Suspensão do Bolsa Atleta frustra jovens e causa abandono do esporte

Instituído por lei, bolsas remuneradas ainda não foram aplicadas em 2017 e já começam a causar impacto negativo na vida de atletas: prejuízo para quem não tem condições financeiras para manter a vida desportiva

Paulo Roberto Belém

Os irmãos Diego e Murilo, de 12 e 14 anos respectivamente, estão acostumados a correr atrás de resultados. Esta é a principal característica do esporte praticado por eles, o Atletismo. Mas, além disso, agora, eles contam que estão tendo que correr atrás de outro objetivo, que está fora das ruas e pistas: o de driblar as dificuldades para continuar praticando a modalidade.

A queixa é por conta interrupção do auxílio financeiro que a Prefeitura concedia, até o ano passado, a atletas que apresentassem melhor rendimento em diversas modalidades esportivas e que atendessem os requisitos do Bolsa Atleta. Instituído pela lei municipal 3.601 em 2011 e alteradas pelas leis municipais 3.612/12, 3.682/13 e 3.810/15, o programa concedia incentivos que variavam entre R$ 200 a R$ 500 com vistas à manutenção pessoal mínima aos atletas na busca de rendimentos.

O pai dos atletas, Luciano Alves, disse que Diego recebeu por três anos consecutivos um valor R$ 200 que era usado na manutenção da vida desportiva do garoto. “Custeava alimentação, uniformes, tênis, inscrição e deslocamento para as competições. Ajudava bastante”, afirma ele, que esperava que o seu filho maior, Murilo, pudesse se inscrever no programa em 2017. “Foi uma frustação”, definiu o pai.

Dificuldade

Agora, Alves diz que está fazendo uma verdadeira manobra para fazer com que seus filhos permaneçam no esporte. “Não penso em tirá-los porque é o que eles gostam de fazer. E nesse tempo de violência, os seus filhos estarem focados em atividades saudáveis é o melhor que existe”, destaca.

Preocupado, Luciano foi à procura da Secretaria de Esportes para verificar o que houve com o programa, mas que recebeu uma notícia nada agradável. “Fui um monte de vezes e eles me disseram que esse ano não teria porque o prefeito cortou gastos. Não deram nenhuma expectativa”, afirma.

Notícia que entristece os menores. Apesar de ser o mais novo, o mais experiente, Diego, lista os vários campeonatos que praticou com o auxílio da bolsa. “Competi pelos jogos Abertos, da Primavera, pelo Goiano, Estudantis e tinha estrutura para isso”, disse. Já Murilo, que foi incentivado pelo irmão mais novo a começar a praticar a modalidade, resume a atual agenda de competições. “Só estamos correndo pelo Circuito de Corrida de Rua porque é em Anápolis e é de graça”, contou.

Resposta

Questionada sobre o andamento de algum programa específico para a concessão de bolsas para esportistas em Anápolis, a Prefeitura respondeu, em nota, que o município conta com dois tipos de bolsa: Programa Municipal de Apoio à Prática do Esporte e Bolsa de Iniciação Esportiva e Bolsa Atleta. Mas isso é somente na teoria porque nenhum atleta está recebendo incentivo financeiro, de fato.

A nota limitou a quantificar o número de bolsas especificadas na lei do Bolsa Atleta, mas que não sendo cumpridas. Se estivesse valendo, de fato, em 2017, somente o Bolsa Atleta poderia estar atendendo 49 esportistas em 17 modalidades distintas, entre elas, o atletismo, basquete, ciclismo, futsal, handebol e natação que apresentam a maior possibilidade de bolsas que poderiam ser ofertadas.

Ex-beneficiário do programa vê prejuízo para as gerações futuras

O jovem Pedro Henrique Martins de 18 anos também recebeu o incentivo do Bolsa Atleta por três anos consecutivos na modalidade basquete. Por ser um atleta de maior rendimento à época, percebia o valor de R$ 500 mensais. Ele conta que a interrupção do programa foi um dos motivos que fez ele e outros amigos a dar uma pausa no esporte. “A bolsa era uma forma de nos prender dedicados ao basquete. Sem o investimento, não teríamos condições”, disse ele.

Conheço muita gente mais nova que parou por não ter incentivo, diz Pedro Martins, 18, que recebeu a bolsa: “Era uma forma de nos prender no esporte”, completa

Hoje, o jovem que trabalha e estuda diz que lamenta mais o fato da interrupção causar prejuízo nos atletas menores. “Conheço muita gente muito mais nova que parou por não ter mais o incentivo”, pontuou. O jovem também destaca a outra perda recente que o esporte de Anápolis teve. “Antes foram as escolinhas que eram mantidas pelos convênios e mais tarde o incentivo financeiro dos atletas. Hoje, quem não tem condições, não pratica esporte em Anápolis”, arremata.

Notícias Relacionadas