Reação Popular

Antônio Gomide

Em meio a um momento de tantas crises, é possível ainda ao brasileiro mostrar o seu valor cívico e, sobretudo, sua força como parte-integrante de um todo. O agravamento da crise política, econômica e social como desdobramento do impeachment ocorrido em julho passado é a grande herança que ficou amarga a todos, mas principalmente àqueles que foram convencidos de que a troca de um presidente através de uma manobra política seria uma solução positiva à nação.

Com este novo cenário, as reformas impopulares propostas por Michel Temer a fim de atender a grupos políticos e empresariais para retribuir ao apoio recebido para que fosse alçado ao poder esbarram em uma clara ausência de representatividade. Um governo que vira as costas ao povo e em conluio, se preocupa com o bem estar de parlamentares e seu poder de voto.

A reivindicação principal é que não houve qualquer diálogo que sustentasse as reformas Previdenciária e Trabalhista, como estão sendo postas e votadas a toque de caixa. No entanto, é fundamental compreender que a ausência de diálogo vem de outro – e mais grave – problema: a incapacidade dos grupos políticos ora dominantes em manter o diálogo com a sociedade e com seus segmentos organizados.

Não eleitos e, muitos deles, rechaçados reiteradas vezes através do processo eleitoral: são representantes legítimos do que já foi vencido. E, agora, veem-se diante do oposto: promover mudanças na vida do cidadão. Estão escolhendo como os brasileiros devem viver mesmo não tendo legitimidade para ter este tipo de poder.

E é neste momento que a reação popular se torna necessária: uma arma que se levanta do seio da sociedade, das organizações de defesa dos interesses coletivos. A convocação para a greve geral, ocorrida no último sábado (28) é uma demonstração de força e resistência.

Quem esperava passividade encontrou a força popular de um povo que há muito já venceu o perfil bovino de acatar decisões de castas sobre a sua própria vida. O levante popular contra as mudanças nefastas no regime de trabalho e na aposentadoria do brasileiro representa o primeiro sinal de uma reação que teve a sua hora certa para ser construída e, agora, começa a ganhar as ruas.

A partir do caos de um golpe é possível que o Brasil atinja um novo patamar como sociedade e se reconheça como a única força habilitada e capaz de promover mudanças. Fica clara a lição de que é preciso legitimidade popular, que somente é conquistada através do voto do povo brasileiro.

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