Mortalidade em Anápolis é menor que médias nacional e estadual

Apesar dos números indicarem uma diminuição do índice, profissionais do município entendem que ainda são necessárias medidas para combater a morte de crianças que ainda não completaram um ano de vida

Felipe Homsi

A realidade das famílias que perderam crianças antes destas completarem um ano de vida, em muitas vezes, passa pela desnutrição, infecção por doenças graves, más condições sanitárias, falta de acesso aos meios de saúde educação e pode atingir núcleos familiares de todas as classes sociais.

Recentes avanços tecnológicos e até mesmo as mudanças na maneira como os entes públicos em Anápolis têm lidado com a conscientização e preparo dos seus profissionais para lidarem com crianças daquele perfil em risco fazem com que os índices apresentem redução na cidade, conforme relatório apresentado pela Secretaria Municipal de Saúde, por meio do Núcleo de Vigilância Epidemiológica, tendo como base dados disponibilizados pelo Ministério.

Desde o ano de 2012, a Taxa de Mortalidade Infantil (TMI), que apresenta o número de óbitos a cada mil nascidos vivos, vem diminuindo em Anápolis, tendo permanecido praticamente estável de 2015 para 2016.

O relatório apresentado pelo núcleo detalhou que em 2012, eram 15,03 óbitos infantis na cidade para cada mil nascidos vivos. O número era maior do que o apresentado pelo Estado de Goiás (14,40), a região Centro-Oeste (14,20) e o Brasil (12,74). E nos anos de 2015 e 2016, as taxas diminuíram ao ponto de Anápolis ficar abaixo das médias do país, estado e da região.

Números

No ano passado, a mortalidade infantil do município ficou em 11,61 para cada mil nascidos vivos, com uma diferença de quase quatro pontos percentuais em relação a 2012. O Brasil apresentou taxa de 15,12/mil, Goiás teve naquele ano 12,74/mil e a região Centro-Oeste ficou com coeficiente de 13,14/mil.

“Os valores atuais identificados (para Anápolis), mesmo à primeira vista elevados, revelam queda gradual, sugerindo melhorias na assistência prestada à mãe e ao recém-nascido, oferta de serviços e facilidade no acesso e até mesmo nas condições socioeconômicas que afetam direta e indiretamente a mãe no processo de cuidados durante a gestação, ao longo dos anos analisados”, afirmou em nota o Núcleo de Epidemiologia.

A redução da Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) seria, conforme indica a nota, resultado de melhorias também no pré-natal, no momento do parto e a assistência adequada no nascimento da criança. Fica explicito que, “caso haja falhas nesse processo, a diminuição da TMI poderá ser lenificada, necessitando de melhorias na assistência prestada”.

Realidade

O médico pediatra Afonso Henrique Teixeira Magalhães Issa atua na urgência pediátrica da Santa Casa de Misericórdia e tem como um de seus focos evitar as mortes de crianças, a chamada “Morbimortalidade infantil”.

Para Afonso Issa, médico pediatra, redução da mortalidade infantil passa pelo fortalecimento da Estratégia de Saúde da Família

“É evidente que um maior acesso a serviços de saúde, com ampliação de unidades de atendimento, por exemplo os CAIS Abadia e Progresso e a UPA que atendem crianças, além da existência de uma unidade hospitalar que atende SUS, como a Santa Casa, aumentam a segurança no atendimento às crianças que ficarem doentes”, explica.

Para ele, com a presença de médicos especialistas em Medicina de Família nas unidades básicas de saúde, o “impacto ainda maior” é possível. O quadro se torna ainda mais positivo, explica, pelo fato de Anápolis possuir o maior programa de residência em Medicina de Família e Comunidade (MFC) no Estado de Goiás.

“Porém, mais importante do que a essencial descentralização do atendimento de crianças, colocando-as para ser atendidas por médicos de família especialistas em MFC nos postos de saúde, é a força do que chamamos de determinantes sociais de saúde”, continua.

O médico pediatra Afonso Henrique Teixeira Magalhães Issa cita que “o fato de Anápolis ser um município economicamente forte, com ampla oferta de empregos, além de políticas sociais que garantam uma renda mínima (Bolsa Família), além de ampla rede educacional (com inúmeras Universidades e qualificada educação básica) forma um cenário que favorece o acesso das pessoas à informação e a condições de vida que garantem a sobrevivência de nossas crianças”.

Contraponto

A presença em Anápolis do Banco de Leite, com ações para o aleitamento adequado, estaria no rol das ações que estão garantindo a melhoria da Taxa de Mortalidade Infantil, de acordo com o médico pediatra Afonso. Além destes fatores, ele cita a ampla cobertura de vacinas. “No entanto não podemos nos conformar com este índice, pois ainda morrem muitas crianças”, contrapõe-se o médico.

Conforme indicou, é preciso aumentar “efetivamente” a cobertura Estratégia Saúde da Família, com a substituição dos médicos chamados “não especialista” em Atenção Primária por Médicos de Família e Comunidade especializados. “Além disto, o atendimento de crianças não pode ser centralizado em UPA, CAIS, Santa Casa e Centro de Referência em Pediatria. A Criança deve ser atendida, primeiro, no posto de saúde, com um especialista em MFC”, enfatiza.

Caso implementadas, estas mudanças resolveriam boa parte da relação médico-paciente e melhorariam o atendimento das crianças. Ele ainda acredita que algumas medidas contribuiriam ainda mais para diminuir a mortalidade infantil, como aumento da escolaridade materna, melhorias no saneamento básico e ainda o aumento do número de leitos de UTI Neonatal e Pediátrica da cidade.

Fatores de risco para a mortalidade infantil

  1. Prematuridade – Previne-se com bom pré-natal feito primeiramente pelo Médico de Família especialista na Unidade Básica de Saúde, que encaminha para os Obstetras as gestações de mais alto risco
  2. Pneumonia – Pode ser diagnosticada e tratada na Unidade Básica de Saúde por Médico de Família especialista em MFC. Se tratada precocemente, não requer internação

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