Parado, Parque da Jaiara é o monumento ao desleixo

Considerado pronto até dezembro de 2016, espaço que já era usado pela população da região agora torna-se um imbróglio para a gestão Roberto Naves que alega ter de fazer uma canalização para concluir obra, 8 meses depois

 Henrique Morgantini (com Paulo R. Belém)

Um aniversário sem presente. Assim pode ser resumida a celebração da Semana da Jaiara, que aconteceu no mês passado, comemorando o avanço social e econômico daquela região que hoje compreende dezenas de setores que são classificados como a Grande Jaiara. Mais do que faltar um presente por parte da gestão municipal sob o comando de Roberto Naves, que chegou de mãos abanando na festa que contou com desfile cívico e queima de fogos, ficou para a população daquela área a sensação de que há um grande presente que poderia ter sido entregue, mas não foi: o Parque da Jaiara.

O parque da Jaiara, a exemplo dos outros construídos, visa a preservar a nascente do Córrego Reboleira e também oferece espaço de contemplação e lazer

Para quem esperava um grande embrulho com uma fita vermelha, no porte de um parque, ficou um prêmio de consolação, bem mais tímido: o anúncio por parte do prefeito da liberação de R$ 120 mil para a Sociedade São Vicente de Paulo. Junto a isto, só mesmo o desfile, um almoço no Restaurante Popular já existente e a realização de uma etapa da Corrida de Rua.

Localizado no final da Avenida Fernando Costa, a obra foi lançada e tocada pela gestão anterior e deixada praticamente pronta, segundo os próprios frequentadores relatam, para ser entregue após a realização de alguns detalhes. Mas este dia – até o momento – jamais chegou. Antes mesmo de sua finalização, a pista já era utilizada diariamente pelos vizinhos do espaço e pelos demais moradores que perceberam as vantagens de ter um parque ambiental, a exemplo de outros três já existentes, que reunisse preservação ambiental e espaço de contemplação e lazer.

Responsabilidade

O secretário de Obras da cidade, Vinicius Sousa, esquiva-se da responsabilidade pela obra. Ele informou que o Parque da Jaiara ainda é de responsabilidade da Paviart – empresa responsável pela obra. “Como ela (a empresa) ainda não finalizou o parque, estamos esperando essa providência”, citou.

A preocupação da Secretaria é dar início às obras de infraestrutura da região da Fernando Costa, que incluem a instalação das galerias que prometem acabar com o problema de inundação do espaço em dias de chuvas intensas. No início do mês, a licitação estava finalizada e homologada. Agora, segundo o secretário, está em fase de assinatura do contrato na Procuradoria Geral do Município. Questionado sobre quando essas obras terão início, o secretário é otimista. “Espero que ainda hoje (24 de agosto) o contrato seja assinado para dar ordem de serviço”, disse, complementando que espera entregar essas obras de infraestrutura até o fim do ano.

Sobre a entrega do Parque da Jaiara, ele voltou a alegar que a empresa responsável pelo empreendimento, Paviart, ainda não finalizou a obra e retirou de si e da sua Secretaria qualquer responsabilidade sobre eventuais atrasos.

Versão

Durante três dias consecutivos, informações sobre a obra do Parque da Jaiara foram buscadas junto a Paviart, mas o responsável a dar esclarecimentos não foi encontrado e sequer atendeu as inúmeras ligações para falar sobre o assunto. Em março, a Voz de Anápolis publicou outra reportagem sobre o assunto na qual o diretor-proprietário da empresa, Gustavo Campos, alegou que só não havia terminado a obra por conta dos problemas de alagamentos causados pelas chuvas no interior do parque pela falta de galerias pluviais na região.

“Não consigo entregar o parque porque choveu, estragou. Só vou conseguir entregar na seca”, enfatizou o diretor à época, mencionando que desde o mês de setembro de 2016 aguardava por estas obras de infraestrutura. O período de seca está, inclusive, prestes a encerrar seu ciclo.

À época também, o diretor-presidente da Paviart garantiu que mesmo que estas obras fossem iniciadas ou não, entregaria o parque assim que o período das chuvas cessasse, o que ele estimava acontecer no mês de abriu passado, entretanto, assim não aconteceu, ao que indica a informação do secretário de Obras.

“Recurso está garantido: é só tocar a obra”, garante ex-secretário que iniciou projeto

Segundo o engenheiro Leonardo Viana, ex-secretário de Obras e servidor da Prefeitura, recursos na ordem de mais R$ 4 milhões foram liberados pela Caixa para que estas obras de infraestrutura sejam, de fato, realizadas. “Desde o ano passado trabalhamos por estes recursos. Como eles foram liberados e a licitação realizada, resta, agora, começar estas obras”, disse.

Viana complementou que estes recursos foram solicitados ainda no ano passado, mas que as obras não foram iniciadas pelo somatório de duas situações: a antecipação das chuvas e os próprios trâmites burocráticos pela efetiva liberação dos recursos àquela época. “Não era possível fazer essas intervenções com tempo chuvoso. Além disso, os recursos foram liberados recentemente”, observou.

Mesmo com a informação da necessidade da realização destas obras de infraestrutura, Leonardo Viana disse que estas intervenções nunca foram fator impeditivo para o término do parque. Segundo ele, estas obras vão beneficiar muito mais a região do que propriamente o parque. “Cheguei a orientar a empresa à época que era secretário sobre soluções que ela poderia realizar para conter os alagamentos, mas que não foram acatadas”, disse.

Enquete

Quem mora na região da Jaiara não se importa muito com a questão do que se tem que fazer de obras de infraestrutura ou não. Encontrados em dezenas no espaço do parque ainda não inaugurado, cada um aproveita o espaço à sua maneira, mas destacam-se os praticantes das caminhadas diárias. Alguns deles foram abordados e questionados o porquê de se aproveitar o parque, mesmo não tendo sido entregue, de fato.

Aparecida Peixoto

“Acompanhei a evolução das obras e pensei que seria entregue rápido, tanto que estou frequentando aqui, mas nada de ser inaugurado. O parque pra região é uma coisa muito boa. Aqui era lugar abandonado, servia só pra se jogar lixo, mas tem que terminar o que falta e inaugurar de verdade. Eu não entendo muito de obra que tem que fazer na região. O que eu entendo é que o parque é importante para a região”.

 

Cláudio José da Silva

“Como você pode ver, meu comércio fica bem em frente ao Parque da Jaiara. Todo dia é isso, a gente vê que tem muita gente aproveitando o espaço, mas fico triste porque tem coisas ainda a serem arrumada no parque em si. Mas enquanto isso não ocorre, o que está pronto está se perdendo. Ninguém arruma mais, está uma zona. Manutenção não tem. Sem contar a falta iluminação. A melhor coisa para a região da Jaiara seria a inauguração desse parque”.

 Geralda Crispim

“Aproveito o parque, mesmo não estando inaugurado, há quase um ano. O prejuízo é que quando chove estraga tudo aqui. Tem que arrumar isso logo para a gente aproveitar o ano inteiro, não somente em tempo seco. Eu vou ficar feliz e todo mundo que vem aqui todos os dias vai ficar também”.

 Jordeir Martins

“A inauguração do parque é o que falta para a Jaiara, atualmente. Com certeza, aqui é um espaço de lazer que a gente utiliza, tanto de manhã, tanto à tarde para fazer uma caminhada. Isso é muito importante para a população. Sei que tem problema de inundação, mas a Prefeitura tem que resolver o quanto antes. E não só isso, mas como a estrutura de banheiro de iluminação e outras coisas. Ah, segurança é zero, mas quando o parque for inaugurado, acho que essas coisas vêm junto”.

 Lucia Vânia Gonçalves

“É muito gratificante. O Parque da Jaiara é uma extensão de casa. Eu conheço bem o histórico do lugar e já presenciei situações constrangedoras. Aqui era local de roubo, de despejo de entulhos e de outras coisas mais incomodantes. Após ser inaugurado, vai trazer para a região norte um novo espaço de convívio. Por outro lado, sempre me preocupei com a infraestrutura complementar que deveria ter vindo em conjunto, a exemplo da segurança, sinalização de trânsito e esse problema das inundações”.

 Maria Cândida de Oliveira

“Eu e meu neto estamos vindo aqui pela primeira vez. Eu moro na parte alta da Jaiara, mas busquei meu neto para aproveitar aqui. Está bom nesse tempo de seca, mas banheiro não tem, não tem bebedouro, nem alguém no quiosque vendendo água. Por isso não da para ficar muito tempo aqui. Depois que arrumarem essas coisas e inaugurarem o parque, acredito que vai ficar bem melhor para a gente voltar. Mas tem que ter vigilância, viu.”

 Olímpio Fonseca

“Minha rotina é vir aqui e fazer minhas caminhadas todos os dias. Há quase um ano, quando delimitaram a pista de caminhada, o pessoal já aproveitava. Mas eu percebo que até a quantidade de pessoas está diminuindo porque ainda não conseguiram terminar o banheiro, instalar os bebedouros e também não estão cuidando do que está pronto. Tenho medo que se perca tudo, mas a gente tem esperança para que seja consertado tudo o que precisa e que o parque seja inaugurado”.

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