ou seja, melhoria do sistema elétrico e hidráulico, entre outros. Mas sim, quanto ao remanejamento das bancas, dividindo-os por setor.

A Prefeitura se justifica de maneira curiosa: afirma que está mantendo o diálogo com os comerciantes para avaliar qual é a melhor maneira de empreender a obra e disse que em momento algum cogita retirar os trabalhadores do Mercadão.

A previsão é de ao menos quatro meses para concluir a restruturação do local. Vários permissionários ouvidos pela reportagem de A Voz de Anápolis disseram que não são contra o projeto, desde que haja garantias de que não serão retirados do seu local de trabalho.

Medo

João Gonçalves de Sá, 43, trabalha há 18 anos no Mercado Municipal onde mantém uma banca de produtos naturais. Ele é um dos representantes dos permissionários que atuam na defesa dos comerciantes. Ele alega que nem ele e nem os colegas foram ouvidos. Para João, a reforma é “bem vinda”, mas deve ser democrática e “viável” para todas as partes. O medo de perder o “pão de cada dia” é claro em suas palavras.

“A gente acordou e o deputado Alexandre Baldy chegou aqui com o prefeito já com o projeto pronto. A gente não foi nem ouvido”, lamenta. “E se a gente não aceitar, vão reformar de qualquer jeito?”, indaga. Para ele, o processo começou de maneira errada e apenas o lado da Prefeitura permaneceu até o momento.

Para João Gonçalves, reforma é “bem vinda”, mas quer que feirantes sejam ouvidos

“A gente não foi ouvido no começo, vai ser ouvido depois?”, continua questionando. João ainda se queixa da atual administração: “na realidade, os prefeitos anteriores que estiveram aqui, todos nos ajudaram, nos apoiaram, todas as reformas foram feitas no Mercado Municipal com a participação dos locatários”.

57 anos

Francisco de Assis Barbosa tem 80 anos de vida, 57 dos quais passados no mercado, onde tem uma loja de roupas, redes e demais acessórios. Chegou ao local por volta de 1960, quase 10 anos depois da inauguração do Mercadão. “Eu sou a favor da reforma”, inicia, mas logo emenda uma ressalva: “Vai me tirar daqui?”, questiona. Ele é um dos que também reclama pela falta de diálogo, ou seja, a ausência da participação dos comerciantes na elaboração do projeto para mexer no Mercado Municipal.

Francisco de Assis está há quase 60 anos no mercado; “vai me tirar daqui”, questiona

“Tem gente aqui que vende de manhã para comer de noite. Como é que vai fazer?”, revela, preocupado com seus companheiros de Mercado Municipal que estão sem saber as consequências das mudanças. Ele sabe da importância do local, por ser um “ponto estratégico” de Anápolis, mas sabe também que entre 1500 a 2000 pessoas dependem das vendas dos feirantes que ali se instalaram. Ele afirmou que não foi informado previamente da intenção de reformar o mercado, apenas recebeu a “notícia da verba”.

Costume

Regina Alves de Souza Cassimiro tem uma banca do lado de fora do Mercado Municipal, na rua 14 de julho. Há seis anos e meio começou a trabalhar no local. Seu receio é que tenha que abrir mão do seu espaço, mesmo que seja levada para dentro do mercado.

“Tem clientes que já conhecem a gente do nosso trabalho aqui”, explica. Para ela, as vendas devem diminuir. Alguns de seus clientes já se acostumaram com a posição da banca e podem não se adequar ao novo local a ser escolhido. “A única coisa que eu não concordo é tirar as pessoas que estão trabalhando”, conclui.

Regina Alves não quer ser retirada da Avenida 14 de julho, pois entende que perderia vendas

Secretário admite remanejamento de bancas: “também não tem como agradar todo mundo”

O secretário interino de Desenvolvimento Econômico, Glayson Reis, informou que os comerciantes estão sendo ouvidos pela Pasta. “Esse projeto está sendo discutido com os permissionários. Nós só vamos ter uma ideia definitiva do projeto depois que a gente fizer toda uma discussão com os permissionários, depois que a gente fizer também uma consulta com os usuários do mercado”, afirmou.

Ele informou que será feita uma reformulação total do mercado, mas serão mantidas as características históricas do prédio. No entanto, Reis admite que alguns, de fato, serão retirados da Avenida 14 de julho e levados para dentro do mercado. “A revitalização do mercado passa pela revitalização do entorno do mercado, da regularização dos ambulantes”, pontua.

Alguns itens serão mantidos, como o madeiramento, considerado patrimônio histórico. Um ponto cultural também está previsto pelo projeto da Prefeitura. Os espaços entre as bancas serão ampliados. “Não é só para conforto não, é uma questão de necessidade”, diz, referindo-se à Segurança. A intenção da Prefeitura é reposicionar e padronizar as bancas.

Um dos objetivos é legalizar, levar funcionalidade e dar um melhor atendimento à comunidade, ainda que alguns se sintam insatisfeitos. “Não tem como nós agradarmos a todo mundo”, avalia Glayson Reis. De acordo ainda com responsáveis pelo projeto municipal para o Mercadão, o projeto ainda está sendo avaliado pelo prefeito Roberto Naves e deverá passar por alterações.

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