Professores da Rede Municipal param Anápolis contra a política educacional da gestão Naves

Com 90% de adesão das instituições, professores manifestam e sindicato anuncia estado de alerta contínuo na educação: mais de mil servidores promoveram caminhada pelas ruas do centro na última quinta-feira, 19, contra as medidas que o prefeito Roberto Naves vem adotando

Paulo Roberto Belém

Ao invés das salas de aula, as ruas. No lugar de materiais didáticos, objetos para chamar a atenção, destacando-se apitos, faixas e cartazes. Estes foram o principal local e as principais ferramentas utilizadas pelos professores da rede municipal de ensino na última quinta-feira, 19, denominado como o Dia “D” da Educação em Anápolis. O que era para um dia letivo normal como todos os outros, se tornou na maior manifestação realizada pelo Sindicato dos Professores da Rede Municipal de Ensino – o Sinpma – nos últimos anos, mas que também atraiu auxiliares de educação e outros servidores que prestam serviços nas escolas.

Mais de mil servidores foram os manifestantes. Eles deixaram as instituições de ensino municipais e conveniadas espalhadas por toda a cidade e concentraram-se na sede do executivo municipal, na Praça do Ancião, mais precisamente na porta do gabinete municipal. De acordo com o levantamento da organização do protesto, 84 instituições estiveram representadas o que equivale a 90% de toda a rede, distribuídas em escolas municipais e creches, municipais ou conveniadas.

Servidores se concentram pelo Dia “D” da Educação

 Concentração

Às 7 horas já havia movimentação de servidores no ponto de encontro marcado para o ato. Enquanto mais deles se aglomeravam e se organizavam, os motivos da manifestação já eram notados. Em uma das rodas de conversa, Kelly Silva, que leciona em duas escolas considerou o ato como o “dia da diferença”. “Estamos aqui para nos defender. Este prefeito não tem palavra. Ano passado ele garantiu que iria assegurar todos os direitos dos servidores e agora ele está perseguindo a educação”, definiu.

Professora em duas escolas, Kelly Silva lamenta falta de palavra do prefeito

Perto dali, em outra roda, outra professora. Luzinete Maria de Melo que trabalha em uma creche do município. Ela reclama que a preocupação atual dos professores é diária. “A cada dia é uma novidade que só vem para nos prejudicar. A educação tem sido tratada com muito descaso”, comparou. Ela pontuou que os professores estão inseguros à medida que direitos conquistados estão ameaçados. “É triste e lamentável essa situação”, destacou, emendando: “O que é uma sociedade sem educação”, questionou.

“A cada dia é uma novidade que só vem para nos prejudicar”, dispara Luzinete Maria que leciona em um Cmei

Os manifestantes levaram um caixão para simbolizar a “morte” do Estatuto da Educação, promovida pela gestão municipal com a retirada de direitos e salários

Discursos

A todo instante, discursos eram alternados e intensificados. Cláudia Feitosa, que além de ser professora da rede municipal, também leciona na rede estadual, fez um alerta. “A educação municipal não pode tomar os rumos da estadual de onde foi retirada a titularidade dos professores. A nossa preocupação é essa política de corte de direitos ser aplicada aqui, também, além de outras medidas danosas à classe da educação”, ponderou.

Professora das redes municipal e estadual, Cláudia Feitosa avalia que educação de Anápolis não pode tomar os rumos da estadual

O vereador Antônio Gomide (PT), único vereador presente na manifestação considerou que o protesto é a oportunidade que os servidores têm em garantir os direitos conquistados nos últimos 30 anos na educação. “Nós não podemos perder esses direitos. Toda a categoria depende da mobilização e da organização de vocês para que as leis não recuem. Precisamos evitar o desmonte da educação”, exclamou aos presentes.

O vereador Antônio Gomide, que já havia mobilizado na Câmara a participação de todos, se juntou aos professores e foi chamado para discursar no evento: “nenhum direito a menos”

Caminhada

Um dos atos deliberados na manifestação foi a saída em caminhada pelas ruas do centro da cidade para chamar a atenção da população sobre o ato. Na dianteira, segurando uma das faixas do protesto, estava Luciana Patrícia Lima. “Esse movimento é importante porque estão querendo tirar os nossos direitos. É um prejuízo. Um prefeito que mal entrou na gestão já quer acabar com os direitos que estão garantidos em estatuto”, citou.

Para a professora Luciana Patrícia Lima, prefeito mal entrou e já quer acabar com os direitos dos professores

Enquanto os manifestantes caminhavam, gritos de ordem chamavam a atenção. Entre os principais: “Professor na rua. Prefeito, a culpa a sua”. Quem ajudava o coro era a também professora Maria Auxiliadora de Oliveira. “Estou aqui caminho, gritando e segurando faixa para chamar a atenção da população por esse desmonte que estão querendo fazer com a gente”, afirmou.

Empunhando faixa, a professora Maria Auxiliadora chama a atenção para o que ela considera como “desmonte da educação”

Apoio

Populares que estavam nas ruas acompanharam a movimentação das calçadas. Na Praça Bom Jesus, um dos locais percorridos, estava a dona de casa Cláudia da Silva. Ela disse que se surpreendeu com a quantidade de professores nas ruas e afirmou e que não imaginava que eles estariam insatisfeitos. “Eu entendo que qualquer medida que possa afetar o professor é um prejuízo para a sociedade. Eles estão certos em reclamar”, destacou.

Da calçada, dona de casa Cláudia Silva apoia os professores: “Eles estão certos de reclamar”

Outras pessoas acenaram para os manifestantes enquanto o trajeto era percorrido. Quase no final do percurso, Helenita Maria era outra professora estava empunhava faixas. “Estou de licença, em processo de aposentadoria, mas considero importante estar porque precisamos lutar pelos nossos direitos”, disse. Helenita lembrou que os professores viveram anos de tranquilidade, mas que agora estão com medo. “É preciso lutar pelo futuro da classe”, pontuou.

Professora Helenita disse estar perto de aposentar, mas que é preciso lutar pelo futuro da classe

“Na semana dos professores, não tivemos nada para comemorar”, lamenta sindicalista

A caminhada encerrou no seu ponto de início: a porta do gabinete municipal. Não era o fim do Dia “D” pela Educação, mas a presidente do Sinpma, Márcia Abdala, já comemorava a mobilização dos professores. “Somos uma categoria muito unida. Tivemos três momentos de paralisação neste ano e a nossa categoria sempre deu resposta”, considerou.

“Na semana dos professores, nada para comemorar”, define a presidente do Sinpma, Márcia Abdala

Sobre esta manifestação específica, a sindicalista foi enfática. “Na semana dos professores, nós não temos nada para comemorar e sim para protestar”, sugeriu, apontando os principais motivos que fizeram os professores parar nesse dia. “Contra o aumento da alíquota de repasse para o Issa, contra o corte gratificações, a favor do pagamento da titularidade e das progressões que não estão sendo cumpridas”, definiu.

Após insistência, prefeito recebe sindicato, tenta contornar situação, mas “estado de alerta” continua, diz sindicalista

Ainda na concentração da manifestação, Márcia Abdala apontou ser importante realizar a caminhada até o horário limite das 11 horas porque, segundo ela, o prefeito Roberto Naves receberia o sindicato para tratar das demandas do movimento. Mas ainda durante o percurso da caminhada, a sindicalista já deu o aviso. “A assessoria do prefeito acabou de nos ligar desmarcando a reunião”, anunciou, causando revolta nos servidores.

De volta à Prefeitura, os manifestantes voltaram a ficar concentrados em frente ao gabinete municipal enquanto membros do sindicato tentavam remarcar a reunião para o mais tardar da quinta-feira. Foi somente à noite, às 19 horas, que o prefeito recebeu o sindicato. Nesta reunião, o prefeito tentou contornar a situação, mas nenhuma novidade, de fato. O que houve foi somente o adiamento da discussão para esta semana. “Estamos em estado de alerta contínuo. Nenhum direito a menos”, destacou a sindicalista.

Pauta de Reivindicações da Educação

  • Cumprimento na íntegra da Lei Complementar 211/2009 – Estatuto e Plano de Carreira do Magistério Público Municipal
  • Progressão horizontal e vertical
  • Manutenção da alíquota de contribuição de 11% do ISSA
  • Retorno da gratificação dos AEE e dos Readaptados
  • Data-Base: reposição salarial no mês de janeiro de acordo com o piso salarial nacional
  • Regulamentação da jornada de trabalho
  • Dedicação Exclusiva
  • Concurso Público

 

 

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