A Retomada do Brasil

Henrique Morgantini

A fúria do povo não é pacífica. E, atentem a isto: nem para ser.

Mas, ao contrário do que se possa maldosamente pregar, o movimento de uma massa de pessoas em ruas e avenidas, tomando parques, praças e monumentos, como visto ontem pelo Brasil e em Anápolis, não é uma força destrutiva. Ela não pega em armas para matar, não destrói por prazer, não visa o aniquilamento ou a devastação. A força do povo reside no sublime interesse de preservar, renovar, reconstruir, retomar.

E o que foi visto ontem nada mais é do que o povo brasileiro pedindo – minto – anunciando a sua passagem em nome da retomada da ordem política e social da Nação. O povo foi bovinamente conduzido por muitos séculos e bastante recentemente descobriu que simplesmente pode. O Povo Pode. Pode ter dignidade, pode sonhar, pode mudar de vida, pode reivindicar por direitos que lhe são arrancadas como se os tempos ainda fossem aqueles, passados.

Michel Temer e todo o aparato do Passado Retrógrado que o apoia, que na verdade nada mais é do que uma ala da política que vem sendo derrotada nas urnas nos últimos 20 anos, tomou o poder e achou por bem implantar no Brasil o ano de 1977 ou, quem sabe, 1987. Quis que a população de 2017 acreditasse que voltamos no tempo para os sombrios episódios em que homens engravatados decidiam pela vida da população e tudo o que tinha a se fazer era aceitar.

E, agora, o povo está tomando o caminho de volta e anunciando a sua reconquista.

Está anunciando que quem estiver na frente será consumido pela História.

Quem estiver na frente do que separa o povo dos seus direitos, das suas conquistas, de seus anseios, sofrerá a resistências nas ruas.

Os últimos anos no Brasil foram marcados pela estratégia da criminalização do movimento popular: ser trabalhador sindicalizado, ter posição ideologicamente popular ou ser de algum movimento social foi posto como um potencial inimigo. E, de fato, eles são: os inimigos de quem quis e ainda quer tomar o poder pelas vias incertas e obscuras.

Tudo o que não passa pelo voto é ilegítimo numa Nação.

A grande e mais recente descoberta, logo após esta de que o povo pode fazer mudanças é a de que o Povo Quer. O povo quer mudanças, quer seus direitos de volta, o povo quer rechaçar o recrudescimento do estilo de vida, das condições de trabalho e de aposentadoria. O povo foi às ruas mostrando que – como na letra do Chico – “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”.

Os canalhas e os velhos – seja em idade ou também pensamento – sempre irão reclamar, desmerecer, irão xingar. E assim foi ontem. Os patrões, empregadores, os donos do dinheiro, sempre vão tentar minar este tipo de reivindicação. Afinal, o que o povo pode querer mais além do que já tem: um emprego. O conceito do emprego como favor é um tumor histórico no Brasil.

Mas a voz de quem quis e fez História falou mais alto que os xingamentos e a sabotagem de quem em silêncio comemora as novas relações de trabalho que estão prestes a serem impostas pelo Governo. Um Governo que pretende sacrificar o empregado para dar mais “liberdade de negociação” nas relações. Entenda por “relações” a vontade do contratante em impor suas condições à margem das leis trabalhistas.

Quem está por cima não se preocupa com quem está por baixo, exceto por uma só relação: que eles continuem embaixo. E há canalhas em todos os lugares: nas emissoras de rádio, na internet, nos jornais, na fila do banco, no comércio, dentro da família, na igreja… por onde for é possível encontrar alguém resmungando que a manifestação o está atrasando a chegar em casa, ao trabalho, à igreja, ao vizinho.

É preciso calar a voz dos canalhas com a força da renovação e da retomada do país. O Brasil precisa voltar a ser dos brasileiros e não de feudos políticos que nas décadas de 1980 e 1990 herdaram o poder dos militares e fizeram uma democracia de mentirinha. O Brasil dos brasileiros é escolhido nas urnas, não em votações combinadas e teatro de julgamentos. O Brasil dos brasileiros legisla para a maioria, não para pequenos poderosos que manipulam como marionetes integrantes do parlamento, seja ele municipal, estadual ou federal.

E os brasileiros descobriram que é possível atender à maioria pobre sem quebrar o país, ao contrário da mentira que vem sendo contada por quem – é preciso repetir – já foi tocada do poder pelas urnas e, agora, voltou pela porta dos fundos.

O povo nas ruas é um alerta a quem ontem ao invés de ir às ruas, se encastelou com medo da reação das massas. Em especial aos integrantes do universo político que em Anápolis, e em diversas cidades, ao invés de ganhar as massas nas manifestações e se unir ao povo de peito aberto preferiu se esconder atrás de uma mesa, sob o ar condicionado.

Mais importante do que saber quem esteve nas ruas ontem, atenção redobrada, principalmente, a quem não esteve com o povo ontem.

São estes os agentes do retrocesso. São estes os personagens que se disfarçam de povo para tomar direitos, derrubar conquistas e devolver a vida bovina à população.

Em especial, é preciso destacar o nome dos representantes goianos que, na última quarta-feira (26), votaram pela aprovação da reforma trabalhista.

Vejam se Alexandre Baldy (PTN), Célio Silveira (PSDB), Daniel Vilela (PMDB), Fábio Souza (PSDB), Giuseppe Vecci (PSDB), Heuler Cruvinel (PSB), Jovair Arantes (PTB), Lucas Virgílio (SD), Madga Mofato (PR), Marcos Abrão (PPS), Pedro Chaves (PMDB), Roberto Balestra (PP) e Thiago Peixoto (PSD) estiveram nas ruas abraçados com o povo.

O escastelamento deles, bem como de seus representantes políticos em Anápolis, é o sinal fácil para se saber de qual lado da História do Brasil deve-se estar.

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